Quais são as empresas que controlam a produção de cimento no Brasil; veja ranking

Cinco grupos - Votorantim, CSN, InterCement, Mizu e Cimento Nacional - detêm mais de dois terços das vendas do insumo no País, que somaram 65 milhões de toneladas em 2024

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Foto do author Ivo Ribeiro
Atualização:

Centenária, a indústria de cimento no Brasil abriga 93 fábricas, espalhadas nas cinco regiões. O marco da produção no País é de 1924 e a atual capacidade de produção atinge 94 milhões de toneladas por ano. A operação é feita por 12 grupos de grande e médio porte (sete nacionais, quatro estrangeiros e um de capital compartilhado), além de 11 pequenas empresas com foco microrregional.

Nos últimos anos, o setor enfrentou uma forte estagnação, o que impulsionou um movimento de consolidação, com aquisições por empresas estrangeiras e nacionais. Apesar dos sinais de recuperação no último ano, o consumo ainda está abaixo dos níveis de 2014. A demanda, impulsionada pela autoconstrução e programas como Minha Casa, Minha Vida, enfrenta desafios como juros altos e baixa infraestrutura. Desde 2015, a crise levou ao fechamento de 20 fábricas e fornos e pedidos de recuperação judicial. De lá para cá, tem havido uma reconfiguração dos grupos no setor, com alguma descentralização das unidades.

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A dimensão continental do País explica o número de fabricantes e unidades em lugares distantes — o custo do frete é um elemento que pesa muito na competição do setor. Porém, a indústria ainda está concentrada em duas regiões: Sudeste e Nordeste, onde estão instaladas 70% das fábricas. No ciclo de investimentos visto após 2010 houve maior interiorização para o Centro-Oeste e Norte.

Algumas cimenteiras têm vocação mais regional; outras, atuação nacional. A Votorantim Cimentos é a única com presença nas cinco regiões, com 24 unidades em operação. Três grupos também se destacam: a InterCement (em quatro regiões), seguida por CSN e Mizu, em três. O grupo italiano Buzzi, que assumiu a Brennand Cimentos, também ampliou seu raio de atuação após fazer uma grande aquisição no final de 2020: está no Nordeste e Sudeste.

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No perfil do setor, mesmo com o elevado número de concorrentes, cinco cimenteiras - Votorantim, CSN, InterCement, Mizu e Buzzi - detêm próximo de 80% das vendas e da capacidade efetiva de produção no País.

A Região Sudeste representa 49% da produção e responde por 42% do consumo. No último ciclo de expansão, o Nordeste deu grande salto: detém 20% e 22%, respectivamente.

O consumo per capita está na faixa de 300 quilos por ano (quase 400 quilos no Centro-Oeste), 18% abaixo dos 362 quilos de 2014. O Brasil é sexto maior produtor e consumidor mundial de cimento, atrás de China, Índia, Vietnã, EUA e Turquia.

O ranking abaixo considera a capacidade instalada de cada fabricante. Algumas são estimadas.

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Votorantim Cimentos - Família Ermírio de Moraes

Fábrica da Votorantim Cimentos em Rio Branco do Sul, no Paraná Foto: Divulgação

Dona da maior fábrica de cimento da América do Sul, em Rio Branco do Sul (PR), a cimenteira da família Ermírio de Moraes, que é líder em vendas e em capacidade instalada, opera 24 fábricas no País, sendo 16 integradas e 8 de moagem. A empresa está presente nas cinco regiões e estima-se em 32% a participação no mercado brasileiro.

A história da Votorantim Cimentos começa em janeiro de 1936 com a inauguração da fábrica Santa Helena, no município de Votorantim (SP), próximo de Sorocaba. Criou a marca Votoran, que existe até hoje. Na trajetória de 89 anos, diversificou os negócios e expandiu-se para todas as regiões do País. A expansão foi calcada em novas plantas e aquisições de concorrentes.

A VC contava com suporte do grupo Votorantim, fundado em 1918 pelo português Antônio Pereira Inácio e, continuado pelo genro José Ermírio de Moraes e depois pelos filhos, netos e bisnetos — está na quinta geração. O grupo se aproveitou de condições econômicas favoráveis ao longo das décadas, incluindo a consolidação do processo de industrialização, dizem historiadores.

