Com 75 anos de existência, a fabricante de carrocerias de ônibus Marcopolo, sediada em Caxias do Sul (RS), anuncia nesta quarta-feira, 13, a sua entrada no mercado de motorhomes, com a criação de uma divisão própria para a produção desses veículos. O primeiro produto criado pela empresa para o segmento foi batizado de Nomade, e se insere na categoria de motorhome integral compacto 4x4.
Isso significa que ele é inteiriço, diferentemente dos modelos de vans adaptadas e da categoria chassi e cabine, caracterizada por ser construída com uma cabine com uma casa acoplada atrás. Também se diferencia dos motorhomes integrais de maior tamanho, que muitas vezes acabam sendo produzidos em ônibus adaptados para abrigar uma casa.
O Nomade tem 7,5 metros de comprimento e 2,4 metros de largura. O tamanho foi projetado para facilitar as manobras em cidades pequenas e estradas estreitas para entrada em campings. Segundo a empresa, o projeto de um veículo construído do zero como um motorhome, sem adaptações, também permite oferecer mais estabilidade de direção, capacidade de andar inclinado em 30 graus e traz um casulo estrutural que protege as pessoas internamente. O veículo foi lançado em três configurações, com preços de R$ 1,65 milhão, R$ 1,83 milhão e R$ 2,3 milhões.
A empresa não revelou o quanto espera faturar com a entrada nesse novo mercado, que deve ser explorado gradativamente pela nova divisão da companhia gaúcha. “Uma empresa do tamanho da Marcopolo não entra (num mercado) para fazer coisa pequena. Estamos avaliando novos modelos para lançar. Pode ter certeza de que está no plano estratégico termos mais veículos. Vamos fazer esse mercado crescer no País e expandir as vendas para fora do Brasil”, afirma o executivo-chefe da nova divisão Marcopolo Motorhome, Alexandre Cruz, que conduziu todo o projeto de criação da nova área e também é o chefe da Marcopolo Next, divisão que avalia investimentos inovadores para o grupo.
O veículo já está em fase de pré-vendas, e está sendo apresentado oficialmente nesta quarta-feira durante o evento Expo Motorhome, em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, a maior feira latino-americana de campismo e caravanismo. Segundo os organizadores do evento, o setor como um todo, incluindo veículos e barracas, movimentou cerca de R$ 1,5 bilhão em 2023, uma ampliação de 30% em relação ao ano anterior. Cálculos apontam que empresas nacionais fabricam, mensalmente, entre 450 e 500 motorhomes, trailers, minitrailers e campers, que são os módulos que vão acoplados à caçamba de picapes.
O mercado apenas de motorhomes, no entanto, ainda é pequeno no País. Apesar de as pessoas conhecerem há décadas esses veículos de filmes e desenhos animados, eles são pouco vistos pelas estradas brasileiras. “A entrada da Marcopolo vai mudar o mercado, por trazer produtos e financiamento para as vendas. Os governos também passam a enxergar com outros olhos o segmento”, diz o empresário gaúcho Alexandre Bopp, organizador da feira, que está em sua oitava edição. “Isso mexe com o turismo, mexe com a cultura. Antigamente, o setor era muito amador. Ainda existe muito do ‘’faça você mesmo’.”
Falta de oferta
Apesar da falta de dados mais precisos e pesquisas amplas sobre o segmento, a Marcopolo estima que são vendidos em torno de 4 mil motorhomes por ano no Brasil, enquanto na Europa a produção chega a 140 mil unidades e nos Estados Unidos, quase 50 mil. “Uma informação que surpreende muita gente é que nos Estados Unidos o mercado de motorhomes é maior até mesmo que o de ônibus”, afirma Cruz. “E algumas empresas locais têm valor de mercado até superior ao da Marcopolo.”
Esse é o caso, por exemplo, da Forest River, que foi comprada pela holding de investimentos de Warren Buffett, a Berkshire Hathaway. O negócio feito há uma década animou o megainvestidor a também comprar em janeiro deste ano a totalidade das ações da Pilot Travel Centers, que administra paradas de ônibus e veículos, uma empresa com faturamento de US$ 70 bilhões (R$ 406 bilhões), superior a nomes conhecidos como Nike, Coca-Cola e Netflix, o que a coloca entre as maiores empresas de capital fechado do mundo.
No Brasil, a maior fabricante do mercado de motorhomes, pelo menos até a Marcopolo não se expandir no setor, é também uma gaúcha, a Santo Inácio. Ela produz motorhomes do estilo chassi e cabine, com veículos das montadoras Iveco e Mercedes.
Segundo Cruz, da Marcopolo, existe uma demanda de consumidores por motorhomes que não era atendida pelas montadoras tradicionais atuantes no Brasil. Com a Marcopolo Motorhome, pela primeira vez, umas delas terá oferta para o segmento, e poderá colocar em ação a sua estrutura empresarial para desenvolver o mercado. Isso deve envolver o banco próprio Moneo, para financiamento dos veículos, e a rede de 46 concessionárias, para atendimento ao cliente e para fazer revisões e consertos nos motorhomes.
No entanto, um dos desafios para a Marcopolo ampliar o mercado está no desenvolvimento de uma infraestrutura pelo território nacional de espaços para receber os motorhomes e dar segurança a seus donos. “A infraestrutura faz uma diferença grande. Estamos trabalhando com prefeituras e entidades de turismo para expandir esse mercado, o que seria interessante para eles, pois estimula investimentos e consumo nas cidades”, diz Cruz. “O mercado vai, assim, aos pouquinhos se profissionalizando e se acelerando.”
A empresa também está fechando parceria com a Casa Valduga, de Bento Gonçalves, para a criação de espaços de paradas em suas vinícolas. Outro parceiro gaúcho no projeto é a Tramontina, que participa do codesenvolvimento de itens da cozinha para os motorhomes, como talheres adaptados.
No começo do mês, a Marcopolo anunciou uma alta no lucro líquido de 101,6% no terceiro trimestre deste ano ante um ano antes, para R$ 335,7 milhões. A receita operacional líquida da companhia registrou crescimento de 43,3% no comparativo anual, alcançando R$ 2,314 bilhões de julho a setembro
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