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Sustentação dos preços futuros do minério de ferro passa por demanda da China e ‘minério verde’

Produto sustentável será fundamental para reduzir emissões de CO2 nas siderúrgicas e isso favorece o projeto da Bamin, na Bahia, que está em processo de venda para o consórcio Vale, Cedro e BNDESPar

Foto do author Ivo Ribeiro
Foto do author Bianca Lima

SÃO PAULO e BRASÍLIA - O cenário futuro dos preços do minério de ferro considera vários fatores. Primeiro, o comportamento da demanda global futura, especialmente da China, maior importador da principal matéria-prima do aço. Nos últimos três anos, o consumo de aço no país caiu devido à desaceleração econômica, com destaque para o setor imobiliário, que absorvia cerca de 35% do volume consumido.

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Os preços do minério não foram tão impactados porque siderúrgicas locais compensaram a desaceleração da demanda interna por aço com exportações acima de 90 milhões de toneladas em 2023, e projeções indicam mais de 100 milhões de toneladas em 2024. O governo chinês vem anunciando várias medidas de estímulo, como pacotes robustos de financiamento e refinanciamento de hipotecas de imóveis, visando reativar o setor da construção.

Outro fator para o mercado de minério é a evolução da oferta, que é o que regula o desenvolvimento de novas minas e a expansão das existentes. Cinco grandes produtores ― Rio Tinto, Vale, BHP, grupo FMG e Anglo American ― dominam mais de metade da produção global da commodity. Novas minas e expansões surgem no Brasil e em outros países.

A Bamin, mineradora na Bahia que tem um projeto para fazer 26 milhões de toneladas tem plano para entrar no mercado entre 2028 e 2029. No momento, a empresa trabalha para viabilizar o projeto integrado (mina-ferrovia-porto), com investimentos totais de R$ 30 bilhões, com um pacote de financiamentos públicos e a entrada de novos acionistas (ver matéria).

No médio prazo, o aumento de oferta de maior impacto é a mina gigante de Simandou, na Guiné, com início de operação previsto para 2026. Chamada de “Nova Carajás” (referência à mina brasileira da Vale), Simandou tem como acionistas a australiana Rio Tinto e grupos chineses. A mina poderá colocar no mercado mais de 150 milhões de toneladas quando atingir a plena operação.

Segundo analistas e especialistas, também poderá ajudar na sustentação dos preços o produto de qualidade elevada (alto teor de ferro e baixos contaminantes - alumina, sílica e fósforo). A Vale aposta nessa vertente em parcerias que vem desenvolvendo com clientes da siderurgia, com foco em minérios mais enriquecidos - na forma de aglomerados (pelotas e briquetes) ou de HBI (hot briqueted iron). Outras mineradoras também seguem esse caminho, adotando termos como “minério verde”, pelo fato de ajudarem a reduzir a geração de CO2 nas siderúrgicas.

Na mina Pedra de Ferro, da Bamin, o minério que está nas frentes de lavra com teor médio entre 28% e 32% é elevado a um produto final entre 65% e 69% após processo de beneficiamento e concentração. A divisão prevê cerca de 40% de sinter-feed (direct shipping ore-DSO) com 65,5% de ferro e 60% de pellet-feed para redução direta (PFRD), com 67% a 68% de teor. O mercado para esse tipo de minério é o que tende a crescer mais no futuro, e pagando prêmios por gerar menos 50% de CO2.

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Atualmente, a cotação do minério é definida por operadores do mercado na região norte da China, onde está o grande cinturão siderúrgico do país, tendo por base um produto de referência ― teor de ferro de 62%. O país dá as cartas na formação dos preços porque é o grande consumidor global do insumo, com importações de cerca de 1,2 bilhão de toneladas, além de contar com produção própria.

Os produtos com teores acima de 62% têm um prêmio para cada 1% a mais somado com baixo índice de materiais contaminantes no minério. A junção dos dois fatores pode resultar em prêmios na casa de US$ 5 por fração de 1% no valor da tonelada. O que resultaria cerca de US$ 30 a mais ao pellet feed com 68%. A isso se somaria também um prêmio por redução à metade de CO2 na fabricação do aço.

