O CEO da Tiffany, Anthony Ledru, tem uma meta ousada: consolidar a joalheria como a principal marca de luxo no Brasil. Para isso, a empresa abre em São Paulo sua nova loja de referência. Localizada anteriormente na entrada do Shopping Iguatemi, a loja agora ocupará um espaço maior e mais sofisticado, em formato duplex, dentro do mesmo centro de compras.
Inspirada na icônica loja da marca em Nova York, a nova unidade foi adaptada ao público brasileiro, incorporando elementos regionais na decoração e obras de artistas nacionais, como o designer Humberto Campana. Segundo Ledru, o mercado de luxo tem crescido significativamente no Brasil, que já figura entre os dez maiores mercados globais da categoria. O executivo atribui essa mudança ao aumento do consumo de produtos de alto padrão, como joias, após a pandemia de covid-19.
Ledru assumiu o comando da TIffany em 2021, após aquisição da empresa pela Moët Hennessy Louis Vuitton (LVMH, dono de marcas como Louis Vuitton, Bulgari e Givenchy) por US$ 16 bilhões. Sendo assim, a competição da Tiffany pelo topo do pódio no mercado de luxo no País é tanto contra marcas do próprio grupo quanto contra o grupo Kering, que tem nomes como Gucci e Balenciaga.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
Por que a Tiffany decidiu permanecer e ampliar sua loja no Shopping Iguatemi?
Se você estiver em São Paulo, há 100% de chances de você fazer compras no Iguatemi em algum momento. Ele vai do produto acessível ao super luxo. É extremamente bem localizado. Temos loja no Shopping Cidade Jardim também. Mas são lojas com papéis diferentes, e o Iguatemi ainda é o número um. Os outros têm crescido muito, mas é essencial estar lá se você tiver uma loja no Brasil. A localização é fundamental. No varejo, a localização é 90% do sucesso, porque ela direciona o tráfego.
Qual foi o investimento nessa nova loja?
Não divulgamos, mas é substancial, eu acredito que será o maior investimento na América Latina. Eram seis ou sete espaços do shopping integrados em um só. Então, estamos falando de muitos milhões de dólares de investimento.
O que diferencia a loja de referência de outras lojas da Tiffany?
Produtos sob medida e regionalização. Não é uma loja principal internacional da Tiffany. Dois terços do design são inspirados na loja de Nova York e um terço foi feito sob medida para o Brasil. O que é semelhante é ser um destino cultural. Estamos no ramo de joias, mas somos muito mais do que isso. Tentamos criar uma experiência imersiva. Temos joias e artesanatos extraordinários, é com isso que nos posicionamos, mas também tentamos criar esse destino cultural.
Qual regionalização foi feita na loja?
Na loja, há uma seleção de obras de artistas extraordinários, e vários deles são brasileiros. Temos um dos irmãos Campana (Humberto), porque infelizmente o outro (Fernando) faleceu há alguns anos. Ele está fazendo o merchandising visual da loja, está fazendo móveis para nós. Temos artistas internacionais e brasileiros. Temos um ceramista, Francis Petrucci. Temos outro artista brasileiro especializado em madeira, e a fachada é completamente sob medida. Acredito que somos a primeira marca internacional que fez tanto em termos de regionalização. A empresa é a Metro Arquitetos. Acho que os brasileiros são muito orgulhosos. É um País do tamanho de um continente, então há um sentimento de orgulho que acreditamos ser fundamental para reconhecermos na nossa loja.
Com o crescimento das vendas via internet, o que a empresa oferece de diferente ao consumidor que vai até a loja para fazer compras?
A oferta de produtos, o design, a experiência, a novidade e a regionalização farão da loja uma visita obrigatória. Teremos um estúdio de relógios. É a primeira vez que teremos isso em qualquer loja na América do Sul, e até mesmo nos EUA. De longe, somos uma das principais marcas de luxo hoje no Brasil. Estaremos entre as três primeiras, se não a marca de luxo número um do País. Essa é a nossa ambição pessoal. Se você não acredita, nada acontece. Acreditar é 90% do sucesso. Mas temos trabalho pela frente.
Entre os anos de 2019 e 2022, a Tiffany dobrou os resultados no País. Como está o ritmo de crescimento das vendas no País?
O crescimento está em dois dígitos. O Brasil está entre os nossos dez maiores mercados no mundo. Os brasileiros são formadores de tendências comerciais, porque viajam muito para o exterior, mas isso mudou completamente com a covid-19. Hoje há uma taxa muito alta de consumo local, muito maior do que há três ou quatro anos para todas as marcas, não só para a Tiffany.
Há planos de abrir mais lojas em 2025?
Vamos abrir uma loja de rua na Cidade do México. Mas a loja de referência será a de São Paulo na América Latina. No futuro, vamos renovar a maioria das lojas no Brasil, mas a primeira e principal no futuro previsível é a do Shopping Iguatemi.
Leia também
A Tiffany passou muitos anos sem um e-commerce e passou a vender online no Brasil em 2024. Qual foi o impacto das vendas online para as vendas da marca?
Com as vendas pelo celular, as limitações físicas desaparecem. Isso traz um alcance incrível. No Brasil, isso ajuda a nos conectar com milhões de consumidores. É substancial em termos de vendas, mas, para mim, o que é muito mais importante é a preparação, a informação, a narrativa que você pode compartilhar com um público que não alcançávamos.
Ao longo da história, as joias já foram símbolo de ostentação, riqueza, beleza e até investimento financeiro. A seu ver, qual é o papel que as joias têm hoje na sociedade?
É sobre celebrar um marco na sua vida e amor. Honestamente, é sobre isso. Amor-próprio, amor pelos outros. Ter sucesso no seu trabalho, ter dinheiro, é ótimo, mas é apenas algo vago. No final das contas, sendo filosófico, quando se trata dos momentos-chave, é sobre emoção, relacionamento e a sua família. É sobre sua esposa, seu marido, sua pessoa especial. É isso que importa. E eu acho que é isso que as joias fazem. Na Tiffany, as joias são, por definição, atemporais. Não são descartáveis. Você sabe que durarão para sempre.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.