Entre o clássico e o novo, o Suplemento Literário ficou com os dois - e essa foi a maior de suas lições para o jornalismo cultural brasileiro. As outras decorreram dela: a linguagem do caderno, seu projeto gráfico, o perfil dos editores e colaboradores.
"Na sua estrutura, prevê-se uma porcentagem de matéria leve, curta e informativa, que permite incluir, em compensação, matéria de mais peso. Assim, serão atendidos os interesses tanto do leitor comum quanto do leitor culto, devendo-se evitar que o Suplemento se dirija exclusivamente a um ou outro", escreveu o crítico Antonio Candido na apresentação do projeto do SL, que circularia no Estado, aos sábados, de 6 de outubro de 1956 a 22 de dezembro de 1974.
O documento de Candido - Plano do Suplemento Literário e Artístico d'O Estado de S. Paulo, uma espécie de certidão de nascimento do caderno - foi endereçado a Julio de Mesquita Neto e Ruy Mesquita com data de 16 de julho de 1956. Era a conclusão de um processo iniciado em 1954, por ocasião do IV Centenário de São Paulo, quando tratou do tema pela primeira vez com o jornal. Embora haja tido seu título abreviado para Suplemento Literário, o caderno manteve a ideia original do crítico de abrigar outras manifestações das artes.
Escalado para cuidar do visual do SL, o italiano Italo Bianchi, que se instalara no Brasil em 1949, propôs "uma diagramação inovadora e austera", segundo a definição de Candido em depoimento a Marilene Weinhardt, incluído no livro Suplemento Literário D’O Estado de S. Paulo: 1956-67 (INL, 1987). Bianchi, por sua vez, relata em Suplemento Literário - Que Falta Ele Faz!, de Elizabeth Lorenzotti (Imprensa Oficial, 2007), que teve "carta branca" para trabalhar. Desse modo, partiu para uma paginação "que se chocava com o estilo do Estado, mas passou a influenciar uma nova concepção gráfica do próprio jornal". Nela, chamava a atenção a combinação de tipologias e o espaço para ilustrações autônomas, isto é, que não se vinculavam a nenhum texto.
No SL, artigos de intelectuais oriundos do grupo fundador da já então extinta revista Clima - além do próprio Candido, Decio de Almeida Prado (indicado pelo crítico para comandar o caderno), Paulo Emilio Salles Gomes e Lourival Gomes Machado - se misturavam a contos de Lygia Fagundes Telles, Dalton Trevisan e João Antonio; a poemas de Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e João Cabral; e, ainda, a textos de jovens talentos. O futuro cineasta Rogério Sganzerla, por exemplo, com apenas 18 anos escreveu sobre Oito e Meio, de Fellini; o economista Paul Singer, 27, resenhou Formação do Brasil Econômico, de Celso Furtado; o maestro Julio Medaglia, 28, cuidou de um número sobre Bossa Nova; o grupo concretista foi convidado a defender sua vanguarda nas páginas do caderno e seguiu colaborando. O mesmo se verificava entre os artistas; nomes consagrados como Portinari e Di Cavalcanti ao lado de novatos: Marcelo Grassmann, Renina Katz, Maria Bonomi. Uma aula de cultura - e de jornalismo.
Você sabia?
Sérgio Buarque de Holanda era o primeiro nome da lista de colaboradores do SL em São Paulo feita por Antonio Candido - e o atendeu prontamente. E foi nele que seu filho Chico Buarque estreou como escritor, com o conto Ulisses, publicado em 30/7/1966.
"Na sua estrutura, prevê-se uma porcentagem de matéria leve, curta e informativa, que permite incluir, em compensação, matéria de mais peso. Assim, serão atendidos os interesses tanto do leitor comum quanto do leitor culto, devendo-se evitar que o Suplemento se dirija exclusivamente a um ou outro", escreveu o crítico Antonio Candido na apresentação do projeto do SL, que circularia no Estado, aos sábados, de 6 de outubro de 1956 a 22 de dezembro de 1974.
"Na sua estrutura, prevê-se uma porcentagem de matéria leve, curta e informativa, que permite incluir, em compensação, matéria de mais peso. Assim, serão atendidos os interesses tanto do leitor comum quanto do leitor culto, devendo-se evitar que o Suplemento se dirija exclusivamente a um ou outro", escreveu o crítico Antonio Candido na apresentação do projeto do SL, que circularia no Estado, aos sábados, de 6 de outubro de 1956 a 22 de dezembro de 1974.
Entre o clássico e o novo, o Suplemento Literário ficou com os dois - e essa foi a maior de suas lições para o jornalismo cultural brasileiro. As outras decorreram dela: a linguagem do caderno, seu projeto gráfico, o perfil dos editores e colaboradores