SÃO PAULO e RIO - José Luciano Duarte Penido, conselheiro independente da Vale que renunciou nesta segunda-feira, 11, escreveu, em sua carta de saída, que o processo sucessório do comando da mineradora “vem sendo conduzido de forma manipulada, não atende ao melhor interesse da empresa, e sofre evidente e nefasta influência política”. A Vale divulgou um comunicado afirmando que segue rigorosamente seu estatuto.
Segundo ele, “no Conselho se formou uma maioria cimentada por interesses específicos de alguns acionistas lá representados, por alguns com agendas bastante pessoais e por outros com evidentes conflitos de interesse”. O processo, continua ele, tem sido operado por frequentes, detalhados e tendenciosos vazamentos à imprensa, em claro descompromisso com a confidencialidade.
Penido escreve ainda não acreditar mais “na honestidade de propósitos de acionistas relevantes da empresa no objetivo de elevar a governança corporativa da Vale ao padrão internacional de uma corporation (companhia sem controle definido)”.
Assim, ele renunciou ao cargo ao qual foi eleito, com mandato de maio de 2023 a abril de 2025. “Minha atuação como Conselheiro Independente se torna totalmente ineficaz, desagradável e frustrante”, termina.
A carta foi enviada a Daniel Stieler, presidente do conselho, a Gustavo Pimenta, diretor Financeiro e de Relações com Investidores, e a Luiz Gustavo Gouvea, diretor de Governança Corporativa.
Penido é bacharel em Engenharia de Minas e tem longa carreira em grandes projetos de mineração. Foi presidente do Conselho de Administração da Vale antes de Sieler e diretor-executivo da Samarco de 1992 a 2003, além de ter comandado o conselho da Fibria Celulose por dez anos.
Em comunicado divulgado na noite desta terça, a Vale afirma que a atuação do conselho “está rigorosamente em conformidade com o estatuto social” no processo de definição do presidente da companhia e também com o “regimento interno e políticas corporativas”.
A empresa diz também que seu conselho de administração seguirá “desempenhando as ações previstas nos processos de governança” e “executando sua missão de forma diligente”.
Processo turbulento
Na sexta-feira, 8, o Conselho de Administração da empresa decidiu em reunião extraordinária renovar o contrato do CEO, Eduardo Bartolomeo, até 31 de dezembro de 2024. O mandato se encerraria em maio. Até o fim do ano, uma empresa de recursos humanos será contratada para elaborar uma lista tríplice com indicações de sucessores, e Bartolomeo ajudará na escolha.
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Ele também fará a transição da posição até março do próximo ano e permanecerá como advisor (consultor) até 31 de dezembro de 2025. O placar teve 11 votos pela troca do presidente e dois pela permanência de Bartolomeo no posto.
Representantes de acionistas estrangeiros, como a japonesa Mitsui e fundos de investimentos, como BlackRock e Capital, que antes haviam votado pela permanência do executivo, votaram, desta vez, pela sua substituição, com a extensão do seu mandato até o fim do ano. Dos 13 conselheiros, apenas os independentes Paulo Hartung e José Luciano Penido se mantiveram contrários à saída de Bartolomeo do comando da companhia. Eles são os mais refratários à influência de Brasília na companhia.
O processo de sucessão no comando da Vale tem sofrido forte interferência política nos últimos meses e dividiu o Conselho. O Governo Lula tentou emplacar, por exemplo, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega ao comando da empresa e no Conselho, mas acabou recuando.
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