“Lázaro Brandão era uma pessoa privilegiada e especial. Ele era um homem formador, um coaching natural, extremamente discreto, com inteligência emocional. Ele media o tom das palavras. Era um líder: mando, comando, um homem de autoridade, mas extremamente sutil no jeito de fazê-lo.
Vivi intensamente os anos 80 próximo a ele. O Amador Aguiar (fundador do banco), em processo de seleção interna, o escolheu para a presidência executiva e, meses depois, a mim para ser o gerente de marketing. Foi uma longa trajetória. No fim dos anos 90, fui trabalhar na mesma sala e, nos últimos dez anos, na mesa ao lado dele. Quer dizer, a distância entre a minha mesa e a dele era de dois metros.
Há dez dias, ele estava lúcido no hospital conversando sobre coisas racionais. Ele teve longevidade, racionalidade e foi uma pessoa determinada. Aprendi com ele que disciplina é um valor fundamental, principalmente em uma instituição financeira. Disciplina é comprometimento com as regras. É estar sempre aderente ao compliance (conformidade com controles) de procedimentos. Ele era uma pessoa obstinada, que acredita na carreira.
Não é trivial uma pessoa começar aos 15 anos e morrer na organização. A longevidade e a precocidade ao começar a ser bancário em 1942, quando o Bradesco estava surgindo, deu a ele a oportunidade de trabalhar com algumas lendas do sistema bancário brasileiro, a começar por Amador Aguiar.
Seu início se deu no momento em que o sistema bancário era fragmentado – fomos da fragmentação à concentração – e o ‘seu’ Brandão foi partícipe de todo esse processo, em diferentes ciclos da economia.
Foi bancário antes de acabar a ditadura de Getúlio (Vargas). Viveu intensamente a estruturação de banco de varejo no Brasil. Era muito capaz porque era um homem austero e extremamente disciplinador. Isso talvez seja o motivo de ter ficado na organização até morrer.
Ele passou por todos os testes: da economia à tecnologia. Passou por inflação, hiperinflação e mudanças tecnológicas. Foi criando esse legado que deixa para o Bradesco: um banco forte e de pratas da casa. A gente vê o passado com muita lembrança. Evidente que o presente é de muita saudade e o futuro é o legado que fica.”
*DEPOIMENTO DE LUIZ CARLOS TRABUCO
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