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Neoindustrialização: o que Lula e Alckmin defendem, e o que dizem os economistas

Presidente e vice-presidente publicaram no ‘Estadão’ diretrizes do governo para a recuperação do setor industrial brasileiro; economistas elogiam preocupação, mas apontam falhas na análise

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Por Redação

Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) publicaram um artigo no Estadão apontando diretrizes para a neoindustrialização do Brasil.

O texto de Lula e Alckmin foi divulgado na quinta-feira, 25. No mesmo dia, o governo anunciou um programa para baratear o preço dos carros no Brasil.

No artigo, Lula e Alckmin defenderam os seguintes pontos:

  • Diversificação do setor de forma criteriosa e a partir dos setores em que o País já tem know-how;
  • Reativação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI) para definir “missões” para a indústria;
  • Criação do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (Padis);
  • Enfrentar o chamado custo Brasil;
  • Fortalecimento do comércio exterior com países da América Latina, da África e da Ásia;
  • Para a cadeia do agronegócio, reduzir a dependência externa com o Plano Nacional de Fertilizante;
  • Aprovação da Reforma tributária para destravar, desburocratizar e simplificar processos da indústria.

Qual é a situação da indústria?

A indústria brasileira tem enfrentado dificuldades para crescer e competir com outros países.

Os economistas chamam a atenção, por exemplo, para o fato de que o setor industrial perdeu relevância no Brasil de forma muito rápida, sem que a economia brasileira conseguisse aumentar o seu PIB per capita.

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Indústria perdeu participação no PIB do Brasil de forma acelerada Foto: EPITACIO PESSOA / ESTADAO CONTEUDO

Normalmente, os países que enfrentam um processo de perda de relevância da indústria lidam com esse dilema num contexto em que as suas economias já eram mais ricas.

“Décadas atrás, éramos o 25.º país em complexidade de nossa economia. Hoje, estamos ao redor da 50.ª posição”, escreveram Lula e Alckmin no Estadão. “Países como a China fizeram o caminho inverso: ela se tornou competitiva em setores de ponta, transformou-se numa economia que já é mais complexa que a da Dinamarca e, neste percurso, levantou centenas de milhões de trabalhadores da pobreza.”

Qual foi a repercussão?

De forma geral, economistas, empresários e associações do setor industrial avaliaram como positivo o fato de o governo trazer para o centro da sua agenda uma discussão sobre a indústria, mas apontaram lacunas no texto de Lula e Alckmin

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Veja abaixo o que foi dito.

  • Arminio Fraga
Reativação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial é 'uma ideia velha com nova roupagem', diz Arminio  Foto: FABIO MOTTA/ESTADÃO

Na avaliação do ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, Lula e Alckmin acertam ao defender a aprovação da reforma tributária e necessidade de reduzir o custo Brasil, mas a reativação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial é “uma ideia velha com nova roupagem”.

“O artigo menciona complexidade e diversidade na economia, resiliência, conteúdo nacional e setores estratégicos, temas pomposos que precisam ser debatidos em profundidade. Claramente o espectro do desenvolvimentismo fracassado está de volta.”

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Leia o artigo completo de Arminio Fraga

  • Horácio Lafer Piva, Pedro Passos e Pedro Wongtschowski

Os empresários apontam que o texto traz “ótimas ideias”, mas “há também omissões importantes”. Eles afirmam que, no artigo, não se vê o uso da palavra produtividade, há pouca não menção para a atividade de pesquisa e desenvolvimento, e “apenas uma tímida referência (correta) à educação básica”.

“Nada se vê sobre o ensino profissional e sobre a desestruturação da maior parte do ensino superior público no Brasil, fruto de décadas de subinvestimento. Não há referências à necessidade urgente da integração da indústria brasileira ao mundo, com a remoção paulatina de barreiras e entraves que dificultam a sua modernização e que poderá gerar uma nova corrente de exportações”, escreveram.

Leia o artigo completo dos empresários

  • Armando Castelar
Castelar diz que falta uma visão mais crítica no artigo sobre o que já foi tentado por diferentes governos, mas deu errado  Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

Num diagnóstico parecido, Armando Castelar, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), diz que a preocupação do presidente e do vice-presidente com a política industrial é “meritória”, mas falta uma visão mais crítica sobre o que já foi tentado por diferentes governos nos últimos anos para o setor, mas deu errado.

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“Em geral, o que a gente vê é que a política industrial do Brasil foca em setores que não são mais competitivos. Só foca em proteger setores que perderam competitividade. Se olhar para os dois primeiros governos do presidente Lula, não vão faltar exemplos, como é o caso da indústria naval.”

Leia a análise de Armando Castelar

  • Entidades industriais

O economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) Rafael Cagnin avalia que no artigo são amplamente positivas. Do lado crítico, no entanto, destaca que assuntos importantes, como ganhos de produtividade e um fortalecimento da relação comercial com o países do Norte, ficaram de fora do texto.

“O artigo é mais positivo, porque reconhece a indústria como um eixo motor fundamental do desenvolvimento econômico dos países, tenta nos colocar num movimento global e enfrenta desafios que são mundiais, como a questão da transição energética”, diz Cagnin.

Leia análise do economista do Iedi

Outras entidades industriais avaliam que o governo precisa detalhar o que será feito.

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“O governo está dando sinais positivos para nós. A demonstração é importante, mas precisamos de anúncios específicos para a indústria”, diz o presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, também afirma que o artigo de Lula e Alckmin “está em linha com a agenda que vem sendo trabalhada pelo setor”. “A questão maior agora é operacionalização e governança”, acrescenta.

Leia a análise de setores industriais

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