PUBLICIDADE

Publicidade

‘Ninguém quer solução para o cartão que crie ruptura e prejudique o consumo’ diz Campos Neto

Segundo presidente do Banco Central, ainda não há uma solução tomada para o parcelado sem juros; ele defende criar ‘desincentivos’ para o crescimento da modalidade mais longa

BRASÍLIA - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira, 17, que não propôs acabar com o parcelamento sem juros do cartão de crédito, mas sim criar “desincentivos” para o crescimento da modalidade mais longa. Ele afirmou não ter visto o projeto final do Congresso sobre o tema.

“Não tem solução tomada sobre o parcelado sem juros. A solução sobre rotativo e parcelado sem juros provavelmente será tomada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), e o BC é apenas um voto. Precisamos ter uma solução que equilibre, porque não pode ter inadimplência tão grande em cartões que leve à reversão do produto”, afirmou, em entrevista ao portal Poder 360.

Campos Neto repetiu que a massa de operações no cartão de crédito no parcelado sem juros é três vezes maior que as vendas com juros. “Aliado a isso, outro problema foi o crescimento rápido da emissão de cartões, que passou de 100 milhões para 220 milhões. Com mais cartões no parcelamento sem juros, a inadimplência ficou muito grande”, repetiu.

Presidente do BC diz trabalhar com o governo em busca de soluções técnicas para os cartões que sejam viáveis de serem aprovadas no Congresso Foto: Gabriela Biló/Estadão

PUBLICIDADE

Segundo ele, mesmo com a Selic parada, o juro do rotativo do cartão de crédito subiu quase 70%. “Novos entrantes do mundo de cartões, principalmente no varejo, emitiram muito de cartões”, acrescentou.

O presidente do BC disse que está trabalhando com o governo em busca de soluções técnicas que sejam viáveis de serem aprovadas no Congresso. “Ninguém quer criar solução que crie ruptura e prejudique o consumo e gere impacto para as pessoas. A solução vai passar por aspecto técnico e aspecto político”, concluiu.

Corte de juros

Campos Neto disse que a barreira para aumentar ou reduzir o ritmo de cortes da Selic para além de 0,50 ponto percentual por reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) é bastante alta.

“A gente enxerga que o ciclo de 0,50 p.p. é apropriado. A barra é alta para mudar o ritmo tanto para cima quanto para baixo”, afirmou na entrevista. “Estamos olhando inflação corrente, expectativas e hiato”, completou.

Publicidade

Ele revelou que defendeu uma sinalização de porta aberta ao corte de juros na reunião de junho, assim como votou por um corte mais expressivo em agosto.

No começo do mês, o Copom optou, por 5 votos a 4, por iniciar o ciclo de afrouxamento monetário com uma queda de 0,50 ponto porcentual dos juros básicos, para 13,25% ao ano, o que surpreendeu uma parte do mercado, que apostava majoritariamente em uma queda mais “parcimoniosa”, de 0,25 ponto. O colegiado sinalizou ainda a manutenção do ritmo de cortes nas próximas reuniões.

O presidente do Banco Central afirmou que a divisão da última reunião do Copom reflete a divisão que já havia ocorrido sobre a comunicação de próximos passos da reunião de junho.

PUBLICIDADE

“No Copom de junho, havia uma divisão muito grande sobre porta aberta ou fechada para redução de juros na comunicação sobre a reunião de agosto. A gente não sabia qual seria a nova meta de inflação (para 2026) e qual seria o efeito nas expectativas de mercado”, afirmou. “Entre um Copom e outro foi decidida a meta de 3,0%, e as expectativas ficaram mais próximas da meta. A dinâmica de inflação também ficou um pouco melhor”, completou.

Segundo ele, os membros do Copom que queriam deixar a porta fechada para cortes em junho votaram pelo corte de 0,25 p.p., enquanto quem queria deixar a porta aberta entendeu que já havia condições para um corte de 0,50 pp.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.