O conselho de administração da Petrobras aprovou, em reunião realizada nesta sexta-feira, 24, o nome de Magda Chambriard como conselheira e a elegeu como nova presidente da companhia. “Magda Chambriard tomou posse em ambos os cargos nesta data e passou a integrar o conselho imediatamente, não sendo necessária a convocação de assembleia de acionistas para esse fim”, diz a estatal, em comunicado. Ela substitui Jean Paul Prates, que foi demitido do cargo pelo presidente Lula.
A aprovação era esperada, até porque o governo federal, que indicou Magda, é o maior acionista e tem maioria no conselho. O nome da executiva já havia sido aprovado esta semana no Comitê de Pessoas da estatal, que avaliou que a indicação preenchia “os requisitos necessários” previstos nas regras de governança da companhia e na legislação aplicável e está apta para ser apreciada pelo conselho de administração, sendo, portanto, elegível para ambos os cargos.
Magda é mestre em Engenharia Química pela Coppe/UFRJ (1989) e engenheira civil pela UFRJ (1979), com especialização em Engenharia de Reservatórios e Avaliação de Formações e especialização em Produção de Petróleo e Gás, na hoje denominada Universidade Petrobras.
Iniciou sua carreira na Petrobras, em 1980, atuando sempre na área de Produção, onde acumulou conhecimentos sobre todas as áreas em produção no Brasil.
Assumiu a diretoria da ANP em 2008 e a diretoria geral em 2012, tendo liderado a criação da Superintendência de Segurança e Meio Ambiente, Superintendência de Tecnologia da Informação, os trabalhos relativos aos estudos e elaboração dos contratos e editais, os estudos técnicos que culminaram na primeira licitação do pré-sal, além das licitações tradicionais sob regime de concessão.
O que o governo espera de Magda?
A Petrobras que a nova presidente, Magda Chambriard, encontra, ao tomar posse, é bem diferente da que o demitido Jean Paul Prates se deparou em janeiro de 2023. Não será preciso acabar com a política de preços de importação (PPI) e nem reduzir o nível dos dividendos, mas ela terá de entregar o que Prates não entregou, na avaliação do Planalto, como acelerar investimentos em grandes obras, ressuscitar a indústria naval brasileira e retornar aos setores de petroquímica e fertilizantes.
Para executivos próximos a Madga, o estilo firme demonstrado nos seus quatro anos à frente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) será mais do que necessário para atender às expectativas do governo e provavelmente rever algumas decisões da gestão anterior.
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Prates conseguiu conquistar investidores encontrando um meio-termo na questão dos dividendos, ao sugerir 45% do fluxo de caixa livre e pagar metade dos proventos extraordinários de 2023, além de ter lançado uma política de preços de combustíveis que abandonou a paridade internacional, mas não significou operação deficitária. Ele também tocava a transição energética da companhia com cautela e planejava seguir em sociedades na Braskem e em eventual retorno à Refinaria de Mataripe. Outra novidade foi a política de recompra de ações, cuja continuidade é dúvida ante o desembarque de Prates.
“Acreditamos que todos esses pontos passarão por uma reavaliação com a nova gestão da empresa”, disse a Ativa Investimentos em nota, quando o nome de Magda foi anunciado. No documento, a corretora avaliou a troca de comando como negativa, por aumentar o “risco político” que envolve a companhia. Analista da casa, Ilan Arbetman destacou que Prates se “equilibrava entre interesses econômicos e políticos com sabedoria” sempre reforçando o compromisso com o investidor privado.
Dividendos
Ao Estadão/Broadcast, o ex-conselheiro da Petrobras e advogado de acionistas minoritários Leonardo Antonelli avaliou que não deve haver mudanças no nível de dividendos pagos pela companhia (45% do FCL), mesmo porque o Ministério da Fazenda tem interesse na fonte de recursos para o Tesouro.
A leitura é similar ao do chefe do departamento de análises do UBS-BB, Luiz Carvalho. Em relatório, o banco aponta que a troca de comando não deve mudar a empresa por enquanto e que, apesar das incertezas do mercado no curto prazo, está mantida a leitura de que a Petrobras é uma operadora de petróleo “resiliente e eficiente”, com ativos de produção de classe mundial e governança, capaz de manter a racionalidade da alocação de capital e retorno aos acionistas.
O maior risco, lista o UBS BB, são interferências políticas externas, um dos pontos de desgaste de Prates, que tentou blindar a companhia do Ministério de Minas e Energia e da Casa Civil.
Investimentos
Para pessoas ouvidas pelo Estadão/Broadcast, além dos dividendos, Magda terá de lidar com as expectativas do governo de acelerar grandes obras, como a do polo Gaslub e da Rnest, a retomada das fábricas de fertilizantes, encomendas de equipamentos para sistemas de produção e navios à indústria nacional. Na avaliação do Planalto, tudo isso teria andado devagar sob Prates, deprimindo o volume de investimentos da empresa.
Segundo fontes, no ritmo que vinham os investimentos da companhia, os US$ 102 bilhões previstos no plano estratégico até 2028 acabariam na casa dos US$ 70 bilhões. Outra fonte diz que a demanda real por navios pela Transpetro, subsidiária de transporte da Petrobras, chega a 26 unidades, mas a gestão Prates teria incluído apenas quatro no plano estratégico. A principal missão de Magda na empresa, portanto, será dar tração a esses gastos.
Combustíveis, refino e E&P
Com relação à política de preços de combustíveis, Magda chega em momento confortável, de encolhimento da defasagem dos preços praticados pela estatal frente aos internacionais graças à depreciação da cotação internacional petróleo. Hoje, essa defasagem é só de 5% na gasolina e 2% no diesel.
Quanto a refino e exploração, pelas declarações mais recentes de Magda, a tendência é mesmo de continuidade. Em declarações públicas, Magda defendeu o aumento da capacidade de refino da companhia, tal qual feito por Prates, e deu declarações favoráveis à ida da companhia à Margem Equatorial, onde sofre resistências da ala ambiental do governo.
Governança
De acordo com Marcelo Frazão, sócio da área de Energia do Campos Mello Advogados em cooperação com DLA Piper, a principal preocupação é uma nova mudança na presidência da companhia, mas outros pontos também estarão na mira do mercado e de especialistas como as posições de Magda em relação a questões como mercado de gás natural, transição energética e governança. Frazão destacou que Prates vinha tendo uma interação positiva com o mercado de capitais, “se equilibrava bem com os acionistas”. E agora, segundo o advogado, o mercado vai querer saber quais os compromissos assumidos pela nova presidente da companhia com o controlador.
Gás
Qual será o papel do mercado de gás na nova gestão? A pergunta, segundo Frazão, vai ser feita pelo mercado, que teme a volta da Petrobras como construtora de infraestrutura, como era no passado, e voltar a ser monopolista. “Com essa troca vamos precisar entender se a Petrobras vai continuar com esse comportamento ou vai retroceder?”, indagou, ressaltando que Magda sempre foi defensora do mercado de gás.
Transição energética
Prates assumiu um compromisso claro com a transição energética, antes um assunto menor na companhia. Os investimentos, porém, são de longo prazo, o que desagradou a área política do governo, que prefere obras de curto e médio prazo. Segundo Frazão, Magda terá que escolher entre investir na tecnologia do futuro (eólicas offshore, hidrogênio verde) ou em projetos de efeitos imediatos. “Tem que ficar atento a isso, não pode querer só emprego e renda e ignorar a transição (energética)”, destacou Frazão.
Gerentes
Outra cobrança que será feita à nova presidente da Petrobras será a demissão de gerentes herdados da gestão Bolsonaro. Segundo membros da companhia, muitos estão lotados na diretoria de Sustentabilidade e Transição Energética e têm sido obstáculos para a concretização de projetos. Outros diretores também podem deixar a companhia coma entrada de Magda. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, os cargos dos diretores de Exploração e Produção, Joelson Mendes, e o diretor de Engenharia, Tecnologia e Inovação, Carlos Travassos, também estariam em risco.
“Existe uma preocupação que a mudança de presidente traga também mudanças de diretores e gerentes que atrapalham as decisões de investimento da companhia. Será que os substitutos serão nomeações técnicas ou políticas?”, questionou Frazão, lembrando que a Petrobras é uma empresa mista e deve satisfação a milhares de acionistas.
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