Rio - O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), reiterou nesta sexta-feira, 16, que prefere desagradar o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, a ver o fracasso de políticas públicas ligadas ao aumento da oferta de gás para a indústria e suas repercussões em emprego e renda.
“Entre agradar o Jean Paul e cumprir o compromisso do governo com a sociedade brasileira, de gerar emprego e combater desigualdade, prefiro que ele feche a cara mas que nós possamos lograr êxito na política pública”, disse. Esta semana, Silveira fez reiteradas críticas à política de reinjeção de gás em reservatórios de petróleo com o intuito de aumentar sua pressão interna e facilitar a produção de óleo.
Ontem, ele disse que Prates estava sendo “no mínimo negligente” com relação ao gás. Nesta sexta-feira, em seminário do grupo Esfera, no Rio, voltou a atacar a estratégia da Petrobras e disse que a companhia não lhe apresenta justificativa para reinjetar cerca de 44% do gás que produz. Não bastasse, ele disse que suas unidades de processamento de gás natural (UPGNs) estão “completamente sucateadas e poderiam estar produzindo muito mais”.
A jornalistas, porém, Silveira minimizou as rusgas entre o ministério e a Petrobras, e disse que o tema não deve ser personificado. “Queremos debater com seriedade a questão do gás, não só com a Petrobras, mas com as demais petroleiras. O gás vem sendo tratado há anos como um subproduto do petróleo. Entendo que é possível que esse gás chegue em maior quantidade e de imediato em menor preço para a gente gerar emprego”, continuou.
O ministro ainda reclamou do fechamento de duas fábricas de nitrogenados, uma em Camaçari (BA) e outra em Sergipe, o que atribuiu ao alto preço do gás. “Mais de dois mil empregos perdidos, por falta de preço de competitividade do gás”, disse.
Fatia na Braskem
Silveira também afirmou que a intenção do governo é que a Petrobras mantenha a participação na Braskem. Mas não respondeu se haverá movimento para que a estatal assuma o controle da petroquímica.
“Se depender do governo, a Petrobras continua, sim, na Braskem, porque a indústria petroquímica é estratégica nacional, fundamental para o crescimento econômico. Não há que se falar na gente perder o nosso protagonismo na indústria”, disse, no seminário.
Questionado sobre eventual aumento da participação da Petrobras na Braskem, Silveira tergiversou: negou-se a dar sua avaliação pessoal sobre o negócio e afirmou que é preciso aguardar as negociações privadas para, só depois, a Petrobras decidir se vai ou não exercer seu direito de preferência na compra de participação da sócia Novonor (ex-Odebrecht). Nos bastidores, comenta-se que a Petrobras está inclinada a não exercer o direito de preferência, mas manter sua posição.
Silveira fazia referência entre a negociação da Novonor e seus bancos credores com os ofertantes Apollo e Adnoc de um lado, e Unipar de outro. A Petrobras tem hoje 36% do capital total da Braskem, e 47% do capital votante. A Novonor tem 38,3% do capital total da Braskem, e 50,1% das ações com direito a voto.
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“Dentro do meu ‘estadismo’, não há como se passar o carro na frente dos bois”, disse o ministro sobre eventual tentativa da Petrobras para assumir o controle da Braskem. “Temos de ter serenidade, a Petrobras, que tem direito de preferência, e poderá exercê-lo ou não.”
“Uma coisa é parte privada da Braskem. As negociações se dão no âmbito privado e não há de se ter intervenção do governo. Outra coisa é a estratégia do governo com relação à indústria petroquímica. Eu entendo que é uma indústria estratégica”, completou.
Silveira definiu a petroquímica como uma extensão do setor de óleo e gás, para além do seu peso estratégico individual para o País.
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