Pagar aluguel ou escola no cartão de crédito vai ser mais fácil? Setor tenta ampliar área de atuação

Expectativa da indústria de cartões é que pagamentos como mensalidade de instituições de ensino, planos de saúde e aluguéis possa gerar R$ 400 bilhões em volume processado pelo setor

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Foto do author Matheus Piovesana
Atualização:

A indústria de cartões deve iniciar nos próximos meses um corpo a corpo para que a modalidade ganhe força no pagamento de aluguéis, mensalidades em instituições de ensino e também em planos de saúde, em uma primeira etapa. O eventual sucesso dessa iniciativa pode agregar R$ 400 bilhões em volume processado pelo setor, ou 12% de tudo o que passou por cartões de crédito, débito e pré-pagos no ano passado.

“Dependendo dos segmentos em que conseguirmos mais ou menos presença, isso gira em torno de R$ 400 bilhões pelos cálculos que nós fizemos”, diz ao Estadão/Broadcast o conselheiro da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) e do Banco Original, Raul Moreira.

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Nos próximos meses, de acordo com ele, a Abecs deve conversar com associações setoriais. Até aqui, a entidade falou com empresas de maior porte e donas de sistemas de gestão, em uma agenda “investigativa”, para entender se havia interesse das empresas em incluir o cartão entre as possibilidades de recebimento.

A recepção foi positiva, e reforçada pelos resultados de uma pesquisa feita pela entidade, que apontou que os consumidores também se interessam em pagar mensalidades e aluguéis com cartão.

Conforme projeções, expansão na atuação poderia gerar R$ 400 bilhões em volume processado pelo setor Foto: Marcello Casal Jr/Agência

Outra ponta do esforço vai ocorrer nos emissores de cartões, em especial os bancos. Moreira afirma que as áreas de atendimento a empresas dos bancos podem ajudar a disseminar o cartão nos pagamentos recorrentes, ao tratar de produtos de gestão de caixa.

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“Quando o banco discute o gerenciamento de caixa da empresa como um todo, queremos que ele discuta também o meio de pagamento cartão como recebimento dessas grandes corporações”, afirma.

A Abecs começou uma discussão para atrair também as concessionárias de serviços públicos, como água, luz e telefone. Entretanto, Moreira afirma que esse debate virá depois porque, do ponto de vista do sistema financeiro, as cobranças desses setores são operacionalizadas de modo diferente daquelas feitas em outros serviços.

Unificação

No primeiro semestre, a Abecs divulgou uma diretiva que unificou as regras para o recebimento de pagamentos recorrentes via cartão, em um primeiro passo do esforço que vai intensificar agora. O setor detectou uma possibilidade de diversificação de negócios nessa fronteira, mas também uma dificuldade de caráter histórico: os sistemas de recebimento de aluguéis e mensalidades são pouco afeitos aos cartões.

“A cultura do brasileiro para o pagamento de prestações veio muito do carnê e do boleto bancário”, diz Moreira. “Os sistemas de integração acabaram sendo desenvolvidos para a cobrança [via boleto], e isso acabou, pela inércia, ganhando uma escala muito grande.”

O conselheiro da Abecs e do Original afirma que, nos contatos com os setores, ficou claro que havia interesse em receber pagamentos mensais pelo cartão por alguns motivos, e o principal deles é a inadimplência. O risco de o cliente deixar de pagar uma mensalidade escolar cai muito se houver um cartão cadastrado, por exemplo. Neste caso, como é o banco emissor quem garante os pagamentos ao resto da cadeia, os estabelecimentos têm a entrada de caixa garantida.

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Para os clientes, segundo ele, o apelo está tanto nos limites de crédito quanto nos benefícios atrelados aos cartões, como os programas de fidelidade. No caso dos emissores, há uma substituição da cobrança bancária tradicional, que vem perdendo força com a migração de transações para os canais digitais e para o Pix, que não tem taxas para o cliente. “A remuneração do banco ou emissor é compatível com o nível de prestação de serviço, e a cobrança tem um nível de prestação mais simples.”

Faz um Pix

Parte do esforço do setor também é para ocupar um espaço hoje dominado pelos boletos e o débito automático, antes que o Pix ganhe funções que lhe deem musculatura nessa frente. Com a iniciação de pagamentos, alguns bancos já oferecem a cobrança de pagamentos a partir das contas dos clientes em outras instituições, por exemplo, mas o Banco Central deve lançar o chamado “Pix Automático” no ano que vem, o que levará funções similares a todos os usuários do sistema de pagamentos.

Atualmente, PIX domina segmento que pode ser 'abocanhado' pela indústria de pagamentos Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Moreira afirma que o Pix será importante nas cobranças recorrentes, mas que não impedirá que os cartões também ganhem espaço. “O mercado brasileiro vai ter três grandes estruturas de pagamentos recorrentes”, diz ele. “A cobrança tem suas vantagens, relacionadas principalmente ao custo. E teremos o Pix como infraestrutura, e também os cartões”, diz ele. “Queremos ser uma das três com a maior participação possível.”

Além do acesso a crédito, a indústria de cartões aposta na segurança dos sistemas como uma vantagem na disputa. É o mesmo apelo que vê na aposta que tem feito no cartão de débito para compras online, um ambiente em que o Pix ganhou o espaço que antes era do boleto - e em que começa a avançar sobre os cartões, ainda que de maneira mais gradual.

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