A vinícola Miolo, com sede no Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul, anuncia oficialmente nesta quinta-feira, 12, a compra da vinícola argentina Renacer, localizada aos pés da Cordilheira dos Andes, em Mendoza. A compra é o primeiro passo da empresa brasileira em busca de sua internacionalização. “É o nosso quinto terroir, depois da Serra gaúcha, do Vale do São Francisco (na Bahia), e dos dois projetos na Campanha (Gaúcha)”, afirma Adriano Miolo, diretor superintendente da Miolo, para o Estadão, direto da Argentina.
O valor da transação não foi revelado. A venda foi assinada nesta quarta-feira, 11, e hoje haverá um comunicado oficial aos funcionários. Mas um hectare com vinhas plantadas em Lujan de Cuyo, onde está localizada a vinícola, tem preço entre US$ 70 mil e US$ 90 mil. A Renacer tem 30 hectares de vinhedos, além de uma vinícola de última geração e um foco importante no enoturismo, incluindo um restaurante com estrela no Guia Michelin.
O projeto nasceu em 2003, viabilizado pelo empresário chileno Patricio Reich, que fez carreira e dinheiro na Viña San Pedro, conhecida dos brasileiros por marcas como Gato Negro, nos vinhos de entrada de gama, e Altair e Cabo de Hornos, nos rótulos premiuns. O chileno Reich chegou à Argentina para viabilizar a Finca La Célia, o braço da Viña San Pedro do outro lado da Cordilheira dos Andes, nos anos 1990.
“Há momentos na vida em que é melhor dar asas às empresas para que voem ainda mais alto”, afirma Reich. A venda foi uma decisão familiar, porque seus filhos têm outros projetos e não havia quem administrasse a vinícola argentina. “Os meus planos são passar de produtor para consumidor de vinho”, acrescenta o empresário. A conversa com a Miolo começou cerca de nove meses atrás, quando Adriano Miolo procurava alternativas para elaborar malbecs na Argentina.
Formado na Facultad Don Bosco de Enología, referência em enologia em Mendoza, Adriano voltou para a cidade argentina no começo deste ano, depois do sucesso de vendas do vinho Miolo Reserva Malbec. O tinto foi elaborado pela primeira vez em 2022, com uvas da região da Campanha Gaúcha e foi um sucesso de vendas. O plano era fazer o malbec novamente em 2024, mas uma chuva de granizo atingiu as vinhas, inviabilizando sua elaboração. A saída foi comprar uvas na vizinha Argentina. Assim, foram feitas 24 mil garrafas, que se esgotaram rapidamente no início deste ano. Um novo lote com outras 24 mil garrafas foi vinificado e já está quase acabando.
O sucesso das vendas no Brasil motivou a Miolo a aumentar a produção de tintos com a uva emblemática da Argentina. “Enquanto procurávamos fincas e vinícolas, surgiu a oportunidade da Renacer”, conta Adriano Miolo. A conversa com Reich começou com a ideia de fazer uma parceria entre as duas vinícolas familiares, avançou para uma joint venture e terminou na compra. A Renacer é focada no mercado premium e elabora, principalmente, vinhos à base de malbec e, também, de cabernet franc, variedade que cresce em qualidade entre os rótulos argentinos.
Segundo Adriano Miolo, estava na hora de a vinícola partir para o seu quinto terroir, já que os outros quatro já estão consolidados. Atualmente, a Miolo conta com cerca de 1 mil hectares de vinhedos no Brasil, divididos entre o Vale dos Vinhedos, onde a vinícola foi fundada no final dos anos 1980; o Vale do São Francisco, na Bahia; o Seival, na Campanha, e o Almadén, na fronteira com o Uruguai, que foi a última aquisição da Miolo, em 2009. A vinícola produz, no total, 10 milhões de garrafas por ano.
Com a Renacer, a ideia é manter as atuais linhas de vinho, mas ampliar também para tintos com a marca Miolo. Adriano Miolo diz, ainda, que a ideia é manter os funcionários, incluindo o enólogo Felipe Stahlschmidt. A Miolo também aposta na sinergia entre os dois projetos.
Vinícola butique, com a elaboração de 1,3 milhão de garrafas por ano, a Renascer exporta 70% de sua produção para mercados como Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra e China. A Miolo exporta apenas 5% de sua produção.
A Renacer tem, ainda, foco no enoturismo, inclusive com o público recorde de turistas brasileiros. O turismo ao redor do vinho também vem crescendo em importância para a vinícola brasileira.
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