Quem é o empresário por trás da Vai de Bet, investigado na operação que prendeu Deolane Bezerra

Empresário da Paraíba tem mais de 30 empresas em seu nome e também atua no mercado imobiliário; registrado na companhia do cantor Gusttavo Lima, avião apreendido pela polícia era operado por empresa do executivo

PUBLICIDADE

Publicidade
Foto do author Lucas Agrela
Foto do author Daniel  Weterman
Atualização:

SÃO PAULO E BRASÍLIA — Com executivos na mira da operação “Integration” da Polícia Civil de Pernambuco, que prendeu a advogada e influenciadora Deolane Bezerra nesta quarta-feira, 4, a empresa Vai de Bet atua no Brasil desde 2021, quando foi criada pelo empresário José André da Rocha Neto, em Campina Grande (PB). Desde o ano passado, o fundador da empresa teve o nome envolvido em algumas polêmicas, como a investigação de manipulação de resultados de jogos de futebol e a rescisão do contrato com o Corinthians.

PUBLICIDADE

Herdeiro do ramo imobiliário, ele detém mais de 30 empresas em seu nome, sendo a mais antiga da família a Torre Forte Construções, de 2011. A construtora e incorporadora tem uma série de empreendimentos imobiliários no Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste. O capital social dos projetos ligados ao nome do empresário soma aproximadamente R$ 19,2 milhões. Ele tem outros 37 sócios, entre eles sua esposa Aislla Sabrina Truta Henriques Rocha, também citada na investigação.

Na operação da Polícia Civil, foi apreendido um avião registrado no nome da empresa Balada Eventos, do cantor Gusttavo Lima, mas a aeronave é operada pela empresa JMJ Participações, cujo proprietário é Rocha Neto. A apreensão da aeronave foi confirmada pela assessoria de imprensa da empresa de apostas esportivas.

José André da Rocha Neto, fundador da Vai de Bet Foto: Reprodução@instagram

Hoje a Vai de Bet faz parte do grupo Betpix N.V., registrado em Curaçao. A Betpix N.V. é dona de outras marcas de apostas, como Betpix365, Betpix, Obabet e Pix365. Esta última aparece na ação judicial que determina quebra de sigilo fiscal com finalidade de investigação. O grupo deu entrada no pedido da licença para operar no País a partir de 2025, seguindo a nova legislação do setor de apostas aprovada pelo governo federal. Em nota, a Vai de Bet afirmou que acompanha a operação da Polícia Civil e que se colocará plenamente à disposição das autoridades para prestar os esclarecimentos solicitados quanto à atuação da empresa e de seus sócios.

Publicidade

Entre as casas de apostas, o grupo ainda tem pequena representatividade em relação a concorrentes como Bet365, Betano e Sportingbet. Para ter ideia, ela tem cerca de um décimo do volume de pesquisas da bet mais buscada no Google, que é a Betano.

A empresa de apostas se tornou mais conhecida em janeiro deste ano quando fechou a maior parceria da história do futebol brasileiro com o Corinthians. Em julho, a Vai de Bet rescindiu o contrato de R$ 360 milhões, previsto para durar três temporadas. O caso ocorreu devido a polêmicas com relação a pagamentos da Rede Media Social Ltda, intermediária do acordo, à Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda, suposta empresa “laranja” cujo CNPJ está no nome de Alex Fernando André, conhecido como Alex Cassundé, integrante da equipe de comunicação do presidente Augusto Melo. O caso está sob investigação.

Empresas de apostas Vai de Bet e Esportes da Sorte foram alvos de investigação a Polícia Civil Foto: Adobe Stock/Adobe Stock

Rocha Neto também foi um dos convocados pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) de Manipulação de Jogos de Futebol da Câmara no ano passado, mas não prestou depoimento. O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), determinou o encerramento das apurações em setembro daquele ano, antes das casas de apostas serem ouvidas.

A convocação foi aprovada no dia 6 de junho de 2023 para ouvir o CEO da Esportes da Sorte, Darwin Henrique da Silva Filho, e o dono da Vai de bet, José André da Rocha Neto. O deputado Yuri do Paredão (PL-CE), autor dos requerimentos, afirmou na ocasião que era essencial a convocação de casas de apostas na CPI porque os empresários tinham “responsabilidade primária pelas operações”.

Publicidade

A CPI investigou a manipulação de resultados no futebol após o Ministério Público e a Polícia Federal desbancarem um esquema de combinação de resultados de partidas por meio de apostas online. A comissão entendeu que as empresas não estavam envolvidas na manipulação. O relatório da CPI, apresentado pelo deputado Felipe Carreras (PSB-PE), foi lido, mas não chegou a ser votado.

“Não deu tempo de ouvi-los. O relator tinha feito um cronograma, quando chegou nas bets foi o prazo que o presidente (da Câmara, Arthur Lira) resolveu fechar as três CPIs (que estavam em andamento na Casa). Publiquei o relatório na página da CPI para não ficar sem relatório”, afirmou o presidente da CPI, deputado Julio Arcoverde (PP-PI). Para ele, a falta dos depoimentos não comprometeu a investigação. “Até onde fomos, não tinha indicação de nenhuma bet na manipulação dos jogos.”

O Senado também abriu uma CPI para investigar a manipulação de apostas, que ainda está em andamento, e começou a apurar um suposto pedido de propina de Felipe Carreras para livrar bets das investigações da Câmara. O ex-presidente da Associação Nacional de Jogos e Loteria, Wesley Cardia, que teria sido coagido, foi perguntado sobre a acusação, mas ficou calado. Carreras negou qualquer envolvimento nesse sentido.

Em nota, a Vai de Bet disse que recebeu com surpresa o cumprimento do mandado de busca e apreensão realizado nesta quarta-feira, uma vez que desde o ano passado se prontificou em contribuir com as investigações, tendo previamente indicado os endereços e contatos pertinentes.

“As atividades da empresa até aqui são pautadas pelo estrito cumprimento da legislação vigente e já estão adequadas à regulação do setor para 2025″, disse a empresa. “Estamos acompanhando e aguardando a habilitação no processo. Acompanhamos a diligência de hoje e confiamos na reversão dessas medidas cautelares”, afirmou Daniel Sitônio, advogado da Vai de Bet, na nota.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.