Como a Weg se tornou uma máquina de compra de empresas e chegou a 17 países

Companhia fundada em 1961 tornou-se multinacional de equipamentos e concluiu, neste ano, nos EUA, a maior aquisição de sua história, por US$ 400 milhões, somando mais dez fábricas ao portfólio

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Foto do author Ivo Ribeiro

Em abril de 1961, um eletricista, um administrador e um mecânico se juntaram, em Jaraguá do Sul (SC), para criar uma empresa especializada em fabricar motores elétricos, à qual deram o nome de Eletromotores Jaraguá, em homenagem à cidade. Foi o embrião, 63 anos atrás, da Weg, que se tornou uma multinacional brasileira reconhecida globalmente por atuar na fabricação de equipamentos elétricos, com destaque em motores e automação industrial.

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Hoje, a companhia está presente em 17 países (incluindo o Brasil), com 63 unidades industriais, e apresenta um valor de mercado na Bolsa superior a R$ 220 bilhões, com uma receita anual que caminha para R$ 40 bilhões — fechou 2023 com cifra de R$ 32,5 bilhões. A Weg se destaca ter uma taxa de crescimento anual composta de 18% ao longo dos últimos 28 anos, fruto de crescimento orgânico e de aquisições, em suas informações oficiais.

A denominação Weg é referência às iniciais dos nomes dos três fundadores — Werner Ricardo Voigt, Eggon João da Silva e Geraldo Werninghaus. Cada um deles aportou ao negócio iniciante seus conhecimentos e experiências adquiridos até então.

Werner Voigt, Eggon da Silva e Geraldo Werninghaus, fundadores da Weg Foto: Weg/Divulgação

Voight, o eletricista, filho de imigrantes alemães da região de Düsseldorf, havia montado oito anos antes uma pequena oficina no centro de Jaraguá do Sul que fazia manutenção de cerca das duas dezenas de veículos motorizados que então circulavam pela cidade e pela região. O negócio prosperou e mostrou o espírito empreendedor do jovem empresário. Foi Voigt quem idealizou o protótipo de um motor que se tornou o produto originário da Weg. A divisão de motores elétricos é até os dias atuais a referência da companhia.

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Eggon João da Silva, que nasceu em 1929 no município vizinho de Schroeder, tinha desde cedo o dom para a atividade de administrador. Em 1957, após 14 anos no principal banco do Estado, tornou-se sócio da João Wiest & Cia. Ltda., empresa especializada em fabricar canos de escape para veículos. Quatro anos depois deixou a empresa, que já tinha 150 funcionários, para fundar a Weg. Foi o primeiro presidente da Weg, por quase três décadas.

Geraldo Werninghaus, o mecânico, nasceu em Rio do Sul e começou sua carreira profissional na Werninghaus & Filhos, oficina de seu pai em Joinville. Iniciou o aprendizado de mecânico aos 14 anos. Segundo a companhia, seus conhecimentos em mecânica e sua criatividade para solucionar problemas, somados às habilidades dos colegas, serviram para tornar a empresa uma referência no Brasil. Na fábrica, ele se encarregava da produção propriamente dita, tornando-se um líder nessa área da empresa. Em 1989, ao deixar as funções executivas e passar ao conselho administrativo, experimentou a carreira pública: foi vereador, deputado estadual e prefeito de Jaraguá do Sul.

A companhia não abre o porcentual exato de participação acionária de cada um dos seus donos, atualmente distribuídos em várias dezenas de herdeiros. Em seu site, na área de relações com investidores, a Weg informa que os três ramos familiares controlam 50,09% das ações por meio da holding WPA Participações. Dessa fatia, cada família detém 33,33%. Os membros das famílias têm ainda, diretamente, 14,49% do capital, totalizando 64,58% das ações em poder dos fundadores.

Anne Werninghaus, neta de Geraldo Werninghaus, é apontada como a maior acionista individual da Weg, com uma fortuna estimada pela revista Forbes, no ranking anual deste ano, de R$ 6,96 bilhões. Anne, que não tem atuação na empresa, como a maioria dos demais herdeiros, recebeu do pai grande parte das ações. A publicação lista 29 herdeiros dos três fundadores da Weg (já falecidos) na sua lista de bilionários brasileiros, com patrimônio somado de R$ 95,6 bilhões.

