Passado o período eleitoral e com a Selic estável, o Grupo Santander considera que o Brasil ajuda no otimismo com a América Latina para o ano que vem. Enquanto as economias desenvolvidas terão que duelar com a inflação fora de controle, o País deve colher os frutos de um ciclo de juros antecipado, com eleições já definidas.
“O Brasil hoje é o único grande país do mundo com três meses consecutivos de deflação”, disse a presidente do conselho, Ana Botín, em coletiva de imprensa realizada na sede do banco, em Madri. “(Roberto) Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil, está alguns meses adiantado em relação a outros bancos centrais.”
O Brasil é o maior mercado do Santander no mundo, à frente da própria Espanha e de outras importantes unidades, como as dos Estados Unidos e do Reino Unido. Mesmo com queda no lucro diante do momento mais crítico na inadimplência, o Santander Brasil teve resultado de 662 milhões de euros no terceiro trimestre deste ano, quase 30% do lucro de todo o Grupo.
“O Brasil é um dos países mais digitais que temos no Grupo”, acrescentou Botín. Segundo ela, isso tem levado o banco a mudar o perfil da força de trabalho nas agências, hoje mais direcionado a vendas que ao operacional.
Uma das áreas que a executiva citou como promissora, a adquirência, teve contribuição fundamental do Brasil. Nascida no Rio Grande do Sul e adquirida pelo Santander local, a Getnet iniciou no ano passado uma expansão internacional e em setembro, tinha 1,17 milhão de clientes mundo afora. Nas ruas de Madri, é comum ver as maquininhas vermelhas da empresa no comércio.
Eleição
Botín disse que ainda é cedo para falar mais a fundo sobre como o Santander vê as perspectivas para o terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), presidente eleito no último domingo. Mas lembrou que o banco tem trabalhado com os diferentes governos do País, o que inclui os dois primeiros do próprio Lula e o de Jair Bolsonaro (PL), que não se reelegeu.
“Com o que vimos, temos muita confiança no Brasil e em suas instituições”, disse a executiva. Como a equipe de Lula ainda não anunciou os nomes que ocuparão ministérios, por exemplo, Botín não fez comentários sobre as expectativas para a política fiscal do novo governo.
A executiva pontuou que, tradicionalmente, o Santander trabalha com “todos os governos de todos os países” em que opera. Destacou ainda que, quando é questionada sobre se o Brasil é o país do futuro, diz que não. “Eu digo que tem ciclos”, afirmou.
Inimigo número um, dois e três
Ao longo de uma hora, Botín falou sobre a economia dos países da América Latina a um grupo de jornalistas da região. A inflação dominou, de longe, tanto perguntas quanto respostas. “Nosso inimigo número um, número dois e número três é a inflação”, resumiu.
Essa é uma das frentes em que ela acredita que a América Latina está à frente de outros países e mais bem posicionada que em crises anteriores. No caso brasileiro, o otimismo se deve, em grande parte, ao fato de o BC ter aumentado antes a taxa básica de juros, na comparação com outras autoridades monetárias.
O Santander também mantém visão positiva para os demais mercados da região, inclusive o da Argentina, que enfrenta grave crise econômica. Brasil e México são, porém, fiéis da balança. “O Brasil e o México devem crescer mais que os EUA em 2023, com inflação menor que a da Alemanha.”
México
No segundo maior mercado do banco na região, o México, a ideia é de reforçar as vias de crescimento orgânico. O Santander era visto pelo mercado como um dos candidatos a comprar o banco de varejo do americano Citi, o Banamex, no país, mas saiu do processo em meados do ano. Bradesco e Itaú também eram vistos como potenciais interessados, mas não fizeram propostas.
Botín reiterou, ao longo da coletiva, que há espaço para crescer com força própria. “Em três ou quatro anos, criamos um negócio de financiamento de veículos no México do zero que já tem 10%, 15% do mercado”, afirmou ela. “Não há mais o que falar sobre o Banamex. Temos um potencial de crescimento orgânico no México.”
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