A internacionalização veio em 2001, com a compra de ativos no Canadá e EUA. O processo é acelerado em 2007, quando avança na América do Sul adquirindo participações acionárias em cimenteiras da Argentina, Uruguai, Chile e Bolívia; cinco anos depois, entra na Europa, África e Ásia (mercados de Espanha, Marrocos, Tunísia, Turquia, Índia e China), recebendo ativos em troca de sua posição de 21,21% na portuguesa Cimpor, operação feita com o ex-grupo Camargo Corrêa.

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Atualmente, a VC é a 7ª maior fabricante de cimento do mundo em capacidade instalada e produz outros materiais de construção: argamassas, concreto (que estreou em 2022 ao comprar a Engemix) e agregados. É também líder na produção de insumos agrícolas.

Presente em 11 países, em cimento, no Brasil, tem capacidade de fabricar 34,4 milhões de toneladas por ano. Com o exterior, atinge 57 milhões. Desde 2015, desinvestiu na China, Índia, Chile, e em 2024 de Tunísia e Marrocos. Ao mesmo tempo, reforçou os negócios na Espanha, EUA e Canadá com várias aquisições, ampliando a geração de receita em moeda forte (dólar e euro).

Em 2023, a VC vendeu globalmente 37 milhões de toneladas de cimento. Estima-se que próximo de 60% do volume seja oriundo do Brasil: a empresa não revela dados por país. A receita líquida consolidada foi de R$ 26,7 bilhões (48% no País), representando 55% do faturamento do grupo.

CSN Cimentos - Família Steinbruch

Complexo industrial de aço e cimento da CSN na cidade Volta Redonda (RJ), onde a empresa montou sua primeira cimenteira em 2009 Foto: Foto: CSN Cimentos/Divulgação

Grande produtora de aço laminado plano no País, o grupo CSN, controlado pelo empresário Benjamin Steinbruch, entrou no setor de cimento em 2009 ao construir uma fábrica (moagem) ao lado de sua usina siderúrgica de Volta Redonda (RJ). A localização visou o uso de escória oriunda dos altos-fornos para fazer a mistura do cimento com clínquer (item oriundo do calcário).

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O próximo passo foi investir numa fábrica integrada em Arcos (MG), utilizando calcário de reservas próprias. Os dois ativos garantiram à CSN capacidade de 4,6 milhões de toneladas por ano a partir de 2013. Nova rota, de crescimento, considerada agressiva e ousada, foi adotada a partir de 2021, por meio de aquisições, aproveitando venda de ativos.

Primeiro incorporou a Cimento Elizabeth, na Paraíba; no ano seguinte, o parque fabril da LafargeHolcim, que era terceira do ranking de produtores no País, mas decidiu sair do Brasil em razão de nova estratégia global. Com desembolso da ordem de R$ 6,5 bilhões nos dois negócios, a CSN saltou da sexta para a segunda posição de mercado, com cerca de 21% das vendas no País em 2024.

A companhia de Steinbruch passou de duas para 14 fábricas espalhadas em sete Estados do Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, com capacidade para 17 milhões de toneladas por ano. Fez quase 14 milhões em 2024, com receita na casa de R$ 4 bilhões.

Durante sete meses, no ano passado, a CSN tentou comprar a InterCement, um negócio na casa de R$ 10 bilhões (com assunção de total de dívidas). A aquisição permitiria Steinbruch dobrar o tamanho do negócio no País, com outras 14 fábricas) além de nove na Argentina. Com isso, poderia assumir a liderança de mercado no Brasil, bem como no país vizinho. Sem acordo, a InterCement entrou em recuperação judicial (ver abaixo). A CSN informa que retomou o plano de expansão com projetos engavetados de novas fábricas, uma no Paraná e outra em Sergipe.

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InterCement - Família Camargo

Fábrica do gruo InterCement na cidade de Ijaci (MG), que começou a operar em 2003, MG  Foto: Foto: InterCement/Divulgação

Em recuperação judicial desde dezembro, a InterCement é a terceira maior produtora nacional de cimento, com cerca de 13% das vendas. Conta com 15 fábricas — dez em operação, quatro hirbernadas e uma com a construção paralisada há anos. No total, a empresa dispõe de capacidade de produção de 17,2 milhões de toneladas no Brasil.

A controlada argentina Loma Negra, que não foi incluída na ação, opera 8 fábricas, com mais 12 milhões de toneladas. Nos dois países, a produção do ano passado é estimada em 14 milhões de toneladas e receita consolidada pouco acima de R$ 7 bilhões.