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Com a expansão e a diversificação dos negócios e com sua internacionalização, em uma trajetória de mais de seis décadas, a Weg ganhou projeção no mercado de capitais. O papel da companhia, que encerrou agosto valendo R$ 54,15 na B3, neste ano registrou alta de 50,33%, saindo de R$ 36,02 (valor ajustado no fechamento). No período de 12 meses, valorizou 53,5%. No final de agosto, a multinacional brasileira de equipamentos elétricos atingiu valor de mercado de R$ 227,3 bilhões, só perdendo para Petrobras (R$ 540,1 bilhões), Itaú (R$ 335,5 bilhões) e Vale (R$ 270,4 bilhões) e seguida por Ambev (R$ 202,6 bilhões). Ao final de 2023, a Weg contabilizava cerca de 356 mil acionistas.

Motores elétricos é ainda o produto carro-chefe da companhia, que não abre a participação de receita por produtos. Com motores, acionamentos e redutores elétricos formam uma das sete linhas de produtos, seguida por geradores e transformadores de energia, produtos e sistemas para eletrificação, automação e digitalização. A Weg se distribui em quatro divisões de negócio: Equipamentos Eletroeletrônicos Industriais, Geração, Transmissão e Distribuição de Energia (GTD), Motores Comerciais e Appliance e Tintas e Vernizes.

As primeiras aquisições de ativos da Weg no exterior ocorreram no ano de 2000 no México — onde está consolidando uma plataforma industrial de grande porte, visando atender ao mercado da América do Norte, especialmente os Estado Unidos — e na Argentina. De lá para cá, principalmente a partir de 2010, a Weg se tornou uma máquina de compra de ativos, avançando do Brasil para várias partes do mundo: das Américas, com forte posição nos EUA e no México, além do Brasil, Europa (vários países), Ásia, com destaque para China e Índia, até a África.

Nos Estados Unidos, em setembro passado, a companhia fez seu maior investimento de aquisição. Por cerca de US$ 400 milhões (o equivalente a R$ 1,98 bilhão pelo câmbio da época) comprou a fabricante de motores elétricos industriais e geradores Regal Rexnord. Com o negócio, a Weg herdou uma dezena de fábricas nos EUA, Canadá, México, China, Índia, Itália e Países Baixos.

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Primeira presidência durou 28 anos

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Em 63 anos, até abril, a Weg foi uma empresa de apenas três presidentes executivos. Até 1989, o comando esteve nas mãos de Eggon João da Silva, que ficou 28 anos no cargo. Passou o bastão para o filho Décio da Silva, e os fundadores foram para o conselho de administração. Décio da Silva, em 2008, tornou-se presidente do conselho, e então transferiu a posição para um executivo prata da casa, Harry Schmelzer Jr, que ficou à frente da empresa por 16 anos. Há cinco meses, Alberto Yoshikazu Kuba foi empossado como quarto presidente executivo da Weg.

Dez anos após ser fundada, a Weg abriu o capital na Bolsa de Valores e em 2007 migrou as negociações de seus papéis para o Novo Mercado da B3, juntando-se a empresas que adotam práticas de governança corporativa adicionais às até então exigidas pela legislação brasileira do mercado de capitais. A década de 70 foi marcada pelo processo de expansão no mercado nacional e pelos primeiros passos da empresa no mercado internacional, com início de exportação de motores para países da América Latina.

Fábrica de motores WEG, na cidade de Jaraguá do Sul (SC) Foto: Jonne Roriz/Estadão

Na década seguinte, foi iniciado o processo de expansão e diversificação dos negócios ao mesmo tempo que foram criadas novas unidades de produtos. Com o selo Weg na frente do nome, surgiram as unidades de Acionamentos, Transformadores, Energia, Química (tintas industriais) e Automação (para desenvolver, produzir e comercializar produtos de automação industrial e pacotes elétricos).

Alguns marcos da trajetória da companhia, que ajudaram a consolidar sua expansão e sua internacionalização, levando a Weg a se tornar a gigante que é hoje, foram: na década de 1990 ocorreu a abertura da filial nos EUA e em vários países da Europa; em 1999, a companhia já exportava 29% da produção para 55 países e no Brasil atingia 79% de participação de mercado em motores elétricos; em 2001, o faturamento atinge o primeiro R$ 1 bilhão; a entrada na China em 2025, com a inauguração da primeira fábrica no país asiático; e o início de operações fabris, em 2010, na Índia, outro passo importante.

Em 2011, a empresa vislumbrou um grande potencial de negócios no segmento de geração de energia renovável eólica. No ano seguinte, faz o primeiro fornecimento de um aerogerador com o selo Weg, ao instalar equipamentos em um parque eólico do Nordeste, marcando sua entrada em um mercado dominado por multinacionais./Com Clayton Freitas