São Paulo - Numa tarde em que os termômetros em São Paulo passavam dos 34ºC, até o presidente da maior incorporadora nordestina, a Moura Dubeux, reclamava do calor durante um evento que reuniu empresários do mercado imobiliário na terça-feira, 26. A temperatura elevada, porém, não foi empecilho para Diego Villar dar entrevistas à imprensa, falar com analistas, investidores e circular entre os colegas do setor.
Para o executivo, esse é o tipo de ocasião perfeita para mostrar ao público da Faria Lima que sua empresa, sediada em Recife, não fica atrás das companhias do Sudeste que, frequentemente, largam na frente perante os olhos de investidores. “O Nordeste é uma região que ninguém olha. Nós queremos dar visibilidade para o mercado de lá”, disse, em conversa com o Estadão/Broadcast. “Com todo o respeito com as empresas daqui, mas os empreendimentos que fazemos lá não perdem em nada.”
Como exemplo da atratividade do Nordeste para o setor imobiliário, Villar cita o exemplo do investimento feito pelo ex-sócio da XP Julio Capua. Ele está encabeçando a construção de um condomínio com residências e hotel de luxo em um terreno de 12 milhões de metros quadrados na Praia do Preá, a 283 km de Fortaleza.
O negócio balizou a constituição de um fundo de investimento que acaba de levantar R$ 100 milhões e deve ter uma nova rodada de captação da mesma quantia em breve. “Quando um cara reconhecido pela Faria Lima como o Capua decide investir lá, isso não é só por amor. Ele está enxergando as oportunidades,” disse Villar.
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Depois de citar o caso do colega, Villar também vende o próprio peixe. Neste momento, a Moura Dubeux também está desenvolvendo um projeto de grande porte em Recife. O empreendimento terá nove prédios residenciais de alto padrão e um complexo comercial.
Ao todo, a previsão é de movimentar R$ 3 bilhões em vendas ao longo dos próximos cinco a dez anos, quando ocorrerá o lançamento de todas as etapas. O projeto também incluirá parque, espaço cultural e lojas. As três primeiras torres residenciais vão ficar prontas em 2024 e já tiveram 90% dos apartamentos vendidos, o equivalente a cerca de R$ 600 milhões.
O projeto fica no Recife Antigo e tem um quilômetro de extensão bem em frente ao mar. A área portuária pertencia, antigamente, à Rede Ferroviária Federal. O terreno foi comprado pela Moura Dubeux em 2008, numa parceria com o Grupo GL, do empresário local Gerson Lucena. Hoje, ele detém um terço do empreendimento, enquanto a incorporadora tem os outros dois terços.
Segundo Villar, o investimento é um reflexo do melhor momento vivido pela Moura Dubeux desde a sua abertura de capital, em fevereiro de 2020. “Estamos no auge em volume de vendas, retorno ao acionista e percepção dos clientes”, enfatizou. A companhia teve receita líquida de R$ 566 milhões no primeiro semestre de 2023, alta de 46% em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto o lucro total foi a R$ 76 milhões, avanço de 40%.
Esses recordes na história da empresa têm despertado o interesse do público de fora do Nordeste. “Hoje os analistas nos ligam, nos visitam. Querem conhecer melhor o que estamos fazendo. Mas nem sempre foi assim”, relatou.
No mês passado, os analistas de construção civil da XP Investimentos iniciaram a cobertura da Moura Dubeux com recomendação de compra das ações e uma estimativa de valorização dos papéis na ordem de 50% nos 12 meses seguintes.
Os analistas Ygor Altero e Ruan Argenton apontaram a liderança da incorporadora na região, sem uma concorrência que faça frente ao porte das suas operações. Eles estimaram ainda que os lançamentos vão crescer em cerca de 8% até o ano que vem, contribuindo para ganho de escala e manutenção de uma boa lucratividade.
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Por fim, estimaram que a margem bruta da Moura Dubeux vai ficar à frente das outras incorporadoras do setor. “Vemos a companhia mostrando retorno consistente e com uma previsão de crescimento robusta”, escreveram no relatório.
A Moura Dubeux atua em sete capitais da região - Recife, Fortaleza, Salvador, Maceió, Natal, João Pessoa e Aracaju - consolidando-se como a maior empresa imobiliária fora do Sudeste. Nos últimos anos, ele ocupou um vazio do mercado, sem concorrentes com escala similar, após a parada nas atividades de incorporadoras ligadas a grandes construtoras, como Odebrecht (atual Novonor), Queiroz Galvão, OAS, por causa da Lava Jato.
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