A história começa em 1967 com Sebastião Camargo, que havia fundado em 1936 as raízes da empreiteira Camargo Corrêa com seu sócio, Sylvio Corrêa. O empresário vislumbrou nas jazidas de calcário que afloravam na região de Apiaí, sul de São Paulo, a chance de entrar em um novo negócio, ligado à atividade da sua empresa de construção pesada. Ao longo dos anos, a Camargo Corrêa montou um império empresarial diversificado, com atuação em vários setores industriais, de construção, financeiro, energia e serviços.

A primeira fábrica de cimento, em Apiaí, foi inaugurada em 1974, apta a fazer 800 mil toneladas por ano. Com a expansão da demanda no País, em 1991 chegou ao Centro-Oeste. A expansão veio com novas fábricas e aquisições, como a Cauê, em Minas Gerais. Camargo faleceu em 1994 e o grupo manteve o ritmo de expansão no cimento. Após investir R$ 360 milhões na mais moderna e maior fábrica, em Ijaci (MG), concluída em 2003, o grupo partiu para um plano mais arrojado de crescimento.

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Em 2005 arrematou a por US$ 1 bilhão a Loma Negra, maior cimenteira da Argentina, dona de 45% do mercado. Visando ser um player de peso global, cinco anos depois, em uma disputa acirrada com Votorantim e CSN, o grupo assumiu o controle da portuguesa Cimpor, que tinha presença em vários países: Portugal, Espanha, Brasil, Índia, China e em vários países da África. Parte dos ativos foi passada à Votorantim, que tinha 21,21% na empresa.

Com esse movimento, a divisão de cimento do grupo se endividou em € 3 bilhões (hoje equivalente a R$ 18 bilhões). Com a crise no setor no Brasil e o encarecimento da dívida, a partir de 2015 a InterCement lançou um plano de saneamento financeiro. Em 2017, vendeu metade da Loma Negra nas bolsas de Nova York e Buenos Aires por US$ 1,1 bilhão, e desde 2018 ativos em Portugal, Paraguai, Egito, Moçambique e África do Sul. Levantou total de cerca de US$ 2,4 bilhões (quase R$ 14 bilhões).

Não foi suficiente. No final de 2023, sem recursos para iniciar pagamentos de juros de debêntures emitidas (R$ 4,7 bilhões), a empresa foi colocada à venda. Recebeu ofertas da CSN (por Brasil e Argentina) e de outros grupos. Sem sucesso, com endividamento de R$ 10 bilhões, incluindo juros e um título estrangeiro (notes) de R$ 3,5 bilhões, no início de dezembro a empresa e sua controladora Mover (ex-Camargo Corrêa) pediram recuperação judicial, com dívida total de R$ 14,5 bilhões. A reorganização desse passivo depende de aprovação de plano levado aos credores em 10 de fevereiro de 2024.

Mizu Cimentos - Família Vieira

A história da cimenteira tem origem na criação do grupo Polimix, maior fabricante de concreto do País. Controlada pela família Vieira, que tem o empresário Ronaldo Vieira à frente dos negócios, a Polimix começou a operar em 1976 em serviços de concretagem com o nome Concaprex, em Serra (ES). Em 1981, faz a aquisição da Polimix Concreto e inicia suas atividades na Grande São Paulo.

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Ao longo dos anos, Vieira entrou em vários negócios, por crescimento orgânico e por aquisições. O próximo passo foi se internacionalizar: a Polimix está na Argentina, Bolívia, Peru, Colômbia, Panamá e Estados Unidos.

Do concreto para fabricação de cimento foi um pulo. Em 1998, também em Serra, ao lado da usina de aço da ArcelorMittal Tubarão (antiga CST), que lhe fornece o insumo escória siderúrgica, nasceu a primeira fábrica de cimento, com o nome Mizu. Hoje é quarta maior fabricante de cimento do País e dona de cerca de 10% da capacidade instalada nacional.

A companhia passou a operar, desde o ano passado, 11 fábricas de cimento no País com a aquisição da Cimar, no Maranhão, dona da marca Bravo, que era dos grupos Cornélio Brennand e Queiroz Galvão. Em julho de 2022, arrematou em leilão judicial a unidade fabril de Sergipe do grupo João Santos, que se encontrava em crise financeira, por R$ 350 milhões. A Mizu investiu mais R$ 250 milhões na revitalização da fábrica, que estava inativa desde 2015, que ficou apta a produzir 1 milhão de toneladas em novembro do ano passado.

