“Nós temos tudo para virar unicórnio e acho que, se não formos nós, não vai ter nenhum no segmento de agtechs (as startups de tecnologia para o agronegócio) este ano”, diz Sérgio Rocha, fundador e CEO da Agrotools, considerada uma das maiores empresas no ecossistema de soluções digitais, tecnologia e inteligência para o agronegócio.
Apesar da confiança, ele afirma estar satisfeito com o apelido, recebido recentemente, de camelo, uma alusão ao animal de grande resistência que habita principalmente o deserto. “Vejo a Agrotools como uma empresa que consegue passar por momentos de adversidade e tirar o melhor desse período”, diz. “Nós olhamos no horizonte, não tomamos decisões precipitadas, mas sim decisões ousadas na inovação e na tecnologia.”
Outro apelido ainda mais recente para a Agrotools é o de cabra, que consegue andar em superfícies mais difíceis. “Mas acho que esse bicho estranho chamado unicórnio é uma tendência natural para nós, especialmente com o crescimento de nossos produtos verdes, que não são mais uma opção para as empresas, mas tem de estar em todas elas”, afirma Rocha.
Fundada em 2006, a Agrotools desenvolveu aquele que é considerado o maior banco de dados do agronegócio do mundo. A ideia é conectar as empresas dos grandes centros ao que acontece no campo. O banco de dados é abastecido por imagens de satélites e outras informações captadas em campo, para ser possível realizar 30 milhões de análises, segundo Rocha.
Por meio das diversas camadas de informações coletadas e cruzadas pela empresa, é possível entender em tempo real se práticas de ESG (sigla em inglês para meio ambiente, sustentabilidade e governança) estão sendo aplicadas, ter inteligência de dados para saber se uma propriedade é elegível para emitir créditos de carbono e qual o risco de conceder crédito para certa produção.
Por vários anos a Agrotools recebeu apenas aportes do próprio Rocha e de um investidor anjo. Manteve-se com os próprios resultados, desenvolveu tecnologias inéditas e fez, até agora, só uma captação de US$ 20 milhões para expandir negócios na América do Sul e na América do Norte.
Além do Brasil, a startup tem bases na Argentina, Paraguai, Austrália e, mais recentemente, nos Estados Unidos e Canadá. Segundo Rocha, 15% das maiores marcas que têm relações com o agronegócio são seus clientes, entre as quais McDonald’s, Nestlé, Carrefour, Itaú, Bradesco, BRF e Rabobank.
Os contratos com empresas de todo os elos do agronegócio somaram R$ 150 milhões em 2022 em LTV (valor que o cliente gasta durante o período de relacionamento com a empresa). O montante é 80% maior em relação ao ano anterior, crescimento que Rocha espera repetir em 2023, cujo balanço ainda não foi fechado, e neste ano. A duração dos contratos, diz ele, é de três a cinco anos, em média.
No período da crise, a Agrotools tinha 90 funcionários. Hoje são 300. “Há muitos jovens e várias pessoas de cabelo branco, como eu”, diz o fundador. Há dois anos, a empresa passou a atender também clientes do setor público e seu primeiro contrato foi com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A startup está desenvolvendo a primeira calculadora de carbono para a pecuária tropical, em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV), com lançamento previsto para este ano.
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