Depois de receber um aporte do seu investidor, o fundo Carlyle, e passar por uma reestruturação de dívida, a varejista de brinquedos Ri Happy se organizou para uma nova fase de crescimento. Com a nomeação de um novo comando, o grupo pretende ampliar esforços para chegar a cidades menores, com um formato mais enxuto de loja.
A empresa está otimista com 2024 e espera colher um avanço de até 20% nas vendas. No ano passado, os negócios ficaram estagnados, como fruto do processo de ajustes operacionais: o volume bruto da mercadoria (GMV, na sigla em inglês, que é basicamente o número de itens vendidos multiplicado pelo preço) somou R$ 1,9 bilhão.
Thiago Rebello está assumindo como novo presidente executivo (CEO, na sigla em inglês). Desde novembro de 2022 na empresa, ele estava no cargo de vice-presidente de operações e vinha conduzindo a transição com o então ocupante da cadeira, Ronaldo Pereira.
Atualmente com quase 300 unidades, incluídas as da PB Kids, a companhia tem adaptado o seu formato para que lojas menores possam ser inauguradas com o mesmo mix de produtos que as atuais. Hoje, os estabelecimentos têm a partir de 300 metros quadrados. Para cidades menores, de pelo menos 70 mil habitantes, é possível conceber uma unidade de 250 metros quadrados, aponta Rebello.
“Essas cidades menores têm um ambiente menos assistido, até mesmo pelo e-commerce”, diz. “Toda vez que abrimos uma loja em cidade pequena, a venda digital cresce em média 50% na região. Uma das razões é o conhecimento de marca, além da confiança que o espaço físico transmite.”
Em 2024, o plano é abrir de 10 a 20 lojas. Para um prazo mais longo, o executivo enxerga potencial para 50 inaugurações por ano com a estratégia de desbravar municípios menos populosos.
O ambiente físico é o da descoberta, diz o novo CEO. Por isso, a Ri Happy tem focado em proporcionar experiências dentro das suas lojas. Ainda assim, a camada digital precisa ser presente nesta vivência nas lojas. “Com tecnologia, nós temos o nosso sistema que podemos chamar de prateleira infinita. O que não tem naquela loja que o cliente visita pode ser encontrado em outros estoques”, diz.
Com este maior diálogo entre físico e digital, a intenção é aumentar a “omnicanalidade” - que significa a integração de todos os canais de venda. Atualmente, a origem das vendas na Ri Happy é 90% nos pontos físicos.
Rebello diz que o foco neste início de gestão é melhorar a experiência dos clientes durante a compra. Uma das medidas a serem adotadas em breve é a organização dentro da loja. “Em vez de separar por fornecedor, vamos agrupar por personagens. Hoje temos uns 30 produtos de Homem-Aranha, mas espalhados pela loja. Vamos deixar juntos todos os modelos, tanto para quem quer dar uma lembrancinha quanto para quem vai atrás dos produtos maiores.”
Para a Páscoa, a empresa vai ampliar a oferta de ovos de chocolate, que iniciou no ano passado. Monetizar as atividades oferecidas para crianças, como já é feito na loja-conceito da marca no Rio de Janeiro, também está nos planos.
Aporte
O aporte do fundo Carlyle anunciado em agosto do ano passado, de R$ 75 milhões, foi uma sinalização da confiança dos investidores na empresa - além de, principalmente, um reforço de caixa. “O ano passado foi difícil para o varejo, então o aporte chegou para ajudar no final de ano, que é o ponto alto do nosso negócio.”
Rebello disse que a crise desencadeada pelo caso Americanas, em janeiro de 2023, levou as varejistas a otimizarem portfólio e investimentos.
“Nossa otimização aqui está no que gera valor para o cliente e para o negócio”, diz. “Um exemplo é o modelo ‘compre no site e retire na loja’. É bom para o cliente e é uma das modalidades mais rentáveis para o negócio.”
Além da entrada de capital no ano passado, a Ri Happy fez o reperfilamento de dívidas de curto prazo com bancos. Em agosto, fechou acordo com os nove bancos credores e alongou o pagamento dos R$ 289 milhões para prazos de quatro anos (2027) e cinco anos (2028) da data anunciada do acordo. Segundo o executivo, o tamanho atual da dívida é ‘super factível’ com o porte da empresa.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.