O empresário Mário Bernardo Garnero ascendeu aos holofotes do meio empresarial brasileiro após ter sido um dos coordenadores da campanha presidencial que Juscelino Kubitschek faria em 1964, anulada com o golpe militar. Ex-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), no início da década de 1970, ele demonstrou talento para conectar empresários brasileiros com grandes nomes dos negócios e da política internacional. Tinha proximidade com os ex-presidentes americanos Lyndon Johnson e George H. Bush, o pai, e com o diplomata Henry Kissinger.
Por meio de sua empresa, a Brasilinvest, ajudou a tornar negócios internacionais viáveis por meio de sua rica rede de contatos. O auge foi atingido na década de 1980. Mas o baque também veio nesses período. Em 1985, o Banco Central decretou a liquidação de duas empresas do grupo — um banco de investimentos e uma corretora —, em meio a acusações de empréstimos fraudulentos a empresas fantasmas. Em 1986, foi decretada a liquidação do próprio Banco Brasilinvest.
Em 1988, a Justiça Federal de São Paulo chegou a condenar Garnero a cinco anos de prisão por estelionato e fraude contra o sistema financeiro. Em 1989, porém, o STF anulou a condenação e, em 1990, o BC suspendeu a liquidação do Banco Brasilinvest.
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Mesmo depois disso tudo, Garnero ainda manteve prestígio. Nos anos 2000, ele conseguia reunir num jantar na Europa nomes como os dos donos de fundos multibilionários Nathaniel Rothschild e do colombiano Julio Mario Santo Domingo (que angariou participações importantes na cervejaria SABMiller e na TV Caracol), do executivo estrela Jack Welch, ex-presidente da GE, e de Leonardo Ferragamo, da grife que leva o seu sobrenome. O último continua sendo parte do conselho da Brasilinvest, assim como o também italiano Carlo De Benedetti, ex-CEO da Fiat e da Olivetti.
Garnero também leva a fama de ter feito a ponte para a aproximação, em 2002, do então candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva com o presidente americano George W. Bush e de ter organizado o primeiro encontro entre os ex-presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, na Flórida.
Também fez contatos, durante o período em que foi presidente da Anfavea, nos anos 1970, com a família sueca Wallenberg, que era dona da Scania. E não só dela, mas de praticamente todas as grandes corporações do país, como Saab, Ericsson, Electrolux, ABB, SKF, AstraZeneca e Stora Enso.
Essa proximidade também permitiu trazer a Saab para a disputa pela compra de caças pelo governo brasileiro, que resultou na adoção dos Gripens pela Aeronáutica do Brasil, vencendo o programa de caças francês. “Trouxe Marcus Wallenberg para se encontrar com Lula e José Dirceu, a partir de um relacionamento que havia sido desenvolvido no passado”, diz ele. “Muitas vezes os resultados aparecem muito tempo depois.”
“Não somos políticos. A Brasilinvest nunca teve lado político, ajudamos o governo, a oposição, a esquerda e a direita, no que for o melhor para o Brasil”, diz Garnero. “Hoje as coisas estão mais difíceis. Qualquer medida é considerada boa para metade dos brasileiros e ruim para a outra. Assim, o País não anda.”
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