A Mizu está presente em 14 Estados, do Amazonas a São Paulo, com unidades fabris e centros de distribuição. São duas fábricas na região Norte, cinco no Nordeste e quatro no Sudeste. Com a incorporação dos novos ativos, a Mizu tem capacidade para fabricar mais de 10 milhões de toneladas de cimento por ano. Com vários negócios, o conglomerado Polimix é controlado por uma série de cotistas integrantes da família por meio de uma estrutura de fundos.

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Cimento Nacional - Grupo Buzzi

Fábrica integrada de cimento da Companhia Nacional de Cimento, do grupo Buzzi, em Sete Lagoas (MG)  Foto: DIVULGAÇÃO/CNC

A Cimento Nacional é uma companhia criada por Ricardo Brennand Filho, marcando o retorno de um ramo da família pernambucana Brennand ao setor cimenteiro, de onde havia saído em 1999. A primeira unidade fabril foi inaugurada em 2011, em Sete Lagoas (MG), num momento de crescente demanda de cimento no mercado brasileiro. Destacou-se como uma das mais modernas fábricas da geração de ativos erguidos após 2010 no País.

Em meio à euforia da época, com perspectivas de maior consumo devido às obras para Copa do Mundo (2014) e Olimpíada (2016), Brennand Filho decidiu dobrar a aposta e investiu na instalação de outra fábrica, desta vez em Pitimbu (PB). O mercado do Nordeste mostrava demanda robusta por cimento. A unidade foi inaugurada em 2015, quando a festa tinha chegado ao fim um ano antes.

Com dificuldades financeiras, o empresário buscou investidor para aportar capital em seu negócio cimenteiro. A Buzzi, gigante italiana, entre as 20 maiores do mundo, pagou R$ 700 milhões por 50% da Cimento Nacional, em 2018, marcando a entrada do grupo italiano no Brasil. Com o suporte financeiro da sócia, em novembro de 2020 a empresa comprou, por R$ 1,22 bilhão, os ativos da irlandesa CRH, que decidiu ir embora.

Com o negócio, a Nacional adicionou quatro fábricas: Arcos, Matozinhos e Santa Luzia, em Minas Gerais, e Cantagalo (RJ). A capacidade saltou para 7,2 milhões de toneladas anuais (equivalente a 7,7% do volume total do Brasil). Em maio de 2024, Brennand Filho decidiu exercer a opção de venda de sua participação à sócia. O negócio foi fechado por R$ 1,7 bilhão e o empresário deixou o setor.

Sediado em Monferrato, o grupo familiar italiano, fundado em 1907, tem operações em 14 países, inclusive nos Estados Unidos. A capacidade de produção é de 40 milhões de toneladas por ano, conforme dados de 2023. Listada na bolsa italiana, em 2023 a Buzzi gerou receita líquida de € 4,3 bilhões (equivalente, hoje, a R$ 25,78 bilhões).

Ciplan Cimento - Grupo Vicat

Instalações de produção de cimento. com mina de calcário, da Ciplan, em Sobradinho, Distrito Federal  Foto: Ciplan/Divulgação

Localizada em Sobradinho, no Distrito Federal, a Ciplan-Cimento Planalto S/A foi fundada em 1968 pela família Atalla, formada por quatro irmãos com o mesmo nome: Jorge. Liderada por Jorge Volney Atalla, a família adquiriu uma pequena fabricante de cimento criada para atender às obras no processo de formação e expansão de Brasília. A cimenteira é conhecida por participar de obras importantes, como a Catedral de Brasília, a Ponte Juscelino Kubitschek e o Estádio Mané Garrincha.

Ao longo dos anos, a cimenteira ganhou robustez, ampliando as vendas em Goiás e outros Estados da região do Centro-Oeste e avançando em Minas Gerais. Atualmente, a Ciplan está apta a fabricar 3,2 milhões de toneladas ao ano (3,4% do parque fabril do País), além de operar centrais de concreto e produzir agregados (brita e areia).

