Em 1980, o paulista João Braz Naves abriu uma pequena empresa de entregas na rodoviária de Ribeirão Preto (SP), onde trabalhou por dez anos vendendo bilhetes de ônibus. As encomendas eram levadas na “charmosinha”, apelido que ele deu ao primeiro veículo da Rodonaves – uma bicicleta guardada com carinho até hoje. Pouco mais de 40 anos depois, o Grupo Rodonaves continua atuando fortemente no transporte de cargas, que representa 85% do faturamento. Também é dono de seis concessionárias de caminhões Iveco, corretora de seguros e locadora de veículos, entre outros negócios. Em 2021, o faturamento cresceu 20%, para R$ 1,7 bilhão.
Em entrevista ao Estadão, “seu” João, como o fundador e presidente do grupo é conhecido, falou de investimentos, veículos elétricos, parcerias e do plano de expansão para 2022.
Como foi o desempenho da Rodonaves em 2021?
Não esperávamos que seria um ano com pandemia. No grupo, que tem mais de 5 mil colaboradores, perdemos cinco pessoas. A gente sente muito quando perde alguém. Sempre trabalhamos acreditando nas pessoas, no comércio e buscando o melhor resultado. Assim, nossos números foram muito bons. Na comparação com 2020, crescemos 20%, para um faturamento de R$ 1,7 bilhão. Fizemos investimentos e entramos no modal de transporte aéreo. Abrimos a Rodonaves Express, que são pontos de apoio para cliente menores. São dez na capital e na grande São Paulo. Um ponto negativo foi o atraso na entrega de veículos que a gente comprou. Mas conseguimos dar conta com a estrutura que a gente tinha.
Quais são as metas da empresa para 2022?
O ano de 2021 serviu como aprendizado e para a gente entender as dificuldades das montadoras e dos fornecedores. A falta de pneus, por exemplo, foi um problema muito sério. Mas nós não paramos e os fornecedores também entenderam a gente. Deram prazos maiores para pagamento e, mesmo quando não entregavam tudo que a gente havia comprado, tentavam resolver o problema. Recebemos caminhão sem pneu, mas isso não abalou a nossa estrutura. Temos uma boa gestão, e isso foi muito importante para administrar a situação. Seja como for, recebemos 260 caminhões em 2021. Alguns segmentos sofreram mais, mas a gente entrou em outros para buscar maior rentabilidade. Não dispensamos ninguém e, em 2022, vamos continuar no mesmo ritmo. No começo de janeiro, sentimos uma queda nos negócios, mas na segunda quinzena o ritmo voltou a crescer. O grupo tem como meta crescer 24% e abrir 28 novos pontos de atendimento em 2022. Acredito muito no País e nas pessoas. Temos bom relacionamento com os clientes e fornecedores. Tudo vai dar certo.
Os caminhões têm cada vez mais eletrônica, o que requer motoristas bem treinados. Faltam motoristas?
Acompanho o noticiário e vejo que muitas empresas estão com dificuldade. Hoje, o caminhão tem câmbio automático, banco que se ajusta sozinho e outras facilidades. A gente procura oferecer isso para os nossos motoristas, para melhorar a vida deles, dar mais conforto. Graças a Deus, nosso quadro está completo. E, quando aparece alguém bom, a gente segura, mesmo não tendo vaga aberta. Ele vai treinando e se preparando para pegar um caminhão assim que surgir a oportunidade. Temos um curso de formação de motoristas criado em 2020 que ajudou a acelerar o processo. A nossa escola treina o ajudante e o motorista, desde o caminhão pequeno ao maior. Se ele tem o sonho de dirigir uma carreta, nós ajudamos, pagamos o custo da habilitação. Estamos muito felizes por dar oportunidades às pessoas. E o mesmo cuidado e respeito que a gente tem com os colaboradores, eles têm com a gente. Todos procuram fazer um trabalho cada vez melhor, dar mais retorno, evitar manutenção desnecessária. Então, entre nossas metas está cuidar bem do nosso pessoal.
O preço do diesel e de insumos não para de subir. Como equalizar essas altas?
Se o preço não parar de subir – porque baixar, esquece –, vamos ter problema. Não tem como não repassar a alta dos custos. Há quatro anos, o diesel representava de 33% a 35% do custo da operação. Agora, passou a ser de 52%, 55%. É muito e isso está corroendo a rentabilidade. E não é só a nossa, mas do funcionário, do agregado e de todas as pessoas que trabalham no segmento.
Há clientes buscando caminhões elétricos e a gás?
Ainda não. Eles sabem que não tem produto nem rede de recarga disponíveis. No caso do gás é menos complicado, porque o combustível está disponível nos postos. Os clientes, principalmente de multinacionais, procuram por frotas mais novas, que poluem menos. É assustadora a diferença de preço do caminhão a diesel para o elétrico. Isso sem contar o custo da instalação dos pontos de recarga. Temos alguns caminhões elétricos (da JAC Motors) em testes. Eles estão indo bem, mas não dá para contar o tempo todo, porque a recarga das baterias leva horas. Estamos trabalhado com eles por sete, oito horas por dia. Nossa frota tem, em média, quatro anos de uso. Tomamos todos os cuidados para que o caminhão polua o mínimo possível. Todo mundo tem de fazer a sua parte para ajudar o País a reduzir as emissões.
Como está a locação?
A procura vem crescendo porque possibilita que o cliente tenha um veículo novo sem precisar desembolsar muito para isso. Assim, ele consegue um veículo para trabalhar, digamos, por cinco anos, com baixo custo de manutenção. Essa é a bola da vez.
Que dica o sr. daria ao João que estava abrindo a empresa há 41 anos?
A minha mensagem é a mesma de sempre. Tudo o que você fizer com amor, boa vontade e disposição, vai dar certo. O Brasil oferece muitas oportunidades. E, quando você investe no seu próprio negócio e tem uma caixinha, começa a acreditar mais. Isso possibilita que você faça o negócio melhorar. Se você está começando, minha dica é “faça o que gosta”. Pode ser uma vendinha, uma lojinha ou um negócio grande.
-
A voz de quem decide o futuro das grandes empresas do segmento:
O Estadão Mobilidade Insights trará, até 31 de janeiro, entrevistas com executivas e executivos que decidem os rumos de grandes empresas no Brasil. A reportagem ouviu representantes defabricantes de ônibus e caminhões, como a Volkswagen Caminhões e Ônibus, de automóveis e comerciais leves, como o Grupo Caoa e a GM, e de tratores para o agronegócio, caso da New Holland Agriculture. O Grupo Vamos, dono de várias concessionárias de veículos pesados, e que atua na locação de caminhões e máquinas da linha amarela, também participa.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.