A MRV&CO — grupo que reúne MRV, Urba, Luggo e Resia — fechou o último trimestre de 2024 com um prejuízo relevante em seu balanço e viu as ações serem penalizadas ao longo desta terça-feira, 25. Às 16h30, os papéis recuavam quase 4%, segunda maior queda do Ibovespa.
O que colocou o balanço do grupo no vermelho foi o resultado da Resia, subsidiária que ergue prédios residenciais para locação nos Estados Unidos. Os números ruins vindos do exterior ofuscaram até a recuperação do seu principal negócio, a MRV, símbolo do Minha Casa, Minha Vida (MCMV), justamente no momento em que o programa tem batido recorde de contratações.
A MRV&CO reportou um prejuízo líquido consolidado de R$ 249,8 milhões no quarto trimestre de 2024. A perda foi 138% maior do que no mesmo intervalo de 2023, quando houve prejuízo de R$ 104,9 milhões.
Sozinha, a MRV teve prejuízo líquido de R$ 17,7 milhões. Já no critério ajustado (que exclui efeitos contábeis, isto é, sem perda de caixa), a MRV teve lucro de R$ 78,2 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 31 milhões do mesmo período do ano anterior. Essa melhora resultou do crescimento das vendas de imóveis, subida de preços, maior produção nos canteiros e diluição de custos.
Com isso, a margem bruta cresceu para 27%, o que foi saudado por analistas. Para 2025, a projeção do grupo é continuar ampliando o faturamento e o lucro da MRV, baseado em mais lançamentos e vendas.

No entanto, os números da Resia falaram mais alto e deixaram investidores de mau humor na Bolsa. A subsidiária teve prejuízo de R$ 237,7 milhões no trimestre. A perda foi causada, principalmente, pela venda de um empreendimento em Austin, no Texas, marcado por custos de obra acima dos previstos e receita de locação abaixo da esperada.
“No geral, o balanço foi mais fraco do que o esperado, e o prejuízo da Resia foi maior do que o previsto”, afirmaram os analistas Gustavo Cambaúva e Elvis Credendio, em relatório do BTG Pactual, no qual levantaram preocupações sobre uma potencial deterioração nos resultados da Resia nos próximos meses em meio aos juros altos nos Estados Unidos.
A equipe de analistas do Santander também ressaltou o peso da Resia, mas lembrou da importância da recuperação nos demais segmentos. “Houve perdas maiores do que o esperado na Resia. Ainda assim, é importante notar que a divisão de incorporação, com a MRV, continuou sua tendência de recuperação”, declararam Fanny Oreng, Antonio Castrucci e Matheus Meloni, em relatório.
Além do resultado negativo do trimestre, parte dos analistas e dos investidores é crítica do investimento da família Menin no mercado imobiliário dos Estados Unidos, que representa um modelo de negócios muito diferente da MRV no Brasil. A visão é que a subsidiária dos EUA deveria estar separada do restante do grupo.
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Na Resia, prioridade é gerar caixa
A Resia suspendeu o plano de crescimento, no fim do ano passado, e colocou em prática um plano de liquidação de US$ 800 milhões em terrenos e empreendimentos. O objetivo com isso foi levantar recursos para reduzir a dívida elevada da operação, que fechou 2024 em US$ 639 milhões, alta de 20,6% em um ano, com alavancagem de 227%.
O plano de desmobilização de vários ativos nos EUA veio após a direção perceber que os juros por lá ficaram em patamar elevado por mais tempo que o originalmente previsto, o que inibe novos investimentos e reduz a atratividade da operação no curto prazo.
“A estratégia da Resia está mais focada em desalavancagem do que na DRE (demonstração de resultados)”, afirmou o diretor Financeiro e de Relações com Investidores da MRV&CO, Ricardo Paixão, em entrevista ao Estadão/Broadcast. Questionado se as vendas de outros ativos podem gerar prejuízos, Paixão disse que sim. “Dentro da gama de ativos, alguns podem apresentar resultado negativo”, afirmou.
Nesta terça-feira, 25, em teleconferência com investidores e analistas, o copresidente da MRV&CO, Rafael Menin, defendeu o investimento feito na Resia. “Estar presente no mercado americano é importante. Então, olhando como família controladora, sabemos que o movimento feito na Resia foi perfeito, mesmo sabendo que no curto prazo isso machucou nossos números. Alocamos capital num momento em que os juros subiram muito. Acabou não sendo o momento adequado, mas o movimento foi correto. O mercado acha que não, a gente acha que foi”, explicou.
Menin disse também que o crescimento da Resia ainda vai acontecer, só que mais para frente, pois depende de um cenário de juro menor, bem como de uma estrutura societária diferente, isto é, com atração de um sócio e capitalização.
O analista do Citi, André Mazini, afirmou, em relatório, que o enxugamento das operações da Resia e a simplificação do negócio vão fazer bem à MRV&CO. “A simplificação de negócios servirá para que a companhia possa se concentrar no negócio principal e voltar a ter um lucro líquido positivo recorrente”, afirmou, em relatório.