Em 2018, o controle da Ciplan foi vendido ao grupo francês Vicat. Era o ativo mais líquido dos Atalla naquele momento, que buscavam sanear dificuldades financeiras, conforme apurou o Estadão. A família tinha outros negócios: uma usina de de açúcar e álcool e empreendimentos imobiliários no Paraná.

A cimenteira francesa desembolsou € 290 milhões (R$ 1,25 bilhão, na época) por 65% das ações - atualmente, a participação é de 76%. A família tem menos de um quarto das ações após diluições com aumentos de capital.

O negócio representou a entrada da tradicional companhia francesa no mercado brasileiro. Além da França, a Vicat está nos EUA, Turquia, Egito e Índia. A sua origem remonta a 1817, quando Louis Vicat inventou o cimento artificial.

Cimento Itambé ― Família Slaviero

Prestes a completar 50 anos desde a expedição de seu primeiro saco de cimento, em 1976, a Cia. de Cimento Itambé tem uma única fábrica, situada em Balsa Nova, a 32 km de Curitiba. A empresa atualmente está apta a produzir 2,8 milhões toneladas, em sistema integrado, desde a mineração do calcário até moagem do cimento em um forno. Para isso, tem reservas da matéria-prima acima de 300 milhões de toneladas. A Itambé atua na Região Sul e avança para os Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul.

A empresa surgiu com o Grupo Slaviero, comandado por Fioravante Slaviero, imigrante italiano que começou os negócios com uma madeireira em Irati (PR). Após sua morte, em 1956, os filhos desenvolveram vários ramos de negócios: de comércio de madeira, cimento, fábrica de palitos de fósforos a revenda de veículos, caminhões e máquinas agrícolas e reflorestamento. A família se consolidou como um dos sobrenomes mais importantes do Paraná.

A cimenteira começou em 1968 como a Empresa Itambé de Mineração, fazendo pesquisa de bens minerais, principalmente calcário, em Campo Largo (PR). O objetivo era partir para uma fábrica de cimento voltada ao mercado do Sul. Em 1970 tornou-se uma S.A. e mudou o nome para o que tem até hoje. No mesmo ano adquiriu uma área às margens da rodovia BR-277, em Balsa Nova, onde instalou sua atual fábrica com capacidade inicial de fazer 400 mil toneladas por ano.

Cimento Nassau - Grupo João Santos

Fábrica da Cimento Nassau, do Grupo João Santos, em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo Foto: Cimento Nassau/Divulgação

Nascido em Serra Talhada, interior de Pernambuco, João Pereira dos Santos fundou a cimenteira em 1951, a qual se transformaria em um grande grupo empresarial. A Nassau, nos áureos tempos, chegou a ser a segunda maior fabricante de cimento do País, competindo com a Votorantim. A empresa se diversificou, pelo dinamismo do fundador ― chamado de “empreendedor destemido” ―, criando negócios em diversos setores: de cimento a papel, transporte, mineração e produção de açúcar.

Santos, luso-brasileiro, pode se dizer que foi um ‘self-made-man’. De acordo com historiadores, teve origem modesta e trabalhou, quando menino, na Fábrica Nacional de Linhas, de Delmiro Gouveia (um dos pioneiros da industrialização brasileira e da construção de hidrelétricas no País). O nome dado à cimenteira foi em homenagem a Maurício de Nassau, que representou a invasão holandesa no Brasil no século XVII e viveu em Recife. A Nassau concentrou atuação nos mercados do Nordeste e do Norte.

O conglomerado começou a entrar em colapso com a morte do patriarca em 2009, aos 102 anos de idade. Sem sua presença, o grupo foi envolvido por brigas entre os herdeiros no processo de partilha e gestão dos ativos. Nesse período, chegou a ser alvo de aquisição de estrangeiros, que recuaram diante de contingências fiscais e trabalhistas da Nassau. Acusada de sonegação e de lavagem de dinheiro pela gestão de dois filhos de Santos, em 2021, a Polícia Federal fez a Operação Background contra o grupo.

Em crise, em 2022, João Santos pediu recuperação judicial, envolvendo 43 empresas e dívida de R$ 13 bilhões e teve uma de suas fábricas, em Sergipe, leiloada pela Justiça para quitar dívidas trabalhistas. Foi adquirida pela concorrente Mizu. Em 2023, fez acordo com a União para quitar mais de R$ 10 bilhões em impostos e dívidas trabalhistas. Os irmãos Fernando e José, devido aos escândalos, foram afastados.

