É possível cancelar a aquisição de imóveis no modelo multipropriedades? Vale a pena adquirir?

Segmento cresce como promessa de luxo para classe média, com frações custando R$ 50 mil por imóveis em destinos turísticos

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Foto do author Leonardo Godim

As compras de imóveis no modelo multipropriedades se popularizaram desde o fim da pandemia, mas a maioria das pessoas ainda não conhece o que é esse produto. Desconhecido e atraente, o segmento sofre com alto nível de cancelamento após a compra – da ordem de 41,7% em 2024, segundo estudo da Caio Calfat Real Estate Consulting. Como saber se a multipropriedade é ideal para você, e não fazer parte dessa estatística?

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Sócia do Escritório Bordinassi de Advocacia, Maria Eugênia Bordinasse atende muitos dos casos de cancelamento, e teve até que criar um setor específico no escritório para lidar com os pedidos. Ela tem uma grande dica: ler a papelada e conferir todos os detalhes.

“O principal problema é que as pessoas não sabem o que estão comprando. Não sabem que tem dias específicos que ela poderá usar, que as parcelas podem mudar de valor e que tem o condomínio. Não dá para só ficar encantado com a proposta, com os quartos bonitos e os benefícios do resort”, alerta ela.

Maria Eugênia Bordinassi, advogada especializada em direito imobiliário, teve de abrir um setor no seu escritório para atender ao volume crescente de demandas de cancelamento Foto: Bordinassi Advocacia/Divulgação

Segundo a cofundadora da consultoria Mapie, que assina o estudo Hábitos de Viagens de Lazer do Multiproprietário Brasileiro, Carolina Sass de Haro, o principal motivo que leva as pessoas a comprarem esse produto é a possibilidade de viajar frequentemente para o seu destino favorito (60,45% responderam esse fator).

“Isso acontece porque na maioria dos casos as pessoas ficam, de alguma forma, preso aquele destino turístico e aos dias estabelecidos no contrato”, explica ela. Existem as intercambiadoras, que fazem um banco de dias, o pool, onde você pode trocar o seu direito de uso da propriedade por dias em outra propriedade, em outro destino, ou pelo valor referente ao aluguel para um terceiro. Mas nem toda multipropriedade inclui esse serviço.

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“Lá fora já existem os clubes de vantagens e benefícios baseados num programa de pontos. Você consegue não ficar amarrado a uma determinada temporada ou a uma determinada quantidade de dias. Essa conversão para pontos é um modelo que a gente observa funcionando bem no México, nos Estados Unidos e que algumas empresas já estão começando a olhar e adaptar seus produtos aqui”, observa Carolina.

Enquanto isso não está consolidado no Brasil, a recomendação é escolher locais pelos quais a família tem um vínculo afetivo e gostará de voltar por vários anos.

Presidente da Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Brasil (Adit), Caio Calfat explica que os canais habituais de venda nesta modalidade costumam ter um formato mais “agressivo” que o de imóveis tradicionais, onde é comum um tempo mais longo até a decisão da compra. Na multipropriedade, os potenciais compradores são captados entre turistas, que estão visitando aquele destino. A empresa oferece prêmios, atrai para a sala de vendas e faz ofertas. “Muitas vezes, o comprador decide na hora”.

Ele chama atenção para outro ponto que causa confusão nos compradores. “A multipropriedade não é um produto de investimento, mas para uso. A Adit condena que isso não seja colocado abertamente na hora da venda”, assevera Calfat.

Apesar da contraindicação, o estudo dos hábitos de lazer dos multiproprietários aponta que esse é o terceiro maior motivo pelo qual as pessoas adquirem esse produto. Esse dado preocupa. “É uma temeridade”, afirma Carolina Sass de Haro, chamando atenção para o fato de que a lei não prevê essa finalidade.

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