Esta segunda-feira, 9, começou com um gosto amargo de ressaca para os funcionários do Víssimo Group, um dos cinco maiores importadores de vinho do Brasil e dono das marcas Grand Cru e Evino. Nesta manhã, Marcos Leal anunciou o corte de 15% do quadro de 450 funcionários, inclui a saída de João Palhinha, diretor de B2B (negócios de empresa para empresa), que já vinha sendo negociada. Ari Gorenstein, que era co-CEO da empresa, deixa o cargo e assume uma cadeira no conselho. Leal agora fica como único CEO, com a ideia de implementar medidas para melhorar a rentabilidade do grupo.
“O desejo dos sócios era ter uma liderança única, para ser mais rápido nas tomadas de decisões, e ter uma gestão mais enxuta”, diz Leal, com exclusividade para o Estadão. Neste ano, a Víssimo, holding que nasceu no final de 2021, quando a Evino comprou a importadora Grand Cru e se tornou, então, a terceira maior importadora do mercado, deve ter um aumento do faturamento ao redor de 5%. É um resultado abaixo da previsão inicial de ficar entre 15% e 20% acima do registrado em 2023.
“É um crescimento razoável, mas aumentamos a nossa rentabilidade”, afirma Leal. Pelas estimativas da Ideal BI, consultoria focada no segmento de bebidas, o mercado de vinho deve crescer entre 8% e 10% em 2024. A Víssimo não divulga os seus números financeiros.
Leal conta que a Víssimo vinha de estoques altos nos últimos dois anos, resultado de importações realizadas com a expectativa de crescimento do consumo de vinho. Durante a pandemia, o mercado de vinhos no Brasil cresceu significativamente, e muitas companhias apostaram que este aumento continuaria com o final da quarentena, o que não se confirmou.
Em 2021, por exemplo, foram importadas 17,6 milhões de caixas de 9 litros (o equivalente a 12 garrafas de 750 ml) entre vinhos e espumantes, o recorde do mercado. Em 2022, a retração já dava os seus sinais, com a importação chegando a 16,5 milhões de caixas de 9 litros. Em 2023, foi de 16 milhões de caixas de 9 litros, e em 2024 deve chegar a 17,4 milhões de caixas, um patamar ainda abaixo do registrado em 2021.
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Outro exemplo é o plano de aumento do número de franquias que, como diz Leal “andou de lado” este ano. A Víssimo fecha 2024 com 127 lojas da Grand Cru, sendo 13 próprias - e o mesmo número de unidades da época da criação da holding. Na Evino, o projeto de franquias começou após a criação da holding. Hoje são 11 lojas, com 5 próprias e 6 franquias.
Dos produtores, a holding sente a saída da vinícola italiana San Marzano, com foco nos vinhos da região da Puglia. Mas segue com nomes fortes no mercado, como os argentinos Zuccardi e Viña Cobos, e a chilena Viña San Pedro.
No setor, especula-se que a saída de Gorenstein seja uma forma de preparar a empresa para uma segunda rodada de captação no mercado, o que Leal nega. Desde a compra da Grand Cru, a Víssimo tem como sócios majoritários a Vinci Partners, o family office JCR e a XP Private, além dos sócios fundadores, que incluem Leal e Gorenstein.
Leal e Gorenstein fundaram a Evino em 2013, então uma importadora focada em ofertas relâmpago de garrafas de vinho, e que depois migrou com força para o e-commerce, e dividiram o cargo de CEO desde então. Quando a Grand Cru foi comprada, a decisão foi deixar os dois executivos no conselho de administração e nomear como CEO Alexandre Bratt, que já exercia esta função na importadora Grand Cru.
Um ano e meio depois, a decisão foi desligar Brett, e os dois voltaram ao cargo de CEO. Gorenstein focado em operação e produto, e Leal em finanças, tecnologia e marketing. Neste período, a Víssimo também enfrentou o desafio de unificar duas culturas diferentes de empresas: a Evino, com foco no mercado online, e a Grand Cru, importadora com perfil mais tradicional, de venda nos mercados on e off trade.
“Foi o final de um ciclo”, afirma Gorenstein. Tanto ele como Palhinha afirmam que pretendem ficar neste mercado de vinhos, em novos projetos.
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