Na disputa para ser uma das fornecedoras de soluções de privacidade para o real digital, projeto da agenda de competitividade e inclusão financeira do Banco Central (BC), a fintech Parfin, que atua com infraestrutura de mercado para ativos digitais e blockchain, se prepara para uma nova rodada de investimentos neste ano. A empresa também está perto de fechar contrato para oferecer suas soluções a uma grande empresa dos Estados Unidos.
A startup brasileira, fundada há apenas 3,5 anos, é uma das apontadas pelo mercado como candidata a se tornar “unicórnio” (startups com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão este ano). Ela disputa o contrato do BC com outras duas empresas. O teste-piloto para o projeto da moeda brasileira “tokenizada” será em maio e o relatório técnico que deve definir o vencedor será divulgado em junho.
Com 22 clientes, entre os quais a B3, Santander e XP, a Parfin conseguiu quadruplicar sua receita no ano passado, período ainda muito complicado para o segmento de startups que busca se reerguer da crise de 2020 e 2021. Para este ano, a expectativa do CEO Marcos Viriato é de no mínimo dobrar seus resultados. “Vamos começar uma expansão internacional e, dependendo dos resultados, pode ser mais.”
A Parfin já tem três clientes externos, nos EUA, na Bélgica e nas Bermudas, mas são pequenos. A estratégia agora é ter um primeiro contrato relevante nos EUA, o que abrirá portas para uma maior internacionalização. Hoje, 95% de sua receita vêm dos negócios no Brasil, mas a projeção é de que, em até três anos, 60% venha de fora.
Recentemente a startup, que tem 80 funcionários, fechou contrato com a Núclea (antiga Câmara Interbancária de Pagamentos - CIF) para construir uma infraestrutura própria na rede blockchain, que é base dos criptoativos e também do real digital. Em 2022, a Núclea processou R$ 19 trilhões em pagamentos.
A Parfin já levantou US$ 36 milhões em 2023 e estuda uma nova rodada de investimentos. “Os investidores estão cada vez mais seletivos, não tem aquele oba-oba (de 2020 e 2021) e as avaliações estão mais apertadas, olhando para empresas que conseguem entregar mais resultados”, diz Viriato.
Segundo ele, a empresa vai ser um unicórnio “um dia”, mas ele mesmo admite que a Parfin ainda é muito nova, levando em consideração que a maioria das startups que alcançaram valores de mercado de US$ 1 bilhão tinha entre seis e sete anos de mercado. “Acho que precisamos de mais uns dois ou três anos para chegar nesse estágio.”
Asaas hoje é ‘quase um banco’
A dificuldade em cobrar a clientela quando tinham uma empresa que desenvolvia softwares levou os irmãos Diego e Piero Contezini a criarem, em 2014, a Asaas, startup de cobranças também apontada como uma das candidatas a unicórnio este ano. Hoje, a empresa já é “quase um banco”, conforme define Diego, CEO da startup com sede em Joinville (SC), que emprega 570 pessoas e deve chegar a 800 neste ano.
Homologada pelo BC para atuar como instituição de pagamentos e como Sociedade de Crédito Direto (SCD), a Asaas já captou R$ 200 milhões e hoje tem 136 mil clientes ativos, entre pequenas, médias e grandes empresas e até pessoas físicas. “Cobramos cerca de 5 milhões de pessoas por ano e pelo menos 25% da população economicamente ativa já recebeu cobrança da Asaas”, diz Diego.
Segundo ele, a cobrança é feita antes de as pessoas ou empresas ficarem inadimplentes, totalmente de forma online. “Vinte dias antes do vencimento já começamos a enviar avisos por e-mail, WhatsApp e telefonemas.” Se a conta não é quitada, a dívida vai automaticamente para a Serasa.
Os pagamentos entram diretamente em uma conta aberta pela Asaas para o cliente, que também tem direito a cartão de crédito, operações via Pix e fazer pagamentos diretamente a seus fornecedores, por exemplo. A startup é remunerada com um porcentual da transação que teve sucesso, e não há mensalidades. “Na média, o cliente que usa nosso serviço aumenta em 43% a adimplência”, afirma Diego.
“Podemos até virar unicórnio em uma rodada em 2024, mas (caso não,) tenho certeza de que em até três anos a Asaas vai valer US$ 1 bilhão”, prevê Diego. Nos últimos cinco anos a Asaas tem dobrado sua receita, desempenho que espera repetir neste ano.
Em 2021, a startup adquiriu duas empresas, a Base ERP, de software de gestão financeira, e a Code Money. Com isso, ampliou a oferta de produtos. Até agora alcançou mais de R$ 20 bilhões de TPV (volume total de pagamento).