Hoje a Nassau, que em 2010 produzia 6,4 milhões de toneladas de cimento, está reduzida a um terço. Chegou a ter 11 fábricas de cimento, com participação de 14% das vendas nacionais. Segundo informações da empresa, em 2024, operava com quatro fábricas (PA, MA, RN e ES) e previa reativar mais duas. A capacidade atual é estimada em 2,5 milhões de toneladas ao ano. O plano de recuperação judicial, em execução, foi aprovado no inicio de julho de 2024.

Cimento Tupi - Família Korányi Ribeiro

Tradicional cimenteira do Rio de Janeiro, fundada em 1949, a Cimento Tupi pertence à família Korányi Martins Ribeiro. Os Korányi são de origem húngara e Marie Elisabeth Korányi Martins Ribeiro é a principal herdeira dos ativos que hoje estão sob o guarda-chuva da Tupi. O negócio é gerido pelo marido, Carlos Alberto Palhano Martins Ribeiro, e por filhos do casal.

No início dos anos 2000, o grupo começou enfrentar uma série de problemas financeiros e de gestão do negócio. Em 2006, teve de vender uma fábrica que era da controlada CP Cimento, situada em Ribeirão Grande (SP), à Votorantim para aliviar os passivos. Permaneceu com a Cimento Tupi.

A situação se agravou novamente em 2012/13 ao investir na expansão da fábrica Pedra do Sino, em Carandaí (MG). Os recursos foram lastreados por emissões de títulos estrangeiros (notes) e linhas de financiamento em dólar. Na moeda americana, a dívida atingiu US$ 600 milhões (R$ 3,3 bilhões pelo câmbio da época).

A crise do setor a partir de 2015 mais a desvalorização cambial geraram severa crise financeira na Tupi, que não viu saída a não ser pedir recuperação judicial em 2021, arrolando passivo total de R$ 3,4 bilhões. O investimento na fábrica mineira duplicaria a capacidade para 2,5 milhões de toneladas, a partir de 2014, último ano da grande onda de consumo de cimento no País.

Fundada em 1949 como Companhia de Cimento Vale do Paraíba, a Tupi foi responsável por lançar no Brasil o primeiro cimento com adição de escória granulada básica de alto-forno, material que era gerado e descartado por siderúrgicas. Começou produzindo em Volta Redonda (RJ). Quatro anos depois, inaugurou Pedra do Sino, integrada com mineração de calcário. A filial de Mogi das Cruzes (SP) transformou-se em 1998, para atender ao mercado paulista, numa misturadora e distribuidora.

Atualmente, nas três fábricas (MG, RJ e SP), a Tupi tem capacidade instalada efetiva de produzir o equivalente à capacidade da unidade Pedra do Sino (2,5 milhões de toneladas), conforme Estadão apurou com pessoas próximas da empresa. Após questionamentos, o plano de recuperação judicial, de 2021, foi anulado e um novo foi definido em fevereiro de 2024, ora em execução.

Cimentos Liz - Família Champalimaud

A origem da cimenteira se dá em 1918, em Portugal, com a fundação da Empresa de Cimentos de Leiria, na localidade de Maceira-Liz, por Henrique Araújo de Sommer. Nos anos de 1930 ele começou a exportar cimento para o mercado brasileiro e a marca Liz foi trazida por seu sobrinho, António de Sommer Champalimaud, em 1969. Criou, em Minas Gerais, a Soeicom S/A.

A unidade fabril, que permanece única da Liz no País, foi inaugurada em Vespasiano, vizinha de Belo Horizonte, em 1976. No início, o foco era o mercado de Minas Gerais. Com o passar dos anos, fruto das expansões, a cimenteira avançou para os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde montou quatro terminais de distribuição.

O empresário português, que faleceu em 2004, deixando uma fortuna estimada em US$ 1,7 bilhão, foi alvo em Portugal de um litígio familiar, conhecido como “Herança Sommer”, referente aos bens da Cimentos de Leiria, que o obrigou a fugir para o México em 1969 e de onde decidiu investir no Brasil.

Após ser absolvido das acusações, retornou ao país em 1973. Mas, em 1975, devido a medidas tomadas após Revolução dos Cravos (abril de 1974), que levou a mudanças políticas no país, o empresário teve de deixar Portugal, rumo ao Brasil, tem seu patrimônio industrial e financeiro nacionalizado. Ele conseguiu recomprar grande parte dos ativos na década de 1990 com o processo de venda de ativos estatais em Portugal.

