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Tembici e Uber se unem para expandir serviço de bicicletas ‘laranjinhas’ para a América Latina

Aluguel poderá ser feito pelo próprio app da Uber; projeto quer aumentar frota de 22 mil para 30 mil bicicletas até o final do ano, sendo dez mil no modelo elétrico

Foto do author Aline Bronzati

NOVA YORK - A Tembici, dona das bicicletas laranjinhas, anuncia nesta quarta-feira, 5, uma parceria com a Uber, listada na Bolsa de Nova York (Nyse), para disponibilizar as bikes comuns e elétricas da marca aos 30 milhões de usuários do aplicativo de caronas. O projeto terá início em Recife em abril e o objetivo é estendê-lo até o fim do ano às demais praças de atuação da startup, como Brasília, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e também na América Latina. Os termos financeiros do acordo não foram divulgados.

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“Essa parceria é um ganha-ganha. A Tembici ganha podendo distribuir o serviço de bicicletas para milhões de usuários da Uber, que ganha disponibilizando um novo modal aos seus clientes, sustentável, mais ágil e que descarboniza as cidades”, diz o presidente e cofundador da Tembici, Tomás Martins, em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast, durante passagem por Nova York.

O executivo não revela as expectativas em torno da nova parceria, mas diz que a empresa está se preparando “bastante” devido ao potencial de alcance da Uber. Números de trajetos atuais nas cidades servem de termômetro: 60% dos deslocamentos vão até 5km – e são um alvo para espalhar as laranjinhas no Brasil e na América Latina.

O acesso às bicicletas será feito no próprio aplicativo da Uber e estará disponível ao lado das opções de carros como Uberx, UberGreen, UberPet, assim como o seu pagamento. “O aplicativo vai desenhar uma rota para o cliente retirar a bicicleta e devolvê-la em uma de nossas estações”, explica Martins.

O executivo não abre a divisão de receitas da parceria, mas a maior parte dos ganhos tende a ficar com a Tembici, que honra com os custos da operação.

A parceria é uma nova ofensiva da Uber no universo da micromobilidade. O aplicativo fez uma primeira aposta no segmento em 2018 ao comprar a startup nova-iorquina Jump. Anos depois, transferiu o negócio para a americana Lime, que assim como outros nomes do setor como a Grow, resultante da fusão entre a Yellow e a mexicana Grin, enfrentou desafios em seu modelo de negócio que permite aos usuários deixarem as bicicletas em qualquer lugar.

Tembici espera iniciar operações em Curitiba, Belo Horizonte e Florianópolis Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Essa parceria mostra o papel importante que as opções sem carro desempenham cada vez mais na estratégia da Uber para chegar a emissões zero de carbono, fornecendo aos usuários formas sustentáveis, acessíveis, e convenientes para viajar”, diz a chefe global de micromobilidade da Uber, Annie Duvnjak, ao comentar a nova aposta, desta vez, por meio da Tembici.

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Restrições

Com problemas de resultados e restrições regulatórias, o negócio de micromobilidade enfrenta desafios ao redor do mundo. No mais recente revés do setor, a Prefeitura de Paris decidiu proibir o uso de patinetes elétricos compartilhados após decisão dos moradores da capital francesa.

Diferente das rivais, a Tembici aposta em estações para retirada e entrega da bike, o que a permitiu seguir crescendo de forma mais estável, na contramão da concorrência. Do seu lado, a parceria com a Uber é inédita e vem na esteira de sua mais recente captação de recursos no valor de R$ 160 milhões junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), sendo R$ 80 milhões vindos do Fundo Clima, instrumento da Política Nacional sobre Mudança do Clima, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente.

“A captação com o BNDES vem para aumentar a demanda de bicicletas e a parceria com a Uber para aumentar a demanda de usuários”, diz o presidente da Tembici.

Com uma frota de 22 mil laranjinhas, a meta é encerrar 2023 com 30 mil bicicletas, sendo dez mil no modelo elétrico, em um esforço para suprir a demanda adicional que virá da parceria com a Uber.

Expansão

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Em outra frente, a empresa vai colocar os pés em novos mercados. Até o fim do ano, a Tembici espera iniciar operações em Curitiba, Belo Horizonte e Florianópolis. Nesses locais, Martins diz que a marca tem conversas com potenciais patrocinadores ao negócio, uma de suas fontes de receitas, mas não abre nomes.

No ano passado, a Tembici renovou o seu principal contrato, com o Itaú Unibanco, maior banco da América Latina, por mais uma década. Além disso, tem parceria com a operadora Claro em Brasília e, no Rio, com o iFood, enquanto em praças da América Latina, as laranjinhas também levam a marca da MasterCard, de pagamentos. No mundo, os grandes bancos estão entre os principais patrocinadores de bicicletas. O sistema de Nova York, nos EUA, tem apoio do Citigroup, enquanto o de Londres conta com o espanhol Santander e o do México é liderado pelo HSBC.

Quanto à expansão internacional, o presidente da Tembici diz que a empresa ainda vê espaço para crescer na América Latina antes de alçar novos voos. Na semana passada, o executivo participou de evento que reuniu grandes nomes do setor de fundos de private equity, que compram participações em empresas, em Nova York. Dentre os organizadores do encontro, estava o IFC, braço financeiro do Banco Mundial e um dos sócios das laranjinhas.

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Apesar disso, Martins afirma que a startup está bem capitalizada, com Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) positivo e, recentemente, atingiu break-even na operação de Bogotá, apenas quatro meses após o início da operação. “Mas estamos sempre conversando”, diz, sem dar mais detalhes. Sobre uma possível abertura de capital, o presidente da Tembici afirma que o foco é construir um “negócio grande”. “E, com isso, você pode ter vários caminhos possíveis, sendo um deles a abertura de capital”, acrescenta, ponderando que ainda não há uma data definida para tal passo.

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