O Nubank fez uma estreia para alegrar todos os seus investidores na Bolsa de Nova York (NYSE). Após ter precificado a sua ação em US$ 9, o que a fez ter um valor de mercado acima dos US$ 41 bilhões e se tornar a instituição financeira mais valiosa da América Latina, os papéis do Nubank dispararam quase 15% e encerraram o dia cotados a US$ 10,33. Com isso, a empresa tem um valor de mercado de US$ 47 bilhões.
Apesar da forte valorização, o preço das ações do Nubank chegaram a ter uma alta de mais de 30% durante o pregão. Já os BDRs, que são os recibos das ações negociadas no Brasil, tiveram uma alta ainda mais forte e se valorizaram 20,1%, beneficiados pela alta do dólar no pregão desta quinta-feira.
Com esse resultado do primeiro dia de negociações, a companhia conseguiu recuperar US$ 6 bilhões em valor de mercado que precisou abrir mão para que a abertura de capital acontecesse. Logo, a fintech abriu ainda mais distância do Itaú Unibanco, que é a segunda empresa mais valiosa do setor na América Latina.
A co-fundadora da fintech, Cristina Junqueira, afirmou durante a cerimônia na Nyse que o sino de abertura das negociações marca uma nova fase para o banco digital. "Vamos continuar inconformados, sempre vai ter complexidade para a gente resolver, para melhorar a vida das pessoas", disse ela.
Com R$ 14,4 bilhões em caixa, a nova fase começa em grande estilo. A fintech terá recursos para hipertrofiar sua carteira de crédito, fazer novas aquisições e consolidar as operações internacionais. Mas passará a ser cobrada por uma multidão de investidores.
Apenas no Brasil, onde negociará Brazilian Depositary Receipts (BDRs), o Nubank terá mais de 8 milhões de investidores, um número maior que o da própria Bolsa de São Paulo. Uma parte considerável deles – 7,5 milhões, que ganharam um recibo cada através do NuSócios – terá um patrimônio pequeno, que só poderá vender a partir de dezembro do ano que vem. No primeiro dia de negociações, as BDRs da fintech subiram 20%.
O Nubank tratou o programa como peça central de seu IPO, em uma forma de recompensar seus clientes por levar a fintech tão longe antes mesmo de sua primeira década de existência. E foi um dos grandes acertos, segundo especialistas, pois a fintech conseguiu atrair várias pessoas que pouco conheciam a bolsa de valores para entender como funciona o mundo da renda variável.
“Pode ser uma grande jogada para fidelizar mais os seus clientes, pois eles podem começar a gostar da renda variável e perceberem que eles podem altos retornos nesse mercado”, diz Rodrigo Lima, analista da corretora Stake, especializada em investimento no exterior.
Dia de estreia
Após um longo leilão, para que acontecesse o ajuste entre a oferta e a demanda, as ações da empresa chegaram a ter um salto de quase 30% durante o pregão, o que a fez ter um valor de mercado acima dos US$ 50 bilhões temporariamente. O resultado foi considerado surpreendente para alguns analistas e fontes do mercado, que acreditavam que o mau momento passado pelas fintechs nas bolsas de todo o mundo (em especial as empresas brasileiras) poderiam impactar o ímpeto de compradores do Nubank, mas não foi o que aconteceu.
Mesmo assim, o fundador e presidente do Nubank, David Vélez, sabe que para manter a liderança e os números do valor de mercado da empresa lá no alto, precisará buscar rentabilidade assim como enfrentar uma competição mais acirrada com os grandes bancos, que estão ficando mais digitais a cada dia que passa. "Apesar de tudo, sinto como se estivéssemos no primeiro segundo da primeira metade desse jogo", disse ele.
Mercado arisco
A forte alta do Nubank surpreendeu parte do mercado, pois muitos investidores estão reticentes com as ações ligadas às fintechs, que estão sofrendo na bolsa americana. A empresa de maquininhas Stone, por exemplo, está com uma queda de quase 80% no ano, enquanto a sua rival PagSeguro registra uma redução de cerca de 50%. Até mesmo o gigante PayPal vale 40% a menos do que no pico deste ano.
“O receio com as empresas financeiras tem várias causas, como com a consistência do crescimento e aumento das taxas de juros no mundo”, afirma William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities.
Por isso, o dia eufórico da estreia pode não ser uma regra no futuro, pelo contrário: o contexto está desafiador. A deterioração das perspectivas para a economia, com a inflação ainda alta, a elevação da taxa Selic e a desaceleração da atividade podem afetar os planos de crescimento da companhia. Assim como o mercado tende a sentir os solavancos das eleições presidenciais de 2022.
Histórico
O Nubank foi fundado em 2013 pelo colombiano David Vélez, pela brasileira Cristina Junqueira e pelo americano Edward Wible. Desde então, o mais badalado banco digital do mundo já passou por 11 rodadas de captação e levantou, ao longo do tempo, cerca de US$ 2 bilhões, dinheiro que garantiu à fintech um rápido crescimento e um ganho meteórico do número de clientes.
Em uma das últimas rodadas, em junho, o Nubank acrescentou mais US$ 500 milhões em seu caixa. O dinheiro veio de um dos investidores mais famosos do mundo, o oráculo de Omaha, Warren Buffett, por meio de sua gestora Berkshire Hathaway. Agora, o megainvestidor ampliou sua aposta no IPO do banco digital.
O título de unicórnio veio no início de 2018, quando a fintech recebeu um aporte de US$ 150 milhões, em rodada liderada pela DST Global. Em 2019 foram mais US$ 400 milhões injetados na empresa, dessa vez atraindo a gigante chinesa Tencent - e sua avaliação saltou para US$ 10 bilhões. Antes disso a Tencent já tinha injetado US$ 180 milhões em outubro de 2018.
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