SÃO PAULO E NOVA YORK - O Itaú Unibanco, maior banco da América Latina em ativos, está em conversas preliminares para vender sua operação na Argentina ao Banco Macro, o que deve marcar a sua saída do país. O negócio foi revelado pela imprensa local e confirmado nesta terça-feira, 6.
Apesar de ter uma história de aquisições, o Itaú deu prioridade às operações da América Latina no Chile e na Colômbia, por meio da compra do Corpbanca, mas não evoluiu na mesma proporção na Argentina. Seu banco no país representa menos de 1% do lucro do conglomerado, de R$ 8,4 bilhões no primeiro trimestre.
A confirmação das negociações com o Itaú deu impulso às ações do Banco Macro, listado na Argentina e nos Estados Unidos, com alta de mais de 10% no pregão desta terça. A instituição é um dos principais bancos privados no país vizinho. Procurado, o Itaú não se pronunciou.
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O Itaú desembarcou na Argentina em 1998, com a compra do Banco Del Buen Ayre. Passou a então operar com o nome Itaú Buen Ayre e, posteriormente, Itaú Argentina. A filial tinha cerca de 1,5 mil funcionários em março, e 71 agências, estrutura menor que as vistas no Chile, onde o conglomerado contava 5,2 mil funcionários, e na Colômbia, onde tinha 2,3 mil.
Na carteira de crédito, a unidade era a menor, com R$ 9,6 bilhões em operações e crescimento de 7,9% em um ano, abaixo da média do conglomerado.
Os bancos argentinos têm sido desafiados pela constante disparada da inflação no país vizinho, que pesa sobretudo na qualidade do crédito. Esse fator tem sido apontado por analistas como um problema inclusive para o potencial comprador do Itaú Argentina.
“Os resultados do Banco Macro foram sequencialmente mais fracos e continuaram a ser afetados pelos altos patamares de inflação, uma condição que não parece ter solução no curto prazo”, disse o BTG Pactual, em maio.
Esse ambiente fez com que o lucro do Macro caísse 20% no primeiro trimestre, para 9,7 bilhões de pesos (o equivalente a R$ 195 milhões). Apesar disso, o banco continuava bem capitalizado, com excesso de liquidez próximo a 42% no começo deste ano — nos bancos brasileiros, ele fica na casa dos 10%. Em uma economia inflacionária, a instituição prefere manter recursos em títulos do governo argentino, mais seguros que os empréstimos.
Menor apetite
O movimento do Itaú na Argentina é oposto ao feito no Chile, em que o conglomerado quer comprar todas as ações em circulação do Corpbanca, ou seja, se tornar o único proprietário. A operação chilena é a maior do Itaú fora do Brasil, e está no centro das atenções do banco na América Latina após uma virada operacional, tocada, em grande parte, pelo atual presidente do conglomerado, Milton Maluhy.
Segundo fontes, não há relação entre as duas operações. No Chile, o Itaú vive um dilema de curto prazo na tesouraria: “comprado” em inflação, o banco teve de anotar perdas nos títulos atrelados à alta de preços nos últimos trimestres. “Quando a inflação vem muito abaixo do esperado, há um efeito, não só no Itaú Chile”, disse Maluhy a analistas em maio.
O Itaú faz proteção cambial da posição de capital nos bancos que controla no exterior, e no último ano, esse conservadorismo pesou nos números. O banco estima perder R$ 500 milhões por trimestre na tesouraria graças à política de hedge.
Em solo argentino, o Itaú tem presença bem mais tímida que no Brasil. É apenas o 18º maior banco em volume de ativos, se considerados os dados de janeiro do BC da Argentina. O Macro é o quinto maior, e com os ativos do banco brasileiro, se distanciaria do espanhol BBVA, que é o sexto colocado, e se aproximaria do Santander Rio, o quarto maior. O líder de mercado é o estatal Banco de la Nación Argentina.
Diante das recorrentes crises na Argentina, o apetite dos brasileiros pelo setor bancário local minguou nos últimos anos. Antes do Itaú, o Banco do Brasil fez algumas tentativas de se desfazer de sua fatia no argentino Patagônia. Mas, justamente por conta do cenário macroeconômico local, o valor pelo ativo não agradou, o que acabou inviabilizando sua venda.
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