O Itaú Unibanco registrou no primeiro trimestre de 2023 lucro líquido gerencial de R$ 8,435 bilhões, de acordo com balanço divulgado nesta segunda-feira, 8. Pela primeira vez, o valor obtido pela instituição é maior do que os lucros do Bradesco (R$ 4,3 bilhões) e do Santander (R$ 2,1 bilhões) somados.
O resultado também é 14,6% superior ao observado pelo Itaú no mesmo intervalo de 2022 e representa um crescimento de 10% em relação ao quarto trimestre do ano passado.
Em relação ao mesmo período do ano passado, o banco observou um crescimento das margens e também das receitas com serviços e do resultado de seguros. Esses fatores ajudaram a compensar um aumento de 30% no custo de crédito, que chegou a R$ 9,088 bilhões, diante do cenário mais arriscado em especial no segmento de varejo, que atende a pessoas físicas e a empresas de menor porte.
No comparativo trimestral, o crescimento veio principalmente da normalização das provisões contra calotes. No balanço do quarto trimestre de 2022, o Itaú havia separado R$ 1,3 bilhão adicionais para cobrir toda a exposição à Americanas, que entrou em recuperação judicial em janeiro.
Em nota, o presidente do banco, Milton Maluhy, avalia que os números do balanço refletem a transformação cultural e digital do banco, centrada nos clientes e na agilidade. “Nosso desempenho no primeiro trimestre reflete a trajetória de consistência e solidez que vem sendo construída nos últimos anos”, disse.
Já o diretor financeiro, Alexsandro Broedel, diz que o Itaú tem tido boa gestão tanto na qualidade dos ativos quanto nas despesas, o que fez com que o banco atingisse o melhor índice de eficiência de sua história, de 39,8%. “A estabilidade do índice de inadimplência acima de 90 dias se manteve em 2,9%, em uma carteira de crédito de R$ 1,2 trilhão, demonstrando a nossa qualidade na gestão de riscos.”
Ativos em alta
O Itaú encerrou o primeiro trimestre do ano com R$ 2,547 trilhões em ativos totais, ainda de acordo com o balanço, uma alta de 16,7% em um ano, e de 3,1% em um trimestre. Em um ano, os ativos cresceram graças à compra de participação adicional na XP, em abril de 2022, e à contabilização do ágio da compra da corretora Ideal.
O patrimônio líquido do maior banco da América Latina era de R$ 164,932 bilhões, número 14,2% maior que um ano antes, e 2,5% superior ao observado em dezembro de 2022. O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) do Itaú foi de 20,7%, alta 0,3 ponto porcentual em um ano, e de 1,4 ponto em um trimestre.
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Crédito
Ao comentar sobre o desempenho da carteira de crédito do Itaú Unibanco no primeiro trimestre, Broedel destacou que a desaceleração observada no começo do ano era esperada. Ele destacou que, nas grandes empresas, o Itaú tem buscado desconcentração de riscos nos últimos nove anos. “Desde 2014, temos reduzido a exposição a setores mais voláteis”, afirmou ele em coletiva de imprensa para comentar os resultados.
O período não foi escolhido ao acaso: a partir de 2015, com a Operação Lava Jato e a crise econômica no Brasil, grandes empresas entraram em crise e pediram recuperação judicial, gerando a necessidade de bilhões em provisões por parte dos bancos. De 2014 a março deste ano, a concentração da carteira de grandes empresas em setores de alta volatilidade passou de 36% para 17%. Segundo Broedel, esses setores mais voláteis incluem os de commodities, em que os ciclos de preço são mais curtos e também mais atrelados à atividade econômica.
O executivo disse também que o banco manterá atenção nos indicadores de eficiência neste ano, para os quais inclusive há uma projeção nos metas divulgadas no começo de 2023. No trimestre, o índice de eficiência do Itaú foi o melhor da história, abaixo de 40%. “Não queremos só reduzir riscos, queremos ser mais eficientes”, disse. “Eficiência não é só reduzir custos, é fazer com que processos sejam mais ágeis.”
Segundo Broedel, processos mais rápidos ajudam na satisfação dos clientes, diante do fato de que os produtos e soluções chegam mais rapidamente. Broedel afirmou que os custos relacionados ao negócio principal do banco caíram 6% no primeiro trimestre, o que indica a eficiência da estratégia.
Mudança no varejo
Desde o ano passado o banco tem tido maior retorno no segmento de atacado, no qual contabiliza o atendimento a grandes empresas, atividades de banco de investimento e gestão de recursos e os resultados das operações em outros países da América Latina. O varejo se mostrou menos rentável. Motivo: concorrência, limites na cobrança de juros e menos agências.
No primeiro trimestre, o retorno sobre o patrimônio líquido no banco de varejo no Brasil foi de 17,6%, enquanto o atacado teve retorno de 29,3%. A título de comparação, os segmentos tinham rentabilidade de 35,2% e de 17,2%, respectivamente, no quarto trimestre de 2019, antes da pandemia.
Essa diferença, que persiste ao longo do último ano, é pouco usual, porque as margens de crédito no atacado costumam ser menores, dado que o risco das operações também é menor. No caso do Itaú, havia também uma maior participação, no lucro com o varejo, das receitas com serviços, que são livres de risco de inadimplência. Mas o cenário mudou.
“A operação de varejo depende muito mais de crédito que no passado”, disse Maluhy a analistas, ao falar sobre os resultados trimestrais. Segundo ele, o varejo cresceu muito nos últimos anos, bem mais do que a capacidade de extrair receitas do público com tarifas.
O balanço do banco não diz claramente, mas dá sinais do que isso significa na prática. A segunda maior fonte de receitas do banco com serviços é com pacotes de conta-corrente, e elas caíram 9,2% no último ano. Segundo a instituição, isso se deve à estratégia de isentar os clientes da cobrança dos pacotes, em clara reação à maior concorrência não apenas de neobancos, mas também dos rivais tradicionais.
Rede de agências menor
Em relação à rede de agências físicas, Milton Maluhy afirmou que isso está sendo redesenhado, mas que os fechamentos acontecem à medida que a demanda pelos canais digitais cresce. Segundo ele, o banco acredita no modelo “figital”, ou seja, que mistura o atendimento através dos dois mundos.
“O movimento (de fechamento de agências) acontece à medida que entendemos que faz sentido”, disse o executivo. No último ano, o Itaú fechou cerca de 100 agências no Brasil, o que reduziu a rede a 2.731 pontos de atendimento. Ao mesmo tempo, elevou a quantidade de agências digitais e, de acordo com Maluhy, também transformou algumas das agências em um novo modelo, focado apenas na realização de negócios e não em transações corriqueiras.
“Temos um redesenho da nossa rede, é esperado que reduções aconteçam ao longo do tempo à medida que os nossos clientes se digitalizam”, complementou o presidente do banco.
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