Ao arrematar o site de venda de games e tecnologia Kabum! na manhã desta quinta-feira, 15, a varejista Magazine Luiza fez a maior aquisição de sua história. Segundo o presidente da empresa, Frederico Trajano, a proposta foi ousada porque o Kabum! estava na mira de concorrentes. Com a compra, o Magalu parece ter convencido o mercado de sua estratégia. Apesar do desembolso necessário para a aquisição, os papéis da empresa fecharam o dia em alta de 3,45%, cotados a R$ 23,72.
O valor da compra pode chegar a R$ 3,5 bilhões. A primeira parcela será paga à vista, em dinheiro, e será de R$ 1 bilhão. As demais serão acertadas até janeiro de 2024, em ações do Magalu – os pagamentos dependerão de metas financeiras acertadas para o período. Criado em 2003, em Limeira, no interior de São Paulo, o Kabum! é focado em eletrônicos e tem força na chamada linha gamer, de produtos de alto desempenho para a prática de jogos online.
A plataforma criada pelos irmãos Thiago e Leandro Ramos estava à venda desde o fim de 2020, com assessoria do banco Itaú BBA. A empresa teve receita bruta de R$ 3,4 bilhões e lucro de R$ 312 milhões nos últimos 12 meses. “Era um ativo que interessava a outros também. Se fôssemos muito conservadores, perderíamos o negócio”, disse Trajano.
A grande aposta no Kabum! veio depois de uma série de aquisições menores nos últimos meses. Trajano considera natural a combinação do e-commerce do interior de São Paulo com um ecossistema maior. “O e-commerce de nicho é muito específico. Por melhor e mais rentável que ele seja, em algum momento um dos grandes players pode entrar no mercado deles.”
Para o banco Credit Suisse, a compra do Kabum! pelo Magazine Luiza é positiva e deve funcionar como um veículo de crescimento de longo prazo. “Como já destacamos, no e-commerce o caixa deixou de ser um grande diferencial. O uso correto desse caixa é o que faz a diferença. O Magazine Luiza parece ter a capacidade de combinar as pessoas certas com uma estratégia atraente”, disse o banco, em relatório.
O Credit Suisse avalia que as perspectivas para as vendas online no País seguem altas. “Os fundamentos de longo prazo do e-commerce permanecem intactos, apesar dos desafios de curto prazo com as comparações mais difíceis de 2020. Acreditamos que o Magazine Luiza é beneficiário dessa tendência.”
Segundo especialistas, os R$ 3,5 bilhões a serem pagos pelo Kabum! não estão fora da realidade do mercado. “Consideramos os valores envolvidos, sem levar em conta as sinergias, favoráveis para as ações do Magazine Luiza. A operação ainda depende da aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), mas acreditamos que não haverá remédios relevantes”, aponta o gerente de análise da Ativa Investimentos, Pedro Serra.
Dinheiro novo
Em paralelo à aquisição, o Magazine confirmou a realização de uma oferta subsequente de ações (follow-on), com o objetivo de levantar cerca de R$ 3,4 bilhões para o caixa da companhia. A oferta poderá ser acrescida em até 33% do total de ações, elevando o total para R$ 4,6 bilhões.
Os recursos vão impulsionar a expansão do Magalu em novos mercados, além de servir para investimentos em logística, abertura de novos centros de distribuição e o pagamento de aquisições estratégicas, como a do Kabum! e a da Hub Fintech, que custou R$ 290 milhões e acabou de ser aprovada pelo Banco Central e pelo Cade.
“Temos hoje caixa em torno de R$ 4 bilhões (dados do primeiro trimestre), mas gostamos muito de manter uma despesa financeira baixa em relação ao Ebitda. Ano passado, essa relação foi de 30%. Não queremos passar muito disso”, ressalta Frederico Trajano.
A nova captação em Bolsa será liderada pelo Itaú e pelo BTG Pactual – este último foi o assessor do Magazine Luiza na compra do Kabum! – e inclui ainda JP Morgan, Merril Lynch, Bank of America, UBS, Banco do Brasil, Bradesco BBI, Goldman Sachs, Morgan Stanley, Santander e XP. Com exceção da XP, todos os demais bancos participantes foram adiantados pelo Estadão/Broadcast.
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