Até cinco anos atrás, o setor elétrico só tinha olhos para o solo amarelado que forra a zona rural de Caetité, no sudoeste da Bahia. A abundância do urânio encontrado na região converteu essa parte do sertão baiano no repositório de combustível nuclear que hoje alimenta as Usinas de Angra 1 e 2, no Rio de Janeiro. Desde o ano 2000, o município sedia a única mina de urânio explorada na América Latina. Os ventos, no entanto, logo se fariam ouvir. E o setor elétrico passaria a olhar mais para o horizonte.
Hoje, Caetité mais parece um grande paliteiro, com centenas de torres eólicas enfileiradas sobre as montanhas que rodeiam o município de 60 mil habitantes. São cataventos a perder de vista, e outros tantos que chegam diariamente, carregados por jamantas que cortam as estradas de acesso à região, onde não param de surgir novos parques eólicos. Não por acaso.
É exatamente nesta região da Bahia que foi identificado o melhor vento do planeta para receber projetos eólicos. Municípios como Guanambi, Igaporã, Riacho de Santana, Licínio de Almeida, Urandi, Pindaí e Caetité formam um corredor natural por onde passa uma corrente de vento forte e constante. “Os estudos mostram que o melhor vento do mundo está no interior da Bahia. É por isso que a região tem puxado muito investimento”, diz Élbia Melo, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica).
O Brasil tem hoje 7 mil megawatts (MW) de energia eólica em potência instalada e outros 10,7 mil MW em construção. Os ventos já respondem por 5% do consumo diário do País, enquanto a fonte nuclear, por exemplo, responde por apenas 1,4%. A liderança do ranking nacional é do Rio Grande do Norte, que até julho tinha 87 parques em operação, seguido por Rio Grande do Sul (50), Ceará (45) e Bahia (40). Até o ano que vem, porém, os baianos devem pular para o topo da lista, por conta do volume de empreendimentos que entrarão em operação no Estado.
Hoje há nada menos que 170 parques eólicos em construção na Bahia, ante 90 no Rio Grande do Norte, 58 no Ceará e 41 no Rio Grande do Sul. A potência instalada total em território baiano deverá chegar a 5 mil MW. Apesar de ser um volume representativo, trata-se de uma lufada se comparado à potência total que o Atlas eólico do Estado identificou em 2013, quando foram estimados 185 mil MW de capacidade. Para se ter ideia, atualmente a capacidade de geração de energia do Brasil, somando todas as fontes disponíveis, é de 138 mil MW.
“No Brasil, o potencial eólico fica acima de 500 mil MW, considerando as tecnologias de hoje. Como a segurança energética do País tem de ser feita de diversas fontes de geração, e não apenas do vento, podemos dizer tranquilamente que o potencial eólico é infinito”, diz Élbia.
Sem crise. No ranking eólico global, o Brasil saltou da 15.ª para a 10.º posição entre 2012 e 2015, em relação à potência instalada. No ano passado, foi o quarto país que mais investiu nesses projetos, ficando atrás só da China, EUA e Alemanha. Até 2017, deverá estar entre as seis maiores potências eólicas do mundo. Apesar da crise econômica, Élbia diz que o setor tem crescido ano após ano e que a tendência é de que mais fábricas de equipamentos e empresas de serviço fortaleçam a indústria do vento. “Esse mercado emprega cerca de 40 mil pessoas, direta e indiretamente.”
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