Sem citar nominalmente a Americanas, o presidente do Itaú Unibanco, Milton Maluhy, disse que o banco vê o caso da companhia como isolado, e que até agora, após fazer uma “peneira” na carteira, não encontrou outro caso semelhante. Ele disse ainda que o caso se trata de “fraude”, o que não era esperado diante do perfil da companhia.
“A nossa visão é de que se trata de um caso isolado”, afirmou ele em coletiva de imprensa. “Do que apuramos, não encontramos outro caso semelhante. É um caso isolado, uma fraude. Temos que acompanhar os desdobramentos.”
Ainda de acordo com ele, o banco não restringiu a concessão de crédito a outras companhias em função deste evento. Ele afirmou que diante da materialidade do caso e das incertezas a ele relacionadas, o banco achou prudente rebaixar a nota de crédito para o nível “H”, que indica perda total do crédito. “Qualquer recuperação ao longo do tempo terá impacto positivo no balanço.”
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Maluhy destacou que o caso foi surpreendente. “Estamos falando de uma companhia aberta, com balanço auditado, controladores relevantes. Fraude não era algo esperado”, disse ele.
O executivo pontuou ainda que o risco sacado, operação que está no centro do rombo contábil que levou a Americanas à recuperação judicial, é um produto comum no Brasil e no mundo. “Olhando as empresas que fazem o risco sacado, não vemos uma fragilidade”, comentou.
Conversas com o governo
Maluhy disse também, na entrevista para comentar os resultados do banco, que as primeiras conversas com a equipe econômica do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, têm sido positivas, bem como as sinalizações de Haddad na frente fiscal. Ele afirmou ainda que a meta de inflação precisa ser definida o quanto antes - mesmo que permaneça a mesma.
“As nossas conversas com a equipe econômica foram muito positivas, com uma escuta ativa”, disse ele, durante coletiva de imprensa para comentar os resultados do banco no quarto trimestre, divulgados ontem.
Segundo o executivo, o pacote fiscal de Haddad também trouxe sinalizações positivas. A equipe do ministro pretende reduzir o déficit das contas do governo previsto para este ano através de elevações de receita, principalmente através da reversão de desonerações.
Maluhy disse que a definição mais urgente é sobre as metas de inflação, que têm sido criticadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele destacou que sem essa definição, há uma desancoragem de expectativas que por si só, eleva a inflação futura.
O presidente do Itaú também destacou que o mercado, tanto interno quanto externo, tem expectativas pelo novo arcabouço fiscal. “Este para mim será o ponto de observação mais importante nos próximos meses”, afirmou ele, citando os impactos dessa discussão inclusive sobre a janela para emissão de ações no mercado local.
O executivo minimizou os ruídos sobre as visões econômicas no governo. “Num país democrático, é normal que existam visões diferentes sobre economia”, comentou ele. O executivo disse ainda que voltou do Fórum Econômico Mundial, em Davos, com uma visão mais positiva sobre a economia global do que quando embarcou.
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