Natura derrete 30% na Bolsa com o peso de despesas e Avon Internacional nos resultados do trimestre

Diretor da companhia se diz decepcionado pelos resultados, mas afirma acreditar que no médio prazo a estrutura de capital permitirá que a Natura&Co volte a mostrar expansão de margem

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Foto do author Júlia Pestana
Atualização:

O mercado se decepcionou com o balanço da Natura&Co — e até mesmo os executivos da empresa admitiram que os números foram “insatisfatórios” —, em função do aumento das despesas financeiras e do fraco desempenho da operação Avon Internacional. A empresa registrou prejuízo de R$ 438,3 milhões no quarto trimestre de 2024 e, no acumulado do ano, fechou com perda de R$ 8,9 bilhões, revertendo lucro de R$ 2,9 bilhões apurado no ano anterior.

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A Natura perdeu 29,94% em valor de mercado, com a ação cotada a R$ 9,50, menor preço de fechamento em mais de dois anos, diante de um balanço considerado “poluído” pelo BTG Pactual e “decepcionante” pelo Citi. O papel liderou os negócios da B3 nesta sexta-feira, 14, com volume de 108 mil e giro de mais de R$ 1 bilhão. Antes do tombo desta sexta, a pior cotação havia sido registrada em 12 dezembro de 2022, quando fechou valendo R$ 9,52.

A derrocada na B3 foi provocada, em boa parte, pelo resultado das despesas operacionais da empresa, que praticamente dobraram (92,4%) no período de um ano. O montante do desembolso somou R$ 5,3 bilhões no quarto trimestre de 2024 e, a maioria das despesas vieram de vendas, marketing e logística, que totalizaram R$ 3,4 bilhões.

Maioria das despesas da companhia vieram de vendas, marketing e logística, que totalizaram R$ 3,4 bilhões Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O diretor financeiro (CFO), Guilherme Castellan, afimrou em entrevista com jornalistas que o mercado ficou “decepcionado” com o resultado das despesas e da geração de margem da companhia. No entanto, ele acredita que no médio prazo a estrutura de capital permitirá que a Natura&Co volte a mostrar expansão de margem.

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Apesar de os investimentos terem pesado na rentabilidade, o CEO da Natura&Co, Fábio Barbosa, justificou que parte desses gastos impulsionaram as operações da América Latina. “Os resultados mostraram uma saudável tendência nas receitas após os primeiros nove meses do ano, acelerada ainda mais pela campanha de presentes de fim de ano”, afirmou.

No trimestre também pesaram os gastos com a Avon International, que passa por um processo de Chapter 11 (equivalente à recuperação judicial) nos Estados Unidos. No caixa, o impacto negativo com o suporte ao processo foi de R$ 450 milhões, de acordo com cálculos do Citi.

A companhia justifica que o resultado negativo está ligado a ajustes não operacionais, principalmente relacionados ao suporte financeiro dado à Avon e a investimentos na chamada “Onda 2”, uma estratégia de integração na América Latina.

Os custos de integração com a Avon estão “poluindo” o balanço da companhia e enfraquecendo o desempenho dos itens do Casa & Estilo, avalia o analista Lucas Dias, da Ativa Investimentos.

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Simplificar a estrutura

A simplificação da estrutura da Natura pode melhorar a situação da companhia, na visão dos analistas. Para Dias, da Ativa, mesmo após esse trimestre mais fraco, a possibilidade de simplificar as operações mantém a corretora “construtiva” com a tese. “A simplificação tende a trazer resultados mais sólidos no longo prazo”, disse.

Da mesma forma, o BTG identifica que nos últimos trimestres a empresa mostrou esforços para simplificar sua estrutura, deixando-os “assumidamente mais positivos”. “No entanto, a reestruturação em andamento ainda significa riscos para a tese de investimentos, levando-nos a manter recomendação neutra por enquanto.”

Os resultados do quarto trimestre da Avon International registraram uma redução de 10% na receita líquida em moeda corrente (CC), devido principalmente ao fraco desempenho da Rússia.

A Natura destacou, no relatório de resultados, que o declínio da receita impactou a rentabilidade da unidade de negócios, uma vez que a desalavancagem das despesas mais que superou as economias contínuas obtidas em despesas gerais e administrativas, no contexto do processo de transformação.

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A Onda 2 como um todo deve ser concluída até o final do ano com a finalização dos processos domésticos na Argentina, segundo previsões do CEO.

“Continuamos avaliando alternativas estratégicas para uma potencial separação ou venda do ativo, enquanto a equipe trabalha em uma reestruturação acelerada dos negócios com o objetivo de minimizar a saída de caixa no curto prazo”, afirmou Barbosa.

De acordo com cálculos do Bradesco BBI, o encerramento da operação Avon Internacional teria um impacto de cerca de R$ 0,90 por ação e, cada ano adicional carregando a situação financeira da Avon consumiria mais R$ 0,30 por papel.

A ânsia da gerência em resolver esse dilema e seu sólido histórico, tanto na melhoria do balanço patrimonial quanto no enfrentamento de questões de valor presente líquido (VPL) negativo, presume uma abordagem “economicamente racional” para a Avon, segundo análise do banco.

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“Entendemos que há uma penalidade de fluxo de caixa do acionista (FCFE) de R$ 1,2 bilhão para fechar a Avon Intl, considerando o fluxo de caixa descontado (DCF)”, afirmaram os analistas Pedro Pinto e Lorenzo Marques.

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