Roberto Fulcherberguer deixou na sexta-feira, 31, o cargo de presidente da Via (dona da Casas Bahia e do Ponto). O anúncio feito pela companhia após o fechamento do mercado não revelou os motivos da escolha do Conselho de Administração. Como já noticiou o Estadão/Broadcast, a nova presidência do conselho, que tinha maior foco financeiro, já não dava tanta liberdade a Fulcherberguer como no início de sua gestão. Alçado ao cargo pela influência de Michael Klein, maior acionista da empresa, Fulchergerger ainda sofreu desgastes com desavenças causadas pelo representante da família fundadora da Casas Bahia sobre a remuneração dos executivos da companhia.
Quem vai assumir o cargo, em maio, é Renato Horta Franklin, até então presidente da Movida, empresa de locação de automóveis.
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No início de sua gestão, em 2019, Roberto Fulcherberguer recebeu carta branca do Conselho para tocar a virada da companhia. Atualmente, porém, os conselheiros têm buscado participar mais ativamente das decisões da empresa. A troca da cúpula do Conselho se deu durante as discussões sobre o orçamento de 2023. Em meio a embates em um segmento fortemente atingido pela alta dos juros, o então presidente do Conselho, Raphael Klein, propôs abrir mão do cargo em favor de Renato Carvalho, conselheiro da companhia desde 2012.
Com o novo nome do comando, as metas internas de rentabilidade tendiam a ficar mais altas, o que sempre tira um pouco o conforto da diretoria executiva. Depois de sair do domínio do GPA, a companhia teve na presidência do conselho Michael Klein, membro da família fundadora, e, na sequência, seu filho Raphael. Ter um membro independente no comando era, portanto, um bom sinal e afastava os escândalos familiares, que já povoaram o noticiário, da imagem da companhia.
A crise mais recente, que desgastou a imagem de Klein e dos executivos da Via, foi em meados de 2022. Em uma argumentação pública contra a companhia, Michael Klein afirmou que o aumento de remuneração proposto à época para os executivos ocorria “apesar do desempenho da companhia, da não distribuição de proventos aos acionistas nos últimos quatro anos e da desvalorização de aproximadamente 88,18% da cotação das ações”. Ao se colocar contra a remuneração da diretoria, Klein também colocou em evidência desavenças com seu filho, Raphael, que presidia o conselho de administração da varejista.
Fontes próximas à empresa disseram que a saída de Fulcherberguer se deu em clima de tranquilidade. Para elas, o agora ex-gestor é visto como alguém que foi importante no processo da arrumação da casa na Via. De fato, sob o comando dele, a companhia passou pelo renascimento de sua operação digital, capaz de segurar a empresa em meio ao fechamento do comércio físico nos períodos mais duros da pandemia. Além disso, sua gestão tirou “esqueletos do armário”, anunciando duas vezes ao mercado a necessidade de separar dinheiro para resolver problemas do passado.
A última provisão, de R$ 1,2 bilhão, foi remediada com uma solução criativa que, a princípio, trouxe desconfiança do mercado. A empresa propôs compensar o desembolso desse dinheiro com a monetização de créditos fiscais e terminou 2022 conseguindo colocar o plano em prática.
Mesmo com todo esse trabalho, porém, a Via ainda tinha problemas. Com uma dívida alta, os resultados da companhia vinham sendo afetados pela taxa de juros de 13,75%. Assim, mesmo tendo cortado custos e virado o volante em direção à rentabilidade no último ano, Fulcherberguer deixa a empresa em um momento de resultados ainda desafiadores.
Para 2023, a companhia ainda tem R$ 1,3 bilhão em vencimentos de dívidas para negociar. Até antes da saída do CEO, pelo menos, a perspectiva do setor financeiro era positiva para a rolagem desses papéis.
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