A Volkswagen do Brasil vai adicionar R$ 9 bilhões ao seu plano atual de investimentos, que era de R$ 7 bilhões para o período de 2022 a 2026, e entrar na rota da eletrificação de seus veículos no País. O grupo anunciou na noite desta quinta-feira, 1º, que vai produzir carros híbridos flex, que podem usar etanol ou gasolina, e uma nova picape em segmento no qual ainda não atua. Os projetos serão, em parte, desenvolvidos no País.
Assim, o plano de investimentos da montadora alemã passa a ser agora de R$ 16 bilhões e foi estendido até 2028. Inclui ainda 16 lançamentos a partir deste ano, entre quatro modelos inéditos, atualizações de carros atuais e importados (entre os quais, modelos elétricos). O montante inclui também a modernização das quatro fábricas do grupo que vão receber os novos projetos.
No mês passado, a General Motors também anunciou investimentos de R$ 7 bilhões para o período de 2024 a 2028. Em meados deste mês, a Stellantis (dona da Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën e RAM) divulgará seus planos para os próximos cinco anos.
No fim de 2023, já haviam divulgado novos aportes no País a Renault (R$ 2 bilhões, em 2024 e 2025), a Nissan (R$ 2,8 bilhões, de 2023 a 2025) e a Caoa Chery (R$ 3 bilhões, de 2024 a 2028).
Segundo Ciro Possobom, presidente da Volkswagen do Brasil, a fábrica de São José dos Pinhais (PR) ficará com a produção da nova picape; a de São Carlos (SP), com um inédito motor 1.5 híbrido flex; e a de Taubaté (SP), com um novo automóvel, provavelmente um SUV compacto.
A planta Anchieta, em São Bernardo do Campo (SP), terá dois novos produtos. Embora o executivo não confirme, serão dois híbridos, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Possobom não informa a data de lançamento do primeiro híbrido, e só adianta que não será neste ano. Todos os veículos produzidos no Brasil serão exportados para a América do Sul.
Na tarde desta sexta-feira, 2, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e mais oito ministros participarão de evento na fábrica da montadora no ABC paulista de oficialização do novo programa de investimentos.
Híbridos
Possobom afirma que a Volkswagen desenvolverá uma nova plataforma de veículos, chamada de MQB Hybrid, que comportará modelos híbridos flex em várias opções (leve, médio e plug-in, por exemplo). “Poderemos usar a plataforma para qualquer tipo de hibridização, mas (a produção) vai depender da estratégia da companhia e de análises do mercado.”
Carros elétricos só estão nos planos da montadora para o final da década. “Ainda são muito caros, precisam de uma cadeia forte de fornecedores de baterias e motores e ampla infraestrutura de recarga”, justifica o presidente da Volkswagen.
Em sua opinião, modelos a bateria atualmente são indicados para quem pode ter pelo menos dois carros, o elétrico para uso urbano (por causa dos carregadores) e o outro a combustão ou híbrido, para viagens mais longas. “Eu confio no flex, é um ativo do Brasil”, diz ele, acrescentando que o etanol, combinado com uma solução de eletrificação, é uma boa alternativa para o País.
Ele explicou que a produção local de um carro só se justifica para volumes de 60 mil a 100 mil unidades ao ano — os carros elétricos, hoje, representam apenas 0,9% das vendas no mercado brasileiro, e os híbridos, 3,4%.
Países da Europa e os Estados Unidos enfrentam, atualmente, queda nas vendas de elétricos devido à redução de incentivos para a compra, falta de infraestrutura de recarga e desvalorização dos modelos usados.
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Outro projeto incluído no novo plano de aportes é a produção de biometano em parceria com a Raízen no interior de São Paulo. Segundo Possobom, inicialmente metade do gás natural utilizado nas fábricas de São Bernardo e de Taubaté será de biometano feito a partir do bagaço da cana.
Incentivos no Nordeste
Possobom informou que o novo plano de investimentos não terá aporte da matriz alemã, mas a subsidiária brasileira buscará empréstimos locais, por exemplo, no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), especialmente para os projetos de introdução de novas tecnologias e uso de inteligência artificial, por exemplo.
O plano foi aprovado em meados de janeiro, embora já estivesse praticamente pronto no fim do ano passado, à espera da provação do projeto da reforma tributária — que incluiu a extensão de incentivos para montadoras do Nordeste e Centro-Oeste, beneficiando a Stellantis (com fábrica da Jeep em Pernambuco), a BYD (que comprou as instalações da Ford na Bahia) e, em menor escala, os grupos Caoa/Chery e HPE/Mitsubishi, com unidades em Goiás.
“Há outros projetos que poderiam estar nesse pacote, mas decidimos esperar”, diz Possobom. Antes da votação do projeto, que estendeu o fim do incentivo fiscal de 2025 para 2032, Volkswagen, GM e Toyota lideraram campanhas contra a prorrogação. Entre os argumentos estava o de que o benefício prejudicava a concorrência e levaria empresas do Sul e Sudeste a reverem investimentos.
O executivo avalia que, embora aprovada, a prorrogação dos incentivos tem novas regras, como a proibição de transferência de créditos de IPI de uma fábrica para outra que não esteja no Nordeste, e a tributação dos benefícios, o que reduz em quase 30% o valor total do incentivo.
Também ocorreu no final de dezembro a aprovação do programa automotivo Mover, que dará descontos de IPI para investimentos na produção de carros híbridos e elétricos.
Maior crescimento
A Volkswagen foi a montadora que mais cresceu em vendas no ano passado, com 345 mil unidades, 28,2% a mais que no ano anterior. O mercado total de automóveis e comerciais leves cresceu 11,3%. A marca encerrou o ano com 15,8% de participação no mercado, ficando em segundo lugar, atrás da Fiat, com 21,8%, e próxima da GM, com 15%.
O grupo registrou em 2023 seu terceiro ano seguido de resultados positivos, embora não divulgue os números.
Para lançar o novo programa de investimentos, a empresa realizou negociações com dirigentes dos quatro sindicatos de metalúrgicos que representam os trabalhadores das quatro bases. Os acordos envolvem reajustes salariais, pagamento de participação nos lucros e contratações, entre outros itens. Ao todo, a Volkswagen emprega 13 mil pessoas no Brasil.
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