SLC Agrícola paga quase R$ 1 bi por terras que arrendava na Bahia e em Minas Gerais

Bancos veem negócio como positivo mas, mesmo assim, ações da empresa estão entre as maiores quedas do Ibovespa

Por Gabriel Azevedo (Broadcast)

A SLC Agrícola, que produz grãos em diferentes regiões do País, anunciou a compra 48 mil hectares de terras na Bahia e em Minas Gerais por R$ 913 milhões, na sexta-feira, 14. A maior parte das terras já era arrendada pela companhia e, apesar de os bancos terem visto as compras como uma oportunidade, as ações da companhia estão entre as maiores quedas do Ibovespa, de 3,60%, na manhã desta segunda-feira, 17.

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A aquisição se insere na estratégia de crescimento da SLC, que já havia expandido sua área plantada em 60 mil hectares para a safra 2024/25, chegando a 731 mil hectares, e recentemente adquiriu a Sierentz Agro Brasil por US$ 135 milhões. As aquisições da empresa este ano somam quase R$ 2 bilhões.

Em São Desidério (BA), a SLC adquiriu quase 40 mil hectares da Fazenda Paladino, atualmente arrendados pela SLC-MIT, subsidiária da companhia. O valor da transação foi de R$ 723 milhões, correspondendo a R$ 32,9 mil por hectare agricultável. O pagamento será dividido em duas parcelas de R$ 361,5 milhões, sem correção monetária, com a segunda prevista para março de 2026.

Com aquisições, SLC chega reduz a 60% proporção de terras arrendadas em seu portfólio Foto: Adilvan Nogueira/Estadão

Na Fazenda Pamplona, em Unaí (MG), foram adquiridos 7,8 mil hectares por R$ 190 milhões, ao preço de R$ 36,2 mil por hectare agricultável. Deste total, somente 502 hectares não eram previamente operados pela companhia por meio de arrendamento. A compra inclui também infraestrutura como silos, alojamentos, sede administrativa e armazéns, além de 647,6 hectares de área irrigada.

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Segundo o Citi, a compra foi positiva, apesar de aumentar pouco a área plantada pela empresa. “Vemos o negócio como positivo, apoiado pelo valor por hectare arável abaixo da média da empresa (R$ 57,5k/ha)”, disseram no relatório os analistas do banco, Gabriel Barra e Pedro Gama. Além disso, após essa aquisição, “a empresa reduzirá a porcentagem de terras arrendadas dentro do portfólio da empresa (cerca de 63%), abrindo espaço para crescer ainda mais em sua estratégia leve em ativos”, disse o banco. “É importante notar que, após a última aquisição pela SLC, a empresa atingiu sua meta de 2/3 de seu portfólio vindo de terras arrendadas.”

O Bradesco BBI foi na mesma linha. Para o banco, o principal mérito da aquisição é que, incluindo a infraestrutura das fazendas, os valores pagos estão 43% e 37% abaixo da média do portfólio da SLC. Em Minas, inclusive, o desconto estava ainda maior para terras agrícolas na região. “Possuir a terra também pode desbloquear investimentos adicionais em irrigação, expandindo assim as áreas de segunda safra, os rendimentos e as futuras avaliações de terras agrícolas”, disseram no relatório os analistas do banco, Henrique Brustolin e Pedro Fontana.

Conforme o BBI, aquisições de terras não são o cerne da história de crescimento da SLC. “Também não é o que mais apreciamos, dado que o modelo de leasing de ativos leves permite retornos mais altos. Mas dado que há um equilíbrio ideal de 2/3 de terras arrendadas e 1/3 de terras próprias que a empresa busca, e que isso foi alcançado após o recente acordo da Sierentz Agro, adquirir terras agrícolas eventualmente seria necessário para que mais crescimento de ativos leves fosse desbloqueado”, escreveram. “Como a SLC não está disposta a se desfazer de fazendas, o benefício imediato para a empresa será na forma de menores despesas de arrendamento.”

O anúncio das aquisições aconteceu um dia após a teleconferência de resultados, na qual o diretor financeiro, Ivo Brum, afirmou que a companhia mantém alavancagem sob controle e vê espaço para continuar crescendo caso surjam oportunidades estratégicas.

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A empresa fechou 2024 com dívida líquida de R$ 3,648 bilhões e uma relação Dívida Líquida/Ebitda de 1,8 vezes, abaixo do limite de duas vezes recomendado pelo conselho.

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