Novelis vê risco para sua pegada de carbono no aumento das exportações de sucata de alumínio

Maior produtora e recicladora mundial do metal, controlada pelo grupo indiano Aditya Birla, usa 80% de material reciclado; embarques para o exterior cresceram 60,5% até novembro de 2024

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Foto do author Ivo Ribeiro

No comando da divisão América do Sul da multinacional Novelis desde junho, Roberta Zanardi Soares herdou alguns desafios considerados cruciais para os negócios da empresa na região. Um deles, relata a executiva em entrevista ao Estadão, é manter o patamar de 80% de uso de alumínio reciclado em suas linhas de produção, que fazem chapas para diversas aplicações industriais, como embalagens (latas) para bebidas. A meta futura, no entanto, vai além: chegar a 85%.

“Há uma competição acirrada, globalmente, por sucata de alumínio e o Brasil não ficou de fora desse cenário, que é parte de um movimento mundial de descarbonização (redução de emissões de CO2). Temos visto um crescimento expressivo das exportações desse material a partir do Brasil para várias partes do mundo”, afirma a executiva.

Bobinas de chapas de alumínio fabricadas no complexo de laminação da Novelis, em Pindamonhangaba (SP)  Foto: NOVELIS

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Soares, que entrou na empresa em 1999 como estagiária, foi promovida no ano passado a CEO da unidade América do Sul, sediada em São Paulo. Com formação em Administração de Empresas, é a primeira mulher a assumir o comando de uma das quatro divisões globais de negócios da Novelis. Até então, a executiva era vice-presidente de operações, após ocupar vários cargos na companhia.

Os negócios de exportação de sucata de alumínio deram um salto em 2024. Segundo estatísticas de órgãos oficiais, somaram 49,1 mil toneladas de janeiro a novembro, alta de 60,5% ao se comparar com o mesmo período de 2023. Essa situação não é interessante para a empresa, que já busca equilíbrio com importações da sucata oriunda das latas de alumínio fabricadas, por exemplo, no Chile, Colômbia e México. Faz o caminho das exportações de chapas laminadas para esses e outros países da América Latina.

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A competição por sucata de alumínio se deve, em boa parte, à liberalização da política de importação de sucata pela China, levando ao aumento de preços do insumo no mercado internacional. O setor já se movimenta para reduzir o impacto em seus custos com iniciativas para proteger os benefícios da utilização de sucata do metal ao longo do tempo. “Estamos buscando o melhor para País, de forma a obter o equilíbrio. Inclusive avaliando uso e importação de outros tipos de sucatas”, afirma Soares.

Maior produtora e recicladora de alumínio plano do mundo, controlada pela indiana Hindalco, a Novelis opera no País o maior complexo de laminação de chapas do metal da América Latina, localizado em Pindamonhangaba (SP).

A empresa tem ainda no mesmo site instalações de refusão de material reciclável com capacidade de processar 500 mil toneladas por ano. A maior parte do volume é adquirida de empresas especializadas em reciclagem. A própria Novelis tem 15 centros de coleta espalhados no País.

O Brasil é uma referência dentro da Novelis, em conteúdo de reciclagem. Com mais de 80%, está acima da média mundial da companhia, que é de 63%. “A garantia de matéria-prima é um grande desafio, pois, com nosso índice temos uma menor pegada de carbono”, afirma Soares. Globalmente, a meta da empresa é atingir 75%, mais que o dobro de uma década atrás.

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Roberta Zanardi Soares, CEO da Novelis América do Sul, que produz chapas de alumínio usadas na fabricação de latas para bebidas Foto: Novelis/Divulgação

Maior oferta para estar sempre à frente da demanda

Para atender o mercado de chapas de alumínio, a Novelis tem a estratégia de sempre estar à frente da demanda, observa a CEO. A empresa prevê concluir neste ano nova fase de expansão do complexo de laminação, passando das atuais 720 mil para 750 mil toneladas. No ciclo de 2022 a 2025, que saiu de 680 mil toneladas de capacidade, o investimento é de R$ 450 milhões.

O maior mercado da Novelis no Brasil e outros países da América do Sul é o de latas de alumínio para bebidas. Somente no País, a venda da embalagem movimenta mais de 33 bilhões de unidades por ano, conforme a Abralatas. As latinhas, que no Brasil são praticamente 100% recicladas, voltam às linhas de produção após 60 dias, após refundidas e virarem chapas outra vez.

As latas de alumínio são usadas para envasar cervejas, refrigerantes, sucos, drinks diversos, água, cachaça, entre outras bebidas. O mercado, depois de dois anos de baixa demanda, registrou alta na casa de 13% no ano passado. As vendas de chapas da Novelis, no primeiro semestre fiscal (início de abril ao final de setembro) cresceram 20% na região, somando 316 mil toneladas. No mesmo semestre, em 2023, a demanda estava reprimida.

A ambição da Novelis é ser líder no suprimento mundial de alumínio de baixo carbono. Por isso, traçou a meta de reduzir a pegada de carbono em 30% até 2026, na trilha de chegar a 2050 com carbono zero. “Com 85% de material reciclado em 2030, nossa meta é baixar a geração de CO₂ de 2,2 toneladas para 1,9 tonelada por tonelada produzida”, diz a CEO.

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“Meus dois grandes desafios são: aumento de conteúdo reciclado, dentro da missão de reduzir a emissão de carbono, e projetos para elevar capacidade de produção de chapas e garantir atendimento da demanda”, resume a CEO.

Na descarbonização, a empresa considera os três escopos (a operação, a energia consumida e fornecimento de matéria-prima e serviços). Em suas operações, trabalha com vários caminhos: maior eficiência dos fornos com aplicação de inteligência artificial, outras tecnologias de fundição e, a mais longo prazo, substituição do gás natural por plasma. Nos centros de coleta usa energia solar e os equipamentos de transportes internos são eletrificados.

Os principais clientes industriais da Novelis estão nos setores aeroespacial, automotivo, de embalagens para bebidas e em diversas especialidades, como arquitetura, transportes e eletroeletrônicos.

Braço de alumínio do gigante indiano Aditya Birla

A Novelis, com receita anual de US$ 16,2 bilhões no exercício encerrado em 31 de março de 2024, está presente em nove países, com 32 unidades fabris. A divisão da América do Sul participa com 17% das vendas físicas globais da companhia, que inclui ainda América do Norte, Europa e Ásia. No Brasil, a receita da empresa ficou na casa de R$ 12 bilhões, referente as duas fábricas.

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Além de Pindamonhangaba, opera uma unidade de folhas de alumínio em Santo André (SP) e um centro de inovação em São José dos Campos, aberto em 2023, voltado a novos produtos no segmento de latas, por exemplo.

A companhia é uma subsidiária da Hindalco Industries Limited, com negócios nas áreas de mineração e metalurgia (alumínio, cobre - maior produtor da Índia - e carvão) e de energia. Presente em 10 países, com 52 unidades fabris, é uma das principais empresas industriais do conglomerado diversificado indiano Aditya Birla Group. O grupo, sediado em Mumbai, registrou receita consolidada de US$ 66 bilhões no balanço encerrado em 31 de março de 2024. Atualmente, tem valor de mercado de US$ 113 bilhões.