Netshoes quer ir além do esporte e entrar no ’estilo de vida despojado’, que cresceu na pandemia

Adquirido pelo Magalu em 2019, marketplace passou a operar no azul e tem agora como presidente Graciela Kumruian, irmã do fundador

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Foto do author Márcia De Chiara

Comprada em 2019 pelo Magazine Luiza, a Netshoes, um comércio online de artigos esportivos era, na época, uma startup que crescia, mas não dava lucro. A partir de 2021, no entanto, foi para o azul. No ano passado, lucrou R$ 56,5 milhões, faturou R$ 4,2 bilhões e respondeu por 7% das vendas totais do grupo varejista. Agora, planeja dar um salto e ir além do esporte.

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A empresa quer vender artigos de vestuário voltados para um estilo de vida mais despojado, que ganhou força na pandemia. Esse movimento foi turbinado especialmente pelas mulheres, que trocaram o salto alto pelo tênis. Também pretende comercializar não só itens voltados para corrida e futebol – os esportes que estão na sua origem –, mas também outras modalidades, como equitação ou beach tênis, por exemplo.

“Vamos ter uma solução completa: desde itens para a prática de esportes até para esse conforto no dia a dia e no ambiente de trabalho”, afirma Graciela Kumruian, CEO da Netshoes.

Graciela Kumruian, irmã do fundador da Netshoes e responsável pela integração com o Magalu, é agora a CEO da empresa Foto: Alex Silva

Sem revelar números, ela diz ver um potencial de vendas “gigantesco” nesse mercado, que inclui não apenas artigos voltados para esporte, mas também a moda casual. E avisa que não vai deixar “vácuo” no mercado. A executiva não revela as cifras que serão aplicadas. Diz que o foco do investimento será em tecnologia, sobretudo no uso de inteligência artificial para recomendação de produtos.

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Uma pista da importância do negócio é dada pela mudanças no organograma do grupo. Antes apenas uma divisão do e-commerce, a Netshoes acaba de virar uma nova unidade de negócio do Magalu, com a direção respondendo ao Conselho de Administração.

Desde abril no cargo, Graciela é irmã de Marcio Kumruian, que fundou a startup em 2000. No começo, era uma loja física de tênis, localizada na rua Maria Antônia, no centro da capital paulista. Em 2007 saiu do varejo tradicional e ficou só no online.

Aos 46 anos, mãe de um casal de adolescentes, formada em ciências da computação, ela chega ao cargo de CEO conhecendo o negócio no detalhe. Atuou na startup entre 2008 e 2019. Era responsável por toda a operação: da venda do produto à entrega na casa do cliente e o pós-venda.

Depois da aquisição pelo Magalu, ficou encarregada da integração da Netshoes. Após a conclusão dessa etapa, passou a fazer parte da direção do Magalu. Sua função era integrar outras empresas adquiridas, cuidar do atendimento ao cliente no pós-venda, reputação e sustentabilidade do Grupo.

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2020 e 2021 foram os anos de maior número de aquisições do Magalu, justamente para incorporar novos negócios, cujas compras são mais recorrentes. Foi um saída encontrada para reduzir a dependência das vendas de eletroeletrônicos, que são itens de maior valor e comprados com menor frequência.

A volta para tocar a operação da Netshoes, agora em outro patamar, não passava pela cabeça da executiva. “Tinha até desapegado”, afirma. Mas ela pondera que o convite, do ponto de vista pessoal, é muito relevante pelo fato de o negócio ter sido criado pelo sua família.

Nessa nova etapa, Graciela evita traçar metas de faturamento e lucratividade. Diz que o foco será em inovação e no maior sortimento de produtos. Nesse sentido, tem ampliado o marketplace, hoje com 5 mil lojistas que respondem por 40% das vendas.

Também costura negociações para trazer, ainda este ano, marcas estrangeiras de esporte e estilo de vida que estão no Brasil ou tinham deixado o País. Outro foco é ampliar parcerias exclusivas com grandes marcas para itens desenvolvidos pela equipe interna. Com isso, a expectativa é atrair mais consumidores e aumentar resultados.

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A volta das corridas de rua

Além disso, quer se relacionar com os clientes por meio de geração de conteúdo sobre estilo de vida e outros esportes para reforçar a lembrança da marca, que já é forte. A Netshoes vai voltar a promover corridas de rua nas capitais e também em cidades do interior de vários Estados. A primeira está marcada para 27 de agosto e será em São Paulo.

Aliás, um dos pilares dessa estratégia de ampliar o horizonte de venda para outros itens de vestuário além do esporte se baseia na lembrança que a loja online tem junto aos consumidores.

Pesquisa realizada pela consultoria NIQ Ebit, no segundo trimestre deste ano, mostra que a Netshoes está no topo do ranking das lojas mais lembradas quando se trata de compras online. A enquete mostra que ela está à frente não só de e-commerces especializados em esportes, mas também de sites voltados para artigos de vestuário, de sites asiáticos e até mesmo do Magazine Luiza, do próprio grupo.

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Os sites asiáticos, que recentemente foram alvo de embate com varejo nacional por conta da isenção de tributação, não são vistos como concorrentes pela empresa. “Eles têm tíquetes muito baixos e é uma concorrência em que eu não quero entrar”, diz Graciela.

Na Netshoes, por exemplo, o valor médio das compras está acima de R$ 270. No Magalu, a média é de R$ 400 para o marketplace e de R$ 900 nas vendas de produtos de estoque próprio. “Todos os sellers (vendedores) da plataforma são formais, com CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Físicas) e emissores de nota fiscal”, observa.

Com cerca de 1.400 funcionários dedicados, Netshoes usa estruturas do ecossistema Magalu Foto: Alex Silva

Estratégia é de baixo risco

Para o consultor de varejo e sócio da Mixxer Desenvolvimento Empresarial, Eugênio Foganholo, a decisão da Netshoes de ampliar o foco para estilo de vida é acertada e de baixo risco.

“Quando a companhia faz essa mudança, amplia-se tremendamente o leque de opções e a empresa se posiciona de uma forma muito mais clara para o consumidor, inclusive gerando maior recorrência nas compras”, observa.

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O consultor observa que ao trazer conteúdo sobre estilo de vida, aumenta a atratividade do marketplace e a vontade de entrar no site. “Num primeiro momento, o consumidor pode não estar interessado em comprar nada, mas só o fato de ter uma referência de estilo de vida, ele vai atrás de conteúdo e em algum momento vai começar a comprar nesse marketplace”, explica.

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