Ser nômade digital parece um sonho distante, mas pode se tornar uma realidade para quem atua em regime 100% de home office, como é comum nas áreas de tecnologia e de marketing digital. Esse é o caso de Washington Ávila, de 27 anos, que escolheu morar em Buenos Aires, na Argentina, por alguns meses e, com a desvalorização do peso, vive dias de rico. “É um superpoder que o brasileiro tem aqui”, afirma.
Somando todos os custos básicos, como aluguel, alimentação e lazer, o gasto fica entre R$ 4 mil e R$ 5 mil ao mês na cidade. O real hoje equivale a 26,78 pesos argentinos, no câmbio oficial – mas a cotação já está perto do dobro disso no paralelo, pois o sistema de câmbio argentino tem um total de 13 cotações, sendo bem diferente do visto no Brasil.
Com isso, enquanto trabalha para uma startup de tecnologia no Brasil, Ávila consegue morar em uma cidade grande, aperfeiçoar seu espanhol e, de quebra, ver seu dinheiro valendo mais do que em São Paulo, onde morava antes de fazer as malas e embarcar para o país vizinho. “Eu consigo ter um estilo de vida confortável com um salário menor do que no Brasil, apesar da situação econômica na Argentina”, conta Ávila. No país, a inflação pode chegar a 90% este ano.
Poder de compra do brasileiro na Argentina
O consultor de vendas utiliza conta da Western Union para fazer o salário que recebe em real ser utilizado na Argentina. O valor é convertido pelo dólar blue, uma cotação paralela do dólar americano. Nessa métrica, R$ 4 mil se transformam em 208.838 pesos argentinos atualmente. Conforme mostrou reportagem do Estadão em julho, a Western Union ganhou tração entre os brasileiros que viajam para a Argentina, por oferecer uma cotação mais vantajosa aos viajantes.
O plano de Ávila, por enquanto, é retornar ao Brasil para cumprir compromissos de fim de ano. Mas ele considera a ideia de se mudar de forma permanente para a Argentina.
Da Argentina à Tailândia
Geovana Bonsenhor também escolheu a Argentina como primeira opção fora do País para atuar como nômade digital junto com a namorada Naoamy Araújo.
Atualmente na Tailândia, o casal morou em Buenos Aires por três meses, entre o fim de 2021 e o começo de 2022. O gasto mensal era de R$ 4 mil, incluindo cerca de R$ 700 de delivery.
A pandemia ajudou a aumentar a cultura do trabalho remoto. Mas já tivemos que encerrar contrato com cliente que exigia reuniões presenciais.”
Geovana Bonsenhor, nômade digital
Geovana e Naoamy trabalham com marketing digital, prestando serviços para empresas brasileiras. “A pandemia ajudou a aumentar a cultura do trabalho remoto. Mas já tivemos que encerrar contrato com cliente que exigia reuniões presenciais”, diz. Geovana também mostra sua rotina de nômade digital no Instagram (@ageotaviajando), rede social em que tem mais de 5 mil seguidores.
Organização financeira
Para a educadora financeira da Open Co, Lai Santiago, ser nômade digital precisa ir além da “romantização” da ideia de morar em diferentes países e ter base em um planejamento financeiro sólido, com um reserva de emergência para, pelo menos, oito meses de gastos mensais.
“No caso de uma pessoa que vai morar em países estrangeiros e tem a necessidade de utilizar uma moeda diferente, a melhor alternativa é manter o valor em uma conta internacional em uma moeda mais estável, como dólar ou euro”, afirma.
A rotina de um nômade digital também precisa contemplar economias para compra de passagens aéreas e resiliência financeira para lidar com aluguéis mais caros em determinados países. É preciso conversar com quem mora no local desejado para entender o real custo de vida e simplificar a vida financeira, com menos contas e cartões de crédito. “Quanto mais simples for esse seu “esqueleto”, mais chances de você ser bem-sucedido, tanto quando as coisas vão bem, quanto quando surgirem os perrengues”, diz Santiago.
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