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Mercado de R$ 5 trilhões está na mira das empresas de cartão; veja planos de Visa e Mastercard

Um dos focos é o volume financeiro transacionado por meio de TED bancária, que ainda é uma das formas preferidas das companhias para pagamentos

Foto do author Matheus Piovesana

O setor de meios de pagamento começa a se movimentar de forma mais intensa para capturar os pagamentos entre empresas - muito mais volumosos que os feitos por pessoas físicas -, mas ainda muito dependentes de métodos tradicionais, como boleto e TED. Por trás da corrida estimada em R$ 5 trilhões anuais está a constatação de que o Brasil se aproxima cada vez mais da maturidade na participação dos pagamentos eletrônicos no consumo das famílias, graças ao crescimento do Pix e dos cartões.

No primeiro semestre deste ano, a indústria de cartões movimentou no Brasil R$ 2 trilhões, um crescimento de 11,2% em relação a igual período do ano passado, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços. O Pix, por sua vez, movimentou R$ 2,4 trilhões somente em julho, segundo o Banco Central.

Indústria de cartões movimentou R$ 2 trilhões no Brasil no primeiro semestre Foto: Nattakorn/Adobe Stock

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Apesar dos números representativos na economia, esses dois métodos são superados em tamanho pela TED - sigla para Transferência Eletrônica Disponível, uma forma de movimentação de dinheiro que permite que os valores entrem na conta dos beneficiários no mesmo dia, dependendo do horário em que a transação é feita. Apenas em julho, as TEDs foram responsáveis pela movimentação de R$ 3,8 trilhões. A prevalência desse método de transferência, menos ágil que os outros dois, é uma amostra da preferência que as empresas dão a modelos tradicionais para fazer seus pagamentos. O setor de meios de pagamento quer reverter essa tendência.

“Atrás dos estabelecimentos comerciais, na cadeia inteira, são quase R$ 5 trilhões em volume financeiro que não é capturado por nenhuma transação eletrônica”, afirma o vice-presidente de Novos Negócios da Visa no Brasil, Eduardo Abreu. “É aqui que vemos uma oportunidade muito grande de continuar crescendo os meios de pagamento.”

Nos últimos anos, a Visa desenvolveu ferramentas específicas para atender tanto pequenas quanto grandes empresas. Para os pequenos negócios, a empresa oferece soluções que auxiliam na gestão diária e na otimização das operações. Já para as grandes corporações, a Visa atua como intermediária em operações de pagamento que, devido à concessão de prazos, assumem características de crédito. Ela faz essa movimentação emitindo credenciais que são similares aos cartões de crédito virtuais, que a pessoa física usa para fazer compras pela internet.

A Mastercard segue uma lógica semelhante, apostando em produtos virtuais além dos tradicionais cartões de crédito para empresas, presentes nas prateleiras dos bancos, mas bem menos disseminados que os similares destinados ao consumidor final. “Uma fórmula bastante popular é o que chamamos de VCN, ou cartão virtual, que é uma credencial de pagamento virtual gerada para uma empresa”, diz o presidente da Mastercard Brasil, Marcelo Tangioni.

Saturação

A corrida tem razão de ser. Após uma década em que os pagamentos eletrônicos cresceram a um ritmo de dois dígitos ao ano, analistas começam a ver sinais de saturação no mercado brasileiro. O Morgan Stanley estimou, em relatório divulgado na última semana, que 94% dos gastos pessoais dos brasileiros serão pagos com cartões ou Pix até o final deste ano, o que deixaria um espaço reduzido para esses meios crescerem acima da variação da economia.

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Edson Luiz dos Santos, sócio fundador da consultoria Colink Business Consulting, acredita que este número está mais próximo dos 80%. O número muda, mas a conclusão é a mesma: os dias de crescimento acelerado do setor podem ter ficado para trás.

Alguns fatores explicam como, em menos de 25 anos, o Brasil evoluiu de um país onde os cartões representavam menos de 5% do consumo para um mercado próximo da maturidade. No entanto, todos esses fatores estão diretamente relacionados à agenda regulatória do Banco Central.

Entre 2010 e 2020, o regulador quebrou o duopólio das maquininhas, o que levou ao surgimento de novas empresas e ao avanço da aceitação de cartões pelo comércio; deu condições ao surgimento de fintechs - as startups do setor financeiro -, que emitiram cartões a um público de baixa renda, antes distante desse mercado; e colocou no ar o Pix, que se tornou uma via rápida de inclusão financeira.

“Anos atrás, nas nossas projeções, olhávamos muito menos para fatores macroeconômicos, porque a oportunidade de substituição do papel-moeda e de cheques era muito maior”, afirma Tangioni, da Mastercard. Agora, na visão de especialistas, é mais provável que o setor cresça muito mais em linha com o desempenho da economia do que nos últimos dez anos.

Obstáculos

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Há, porém, alguns obstáculos para que a adoção de pagamentos eletrônicos nas operações entre as empresas cresça. O primeiro deles é o custo: taxas como as que as credenciadoras cobram para quem recebe com cartão são muito superiores aos custos de transações feitas com boletos ou a TED - que, além disso, já estão integrados aos sistemas das companhias há bastante tempo. Trata-se de uma briga em que o custo é fator primordial.

“O primeiro raciocínio passa a ser uma questão de custo. Então vamos à racionalidade”, disse o ex-CEO da credenciadora Adiq, José Mário Ribeiro. Ele destacou ainda que as tarifas e prazos de operações de antecipação de recebíveis também não fazem sentido para as grandes empresas.

Para a Visa, novo público vai exigir readequação das ferramentas atuais do setor Foto: Alexandre Calais/Estadão

Abreu, da Visa, afirma que este público exige uma readequação das ferramentas atuais do setor. “Algumas transações desse público são de R$ 500 mil. Se colocarmos essas transações nos sistemas normais, dirão que são fraudulentas”, diz o executivo. “Nas transações do consumidor para empresas, são milhões de transações com valores pequenos.”

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No exterior, há sistemas que podem dar respostas à equação. “Lá fora, vemos muitos esquemas fechados, sem os custos de uma operação B2C, exatamente para viabilizar isso”, disse o líder de Brasil da ACI Worldwide, Vlademir Santos, ao comentar a antecipação de recebíveis nos pagamentos entre empresas. De acordo com ele, é possível estruturar operações do tipo através do balcão de recebíveis, no ar desde 2021, e que decolou de vez no ano passado.

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