A “passagem do bastão” do governo Jair Bolsonaro (PL) para o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), as incertezas fiscais em relação ao orçamento do próximo ano e as questões de tributação das companhias devem ser alguns dos principais pontos de atenção para o empresariado em 2023. Essa é a visão de economistas, professores e executivos que participaram nesta quarta-feira, 7, de debate realizado para celebrar a 8.ª edição do prêmio Empresas Mais, realizado pelo Estadão.
Mediado pela colunista do Estadão Eliane Cantanhêde, o evento discutiu o tema “Rumos das empresas em 2023″ e contou com a participação do professor da FIA Business School Luís Guedes, do presidente da rede Petz, Sergio Zimerman, e da consultora econômica Zeina Latif.
Na avaliação de Latif, o próximo governo precisa trabalhar para reduzir a sensação de incerteza em relação à gestão fiscal do País, que tem impacto direto no desempenho econômico nacional. “Nós temos visto muitos segmentos do setor econômico preocupados com questões de juros, inflação e a falta de clareza com as reformas”, afirma a especialista.
Ainda segundo a especialista, a falta de clareza sobre as regras dos gastos públicos pode vir a atrapalhar o desempenho da economia brasileira, dificultando a redução da Selic, a taxa básica e juros. “Está muito difícil enxergar um horizonte de corte de juros.”
Carga tributária
Enquanto o governo Lula ainda não sinaliza com clareza sua agenda econômica, o sistema tributário brasileiro também preocupa os empresários. Para o fundador da rede Petz, as mudanças feitas pelos governos estaduais no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) podem atrapalhar o desempenho das companhias, que terão de repassar esse custo extra para os consumidores.
A questão tributária, segundo ele, afeta diretamente o consumidor. “O maior engano que se pode ter é de que o imposto é uma questão dos empresários. Essa é uma questão da sociedade”, afirmou. “Tributar mais as empresas é tributar mais os consumidores, porque as empresas repassam esses valores a eles. O Brasil tributa muito e tributa mal.” O governo Lula, no entanto, já se comprometeu com a reforma tributária, em um dos poucos sinais claros de direção da economia.
Zimerman aponta outro o problema a ser endereçado pelo governo Lula: a não tributação de itens comercializados pelos marketplaces que vendem itens trazidos de outros países, em especial da China. O empresário cobra que eles paguem as mesmas alíquotas dos negócios nacionais. “Eles (os marketplaces) estão invadindo o Brasil sem pagar imposto, fazendo importações absolutamente ilegais, tudo debaixo do nariz da Receita Federal. O governo precisa recolher de quem não paga”, afirmou.
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Futuro mais sustentável e conectado
Outro ponto de atenção para as empresas para 2023 são os avanços da pauta de ESG (sigla em inglês para as áreas ambiental, social e de governança) O professor Luís Guedes, da FIA Business School, vê espaço para que as empresas brasileiras buscarem protagonismo sobre essa agenda. “Essa responsabilidade é dos governos, das empresas e das pessoas. Mas os problemas crescem, e o governo não consegue resolver sozinho. As empresas têm a velocidade de resposta no seu DNA para impulsionar esse tema”, avalia.
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