Unigel aposta no agronegócio para lucrar com fábrica arrendada da Petrobrás

A produtora de fertilizantes iniciou a operação neste mês após concluir negócio com a petroleira no ano passado

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RIO - Grande fornecedora de ureia para o agronegócio no Brasil, a Unigel Agro Sergipe, fábrica de fertilizantes arrendada da Petrobrás no ano passado, começou a operar no início deste mês. À frente do negócio está a petroquímica Unigel. Ancorada no sucesso do mercado de commodities agrícolas brasileiras, a empresa dá como certo o retorno do dinheiro investido para colocar de pé o ativo antes operado pela estatal, afirmou seu presidente, Roberto Noronha, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

Fábrica Unigel Agro Sergipe, antigaFertilizantes Nitrogenados (FAFEN/SE), arrendada da Petrobrás Foto: ALAN SANTOS/PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA/DIVULGAÇÃO

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A companhia aposta na integração do novo negócio com outras das suas unidades petroquímicas. Também identifica, na vulnerabilidade do País ao fornecimento estrangeiro de insumos agrícolas, um nicho a ser ocupado por uma empresa nacional.

A fábrica de fertilizantes de Sergipe foi arrendada da Petrobrás em agosto do ano passado. O negócio incluiu outra planta, na Bahia, que deve entrar em operação no começo do segundo semestre. As duas unidades, antes batizadas de Fafen-SE e Fafen-BA, estavam na lista de desinvestimentos da estatal.

A petrolífera optou por se desfazer desse e de outros ativos da sua cadeia integrada de atuação. O objetivo é se dedicar ao que considera o foco do seu negócio: a produção de petróleo e gás natural em águas profundas e ultraprofundas, sobretudo no pré-sal. Com isso, reduziu muito sua presença na região Nordeste, concentrando-se no Sudeste.

Inicialmente, as duas fábricas ficaram paradas enquanto um novo investidor era aguardado. A medida teve efeito direto na geração de emprego e arrecadação de tributos de prefeituras e Estados. Os governos passaram, então, a ansiar pela reativação das unidades. A unidade de Sergipe, especialmente, é vista como uma possível âncora de desenvolvimento econômico a partir do comércio de gás, utilizado como insumo.

Demanda em alta

Estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) aponta um crescimento de mais de 50% da demanda interna por ureia nos próximos anos, por conta do avanço do agronegócio. O mesmo estudo indica que o Brasil tem capacidade de acolher cinco novas fábricas.

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“Não tenho como dizer os motivos pelos quais a Petrobrás tomou a decisão estratégica de sair. Mas posso dizer as razões pelas quais a gente está entrando. Temos uma forte integração. A gente acredita que, operando de forma enxuta, consegue ser bem-sucedido. Acredito que o Brasil precisa do produto. A demanda é forte. O Brasil importa 7,2 milhões de toneladas por ano somente de ureia. Sem contar o sulfato”, destacou o presidente da Unigel.

O prazo do primeiro lucro da fábrica de fertilizantes de Sergipe, já sob a gestão da empresa petroquímica, vai depender do comportamento das cotações da matéria-prima, o gás natural, e dos produtos agrícolas cujo cultivo depende de fertilizantes fabricados a partir da ureia e sulfato de amônia produzidos na Agro Sergipe. O gás está no primeiro elo dessa cadeia e o agronegócio, na última ponta.

O setor agrícola há anos sustenta o PIB e as perspectivas são de continuidade da expansão. Já o futuro do gás é mais incerto. Sua disponibilidade e um possível barateamento ainda dependem da instalação de infraestrutura e do apetite de novos agentes.

Unigel aposta em mercado de gás sem domínio da Petrobrás

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O marco legal de abertura desse mercado foi aprovado no Congresso em março e ainda há muitos questionamentos sobre sua efetividade. A Unigel é a primeira grande consumidora a apostar no desenvolvimento do comércio de gás sem a presença dominante da Petrobrás. Até então, a petrolífera controlava, praticamente sozinha, a produção do insumo em alto mar, seu escoamento até a costa, o transporte pelo interior do País e a distribuição em grande parte dos Estados.

Há uma expectativa do governo federal de que, com a chegada de novos agentes, o preço do energético caia. Alguns especialistas questionam, porém, a possibilidade de se promover a competição num setor que funciona em rede, no qual os diferentes elos da cadeia são interdependentes.

“A matéria-prima é o gás e o produto acabado, a amônia e a ureia. É o spread que define o prazo do retorno, se mais longo ou curto. Hoje, está tudo num nível alto. Amanhã, podem não estar mais. Não são tanto os valores absolutos, mas a diferença entre eles (custo com a matéria-prima e o ganho com o produto final). Isso é que vai interferir no prazo de retorno da planta”, afirmou Roberto Noronha.

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Em todo caso, se o novo mercado de gás não funcionar, a Unigel conta com a possibilidade de importação do produto. Atualmente, boa parte do suprimento interno já é garantido por outros países. A Bolívia é um deles, e há ainda infraestrutura para trazer o produto liquefeito (GNL) para ser regaseificado em terminais da Petrobrás e da iniciativa privada.

Em Sergipe, onde funciona a Unigel Agro Sergipe, a Golar Power e a EBrasil Energia operam um terminal de regaseificação. O Estado também é um promissor produtor de gás natural que, em alguns anos, poderá ser consumido na fábrica de fertilizantes.

“Não tem como dar errado, porque a perspectiva é muito boa”, enfatizou o executivo.

A maior parte da indústria consumidora da amônia e da ureia da Agro Sergipe, no entanto, está instalada em outros Estados, onde se concentra o agronegócio. A empresa fornece, sobretudo, para a região do Matopiba (confluência entre os Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), onde a produção agrícola avança, além de Minas Gerais.

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