No Brasil, sob a gestão da nova geração dos Champalimaud, a Liz sofreu o impacto da crise do setor de 2015-2018, como outras cimenteiras locais. Por isso, foi alvo de informações de que os herdeiros colocaram a empresa à venda. A companhia pode fabricar cerca de 2,5 milhões de toneladas de cimento por ano, conforme informações obtidas pelo Estadão.

Apodi - Família M. Dias Branco e Titan

Idealizada em 2008 pelas famílias Dias Branco e Sarkis, a Cimento Apodi, do Ceará, entrou no mercado em 2011, em meio à efervescente demanda de cimento na região Nordeste. Começou operando uma moagem no complexo industrial e portuário de Pecém, na Grande Fortaleza, e dois anos depois colocou em operação a segunda fábrica (integrada), em Quixeré, também no Ceará.

Com a crise do setor a partir de 2015, a família Sarkis, dona de 32%, decidiu sair do negócio. Em agosto de 2016 vendeu sua participação para a Titan, multinacional grega que atua na indústria de cimento e de materiais de construção há mais de 120 anos e tem operações em 10 países.

Para ter presença no bloco de controle da Apodi, a Titan adquiriu mais 18% da família Dias Branco. Pela fatia dos 50%, que garantiu controle compartilhado, a Titan pagou cerca US$ 100 milhões (R$ 325 milhões pela cotação da época), conforme informação à bolsa de Atenas, capital grega. O grupo brasileiro, fundado por Manuel Dias Branco em 1951, tornou-se líder nacional na produção e distribuição de biscoitos e massas. Além de cimento, investiu em imóveis e hotelaria.

Com as duas fábricas ― Quixerê, no sul do Estado, e a moagem em Pecém ―, a Apodi pode produzir 2 milhões de toneladas de cimento por ano. Opera ainda quatro centrais de concreto e atende os mercados de 13 Estados no Norte e Nordeste, segundo informação em seu site.

A empresa alega ser pioneira no País no uso da tecnologia “waste heat recovery”, processo pelo qual transforma gases emitidos nos fornos de cimento, que seriam lançados na atmosfera, em energia para uso cativo na fábrica.

Supremo - Secil Cimentos

Fábrica integrada de produção de cimento do grupo Supremo Secil em Adrianópolis, Estado do Paraná  Foto: Supremo/Divulgação

A cimenteira sediada em Pomerode (SC) nasceu em 2003 com investimento de um empresário da cidade, que foi fundada por imigrantes alemães e está situada a 175 quilômetros de Florianópolis. A fábrica era pequena, com capacidade que atingiu 400 mil toneladas de cimento por ano.

Em 2011, o empresário vendeu uma fatia societária de 15% da Supremo para a companhia portuguesa Secil, que é uma das maiores cimenteiras de Portugal. Em 2015, a sócia adquiriu o restante das ações e assumiu o controle total da cimenteira de Santa Catarina, no mesmo ano em que a Supremo deu um grande passo e colocou em operação sua nova fábrica, em Adrianópolis (PR), de porte quatro vezes maior que a de Pomerode. O negócio marcou a entrada definitiva no Brasil do grupo cimenteiro português.

A Supremo, somando a fábrica de Adrianópolis (capacidade de 1,7 milhão de toneladas) mais a de Pomerode (400 mil), pode ofertar no mercado brasileiro 2 milhões de toneladas de cimento por ano, de acordo com informação da empresa. Com foco de atuação na região Sul, a empresa produz material ensacado e a granel, faz serviços especializados de concretagem e dispõe de sete centros de distribuição. A sede corporativa (administrativa, financeira e comercial) foi levada pela nova controladora para Curitiba.

A Secil é resultado da fusão de duas cimenteiras em Portugal em 1930. Ao longo das décadas, passou por mudanças tecnológicas e societárias. Hoje, tem produção de cimento e outros materiais de construção em vários em vários países da Europa, África, Ásia e no Brasil.

Em 1994, dentro do processo de privatização de ativos em Portugal, a investidoras Semapa comprou 51% da Secil. Passados mais de 15 anos, em 2011, assumiu o controle total da companhia. A Semapa é uma holding de investimentos com vários negócios da família Queiroz Pereira. Está listada na bolsa de Lisboa.