O preço da commodity de referência na China encerrou setembro cotado a US$ 108,50 a tonelada, puxado pelas medidas de estímulos à economia anunciadas pelo governo chinês na última semana do mês. Nesta quinta-feira, 10, o produto encerrou as negociações a US$ 104,25 a tonelada. O mercado está na expectativa de anúncio de novos estímulos à economia chinesa pelas autoridades de Pequim para dar sustentação aos preços, comenta Daniel Sasson, chefe da equipe de analistas de commodities do Itaú BBA.

O minério viveu um momento ruim em setembro: chegou a ser cotado a US$ 89,35 a tonelada, segundo a consultoria S&P Global Insight Commodities. Apesar disso, a média da cotação está em US$ 111,50. A equipe do Itaú BBA trabalha com média de US$ 107 a tonelada para 2024.

Para outro especialista do mercado, no curto prazo (quarto trimestre), a previsão de preço médio é de US$ 90 a tonelada. Em 2024, as projeções são mais otimistas: US$ 100 a US$ 110 a tonelada, ante cotação média de US$ 120 no ano passado. No entanto, as estimativas para o longo prazo variam de US$ 70 a US$ 90.

Pilha de minério de ferro extraído pela Bamin na fase preliminar da mina Pedra de Ferro, em Caetité: produção da empresa foi suspensa devido a custo elevado da logística. Foto: Bamin/Divulgacao

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Preço e custo de logística faz Bamin parar extração preliminar de minério

Depois de uma operação considerada de preparação da mina, com descascamento do minério superficial, a Bamin está paralisada neste ano. A logística disponível ― caminhão, trem da ferrovia FCA e porto não apropriado de Maragogipe (BA) para carga pesada e navios de pequeno porte ― tornou a operação de exportação inviável, no atual patamar de preço de US$ 100 a tonelada (colocado na China), informou ao Estadão o diretor financeiro da companhia, Alexandre Aigner.

A empresa vinha produzindo menos de 1 milhão de toneladas por ano (fez 1,6 milhão entre 2021 e 2023) na mina Pedra de Ferro, gerando alguma receita para a Bamin, que acumula prejuízos vistos como naturais para uma empresa em fase pré-operacional. O produto, segundo a mineradora, foi “muito bem aceito” por usinas de aço devido ao seu elevado teor de ferro - acima de 65%. A Bamin chegou a vender também para a Vale (para misturar com minério de Minas) e Anglo American.

A vida útil da mina Pedra de Ferro, na configuração com a capacidade atualizada, é de cerca de 25 anos, uma vez que as reservas lavráveis certificadas, conforme informações da Bamin, são de 647 milhões de toneladas de minério (no todo, as reservas inferidas são de aproximadamente 1 bilhão de toneladas).

O plano de investimento na nova configuração da mina, de 26 milhões de toneladas ao ano, prevê aportes acima de US$ 2,5 bilhões (R$ 13,55 bilhões), sendo grande parte em instalações de extração e beneficiamento do minério itabirito, além de abertura da mina, outros equipamentos e a construção de uma pera ferroviária (espécie de pátio) de cerca de 3 km para os trens acessarem a mina e serem carregados. Mas esse valor pode ficar 20% maior pela complexidade do projeto para se obter minério de alta pureza, de acordo com especialistas a par do assunto.

O objetivo principal da Bamin, hoje, é deslanchar seu projeto integrado nas três frentes ― mina, ferrovia e porto ― para as obras serem aceleradas ao mesmo tempo até meados de 2027. A empresa lançou um grande pacote com dezenas de contratos para as três frentes de obras, de US$ 3 bilhões. A previsão é até o final do ano receber as propostas técnicas e comerciais de fornecedores de equipamentos e serviços.

A garantia de recursos provenientes do BNDES, Banco do Nordeste do Brasil e Fundo da Marinha Mercante (FMM), mais capital dos acionistas (atuais ou novos), são vistos como fundamentais para completar o total de investimentos e dar partida ao projeto ainda em 2025 e ganhar ritmo a partir de 2026. A partir daí seriam 36 meses de implantação, para começar a embarcar minério no início de 2029.

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