O número de mulheres investidoras cresceu ao longo das duas últimas décadas, saltando de 15 mil para 1,4 milhão no País. Só nos últimos dez anos, a quantidade de mulheres que investem em algum produto financeiro cresceu nove vezes (o número de homens cresceu 11 vezes). Ainda assim, o porcentual de brasileiras que investem o dinheiro na Bolsa é de 1,3% da população feminina brasileira - os homens que aplicam na B3 representam 4,3% da população masculina do País. Os dados são de um levantamento da XP Investimentos.
Apesar da evolução positiva, o relatório ressalta que a proporção entre investidores homens e mulheres não mudou tão notavelmente e, portanto, ainda há grande potencial para a entrada das brasileiras no universo dos investimentos. O relatório da XP mostra que cerca de 23% do total de investidores são mulheres, ligeiro aumento em relação aos 18% de 2002.
Jennie Li, estrategista de ações da XP, diz que o levantamento aponta um comportamento diferente entre homens e mulheres ao lidar com investimentos. “Elas têm mais aversão ao risco, são mais disciplinadas e mais pacientes. Fazem menos transações do que os homens, o que gera menos custos. No longo prazo, elas são menos confiantes, mas tendem a buscar mais a ajuda profissional do que os homens”, diz.
O estudo aponta ainda que as mulheres tendem a olhar menos vezes o saldo dos investimentos do que os homens, ou seja, são menos ansiosas em obter ganhos. Além disso, segundo Li, a filosofia de investimentos pode ser diferente. “As mulheres preferem fazer investimentos em ativos aliados aos seus valores, além da questão do retorno financeiro”, afirma.
Para Lai Santiago, educadora financeira da fintech de crédito Open Co, o perfil mais conservador entre as mulheres faz com que a grande maioria ainda prefira aplicar dinheiro na poupança. Além disso, os títulos de renda fixa, como o Tesouro Direto, também são populares nas carteiras de investimentos das brasileiras.
“Muitas vezes, pela falta de informações, as mulheres acabam escolhendo alternativas muito mais conservadoras, inclusive, ficando um pouco presas à poupança, que já é bastante obsoleta diante da quantidade de investimentos conservadoras que têm liquidez e dariam retorno significativamente superior”, diz.
Apesar de não serem maioria entre as investidoras, um levantamento da fintech Provu aponta que 71% das mulheres são a principal fonte de renda da casa. O relatório mostra ainda que 72,6% das mulheres focam em manter as contas em dia, fugindo da inadimplência.
“Apesar das mulheres serem a maioria com cursos superiores, a realidade é o oposto quando olhamos para as empresas e profissionais em cargos de liderança. Este cenário, porém, tende a mudar. As mulheres perceberam que para terem liberdade e tomarem as rédeas da sua vida é preciso ter independência financeira. Muitas assumem a liderança de suas famílias, sendo responsáveis pelas finanças”, afirma Valquiria Matsui, advogada e economista, sócia da empresa de tecnologia QI Tech.
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O relatório da XP aponta ainda que:
- O número de mulheres em posições de liderança em empresas de capital aberto no Brasil saltou de 9% em 2017 para 15% em 2022;
- 53 das empresas do ranking Forune 500 têm mulheres como CEOs;
- 7% das empresas brasileiras têm mulheres presidindo conselhos administrativos nas empresas listadas na B3 ante 14% no S&P500
Alessandra Gontijo, sócia e diretora comercial da fintech Investo, afirma que houve avanço na presença feminina em cargos executivos, mas há muito a melhorar no Brasil. “Vejo que o número de mulheres ocupando cargos de liderança no mercado financeiro cresceu bastante nos últimos anos, mas a realidade é que ainda há uma disparidade muito grande se compararmos com as lideranças masculinas. Na minha opinião, ver mulheres em posições de destaque é um grande incentivo para as demais, pois demonstra que, apesar de todos os obstáculos da carreira, é possível ascender profissionalmente sendo mulher”, diz.
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