PetroReconcavo vai construir nova unidade de processamento de gás para ter independência na Bahia

Petroleira vinha utilizando uma UPGN da Petrobras na Bahia; nova unidade no Rio Grande do Norte também é avaliada

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RIO - A petroleira baiana PetroReconcavo vai construir uma segunda Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) na Bahia para dar independência às operações da petroleira no Estado — hoje dependente da UPGN Catu, da Petrobras — e reduzir à metade o custo com processamento do produto.

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O vice-presidente comercial e de novos negócios da companhia, João Vitor Moreira, disse ao Estadão/Broadcast que o empreendimento vai permitir maiores margens e, também, a redução do preço da molécula na ponta. Fundada em 1997, a PetroReconcavo é uma das petroleiras independentes mais tradicionais do Brasil e segue produzindo em campos maduros em momento de amadurecimento do chamado mercado de “junior oils” no País.

Moreira detalhou à reportagem os planos de construção da infraestrutura a um custo total aproximado de US$ 60 milhões. A PetroReconcavo ainda negocia os detalhes finais do contrato EPC (engenharia, gestão de compras e construção) e deve anunciar a empresa responsável nas próximas semanas. A petroleira, afirmou o executivo, pode tanto arcar com os custos por meio de equity, quanto captar novamente recursos no mercado de dívidas, visto que tem baixa alavancagem, com relação dívida líquida/Ebitda próxima a 0,6 vez.

O vice-presidente comercial e de novos negócios da PetroReconcavo, João Vitor Moreira, diz que o empreendimento vai permitir maiores margens e, também, a redução do preço na ponta Foto: Breno Vasconcelos

O planejamento é que a UPGN Miranga, instalada no polo de produção de gás natural de mesmo nome, seja construída entre 2025 e 2026, passando por ajustes finais e licenciamento junto à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) ao longo de 2027, com prazo final em dezembro daquele ano. A previsão é que a unidade opere regularmente em 2028.

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Segundo o executivo, a companhia segue avaliando a construção de uma UPGN própria no Rio Grande do Norte. A alternativa seria buscar novas melhorias nas condições contratuais com a Brava Energia, empresa dona da UPGN de Guamaré, onde a PetroReconcavo processa o gás natural produzido no estado. A Brava é a empresa resultante da fusão entre 3R Petroleum e Enauta.

Mudança na Bahia

A nova unidade na Bahia terá uma capacidade inicial de 950 mil metros cúbicos (m³) por dia, com possibilidade de expansão para até 1,5 milhão m³/dia.

Hoje a PetroReconcavo utiliza principalmente a UPGN de Catu, da Petrobras, na qual processa cerca de 1 milhão de m³/dia de gás, o equivalente a dois terços da capacidade total da planta da estatal. Na Bahia, a petroleira já tem uma UPGN própria, São Roque, ligada diretamente à malha de distribuição da Bahiagás e que, atualmente, processa 200 mil m³/dia, metade da capacidade instalada.

“A UPGN Catu (Petrobras) opera desde a década de 1970 e todos os demais produtores do onshore na Bahia precisam acessar essa planta, o que poderia ser um gargalo para a nossa produção no futuro”, diz Moreira. Segundo o executivo, a manutenção da operação nos moldes atuais, vinculada às instalações da Petrobras, poderia comprometer o plano de incremento da produção da PetroReconcavo a partir de 2027.

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Redução no custo de processamento

“Além disso, tem um racional econômico muito forte: estimamos uma redução de 50% no custo de processamento na comparação com o que a Petrobras nos cobra hoje. Isso passa pelo fato de que vai ser um ativo mais novo, enxuto e adaptado a tecnologias atuais”, acrescenta.

Segundo Moreira, a “filosofia” do projeto olha para a capacidade maior, de 1,5 milhão m³/dia. “Vamos construir e licenciar para 950 mil m³/dia, o suficiente por enquanto. Mas quando for preciso, faremos uma expansão rápida, por meio de trocas e ajustes na planta”, explica.

Ele acrescenta que essa expansão pode vir na esteira de uma demanda externa, com a PetroReconcavo atuando como prestadora de serviço a terceiros, conforme compartilhamento de infraestrutura previsto na nova lei do gás. “Não contamos com isso nesse momento, mas, hoje, nada impede que um player interessado pleiteie e a gente franqueie o uso de uma parte da capacidade da UPGN”, afirma.

Conexão com malha de transporte

À diferença da UPGN São Roque, a planta a ser instalada no Polo Miranga será conectada à malha da transportadora TAG, mas sem a necessidade de construção de gasodutos relevantes. “Vamos usar a malha que já estava lá, fazendo a menor turbulência possível no sistema que já existe”, disse o executivo ao justificar a instalação da nova planta próxima à interconexão já existente da UPGN Catu com a malha da TAG.

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“Gostamos muito da Bahiagás, mas não queremos ficar expostos a um único cliente. Temos contratos com Potigás (RN), Copergás (PE), Sergás (SE) e outras distribuidoras. Queremos acessar todo o mercado via transporte e, por isso, vemos muito valor nessa interconexão com a TAG”, afirmou o vice-presidente da PetroReconcavo.

Como fica operação no Rio Grande do Norte

No Rio Grande do Norte, por ora, nada muda e a petroleira segue utilizando largamente a UPGN Guamaré, da Brava.

Segundo Moreira, as tratativas com a direção da Brava, presidida por Décio Oddone, são boas e uma prova disso seria a postergação dos contratos de uso da infraestrutura neste segundo semestre. Ainda assim, disse ele, a PetroReconcavo segue avaliando a opção de construir uma planta própria na região.

“Nossa filosofia é avaliar opções que existem e uma opção é sim construir uma planta própria. Existe capacidade para todo mundo que produz lá e seria muito mais eficiente que as duas empresas chegassem a uma solução satisfatória. Seguimos avaliando o cenário, porque ainda precisamos de uma solução melhor do que a existente hoje. Precisamos de um contrato que não estimule uma solução independente”, disse o vice-presidente da PetroReconcavo.

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Segundo Moreira, no Rio Grande do Norte, a questão é puramente econômica, e não passa por uma limitação de capacidade — como na Bahia —, uma vez que a Brava é dona de três plantas com capacidade total de 5 milhões de m³/dia, o que seria mais do que o suficiente para acolher as expansões da sua própria produção e da PetroReconcavo.

“Guamaré tem 1,5 milhão m³/dia de capacidade de processamento, do qual tomamos pouco menos de um milhão. Mas ainda existem duas plantas ociosas (da Brava) que, junto com a primeira, perfazem uma capacidade total de 5 milhões m³/dia de gás”, detalhou.

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