Vale: conselheiro renuncia por ‘manipulação’ na escolha do CEO e alega ‘nefasta influência política’

Em carta, José Luciano Duarte Penido diz não acreditar mais ‘na honestidade de propósitos de acionistas relevantes da empresa’; mineradora afirma que escolha de presidente segue estatuto

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Foto do author Cristiane Barbieri
Atualização:

SÃO PAULO e RIO - José Luciano Duarte Penido, conselheiro independente da Vale que renunciou nesta segunda-feira, 11, escreveu, em sua carta de saída, que o processo sucessório do comando da mineradora “vem sendo conduzido de forma manipulada, não atende ao melhor interesse da empresa, e sofre evidente e nefasta influência política”. A Vale divulgou um comunicado afirmando que segue rigorosamente seu estatuto.

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Segundo ele, “no Conselho se formou uma maioria cimentada por interesses específicos de alguns acionistas lá representados, por alguns com agendas bastante pessoais e por outros com evidentes conflitos de interesse”. O processo, continua ele, tem sido operado por frequentes, detalhados e tendenciosos vazamentos à imprensa, em claro descompromisso com a confidencialidade.

Penido escreve ainda não acreditar mais “na honestidade de propósitos de acionistas relevantes da empresa no objetivo de elevar a governança corporativa da Vale ao padrão internacional de uma corporation (companhia sem controle definido)”.

Sede da Vale no centro do Rio de Janeiro Foto: FABIO MOTTA/ESTADAO

Assim, ele renunciou ao cargo ao qual foi eleito, com mandato de maio de 2023 a abril de 2025. “Minha atuação como Conselheiro Independente se torna totalmente ineficaz, desagradável e frustrante”, termina.

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A carta foi enviada a Daniel Stieler, presidente do conselho, a Gustavo Pimenta, diretor Financeiro e de Relações com Investidores, e a Luiz Gustavo Gouvea, diretor de Governança Corporativa.

Penido é bacharel em Engenharia de Minas e tem longa carreira em grandes projetos de mineração. Foi presidente do Conselho de Administração da Vale antes de Sieler e diretor-executivo da Samarco de 1992 a 2003, além de ter comandado o conselho da Fibria Celulose por dez anos.

Em comunicado divulgado na noite desta terça, a Vale afirma que a atuação do conselho “está rigorosamente em conformidade com o estatuto social” no processo de definição do presidente da companhia e também com o “regimento interno e políticas corporativas”.

A empresa diz também que seu conselho de administração seguirá “desempenhando as ações previstas nos processos de governança” e “executando sua missão de forma diligente”.

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Processo turbulento

Na sexta-feira, 8, o Conselho de Administração da empresa decidiu em reunião extraordinária renovar o contrato do CEO, Eduardo Bartolomeo, até 31 de dezembro de 2024. O mandato se encerraria em maio. Até o fim do ano, uma empresa de recursos humanos será contratada para elaborar uma lista tríplice com indicações de sucessores, e Bartolomeo ajudará na escolha.

Ele também fará a transição da posição até março do próximo ano e permanecerá como advisor (consultor) até 31 de dezembro de 2025. O placar teve 11 votos pela troca do presidente e dois pela permanência de Bartolomeo no posto.

Representantes de acionistas estrangeiros, como a japonesa Mitsui e fundos de investimentos, como BlackRock e Capital, que antes haviam votado pela permanência do executivo, votaram, desta vez, pela sua substituição, com a extensão do seu mandato até o fim do ano. Dos 13 conselheiros, apenas os independentes Paulo Hartung e José Luciano Penido se mantiveram contrários à saída de Bartolomeo do comando da companhia. Eles são os mais refratários à influência de Brasília na companhia.

O processo de sucessão no comando da Vale tem sofrido forte interferência política nos últimos meses e dividiu o Conselho. O Governo Lula tentou emplacar, por exemplo, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega ao comando da empresa e no Conselho, mas acabou recuando.

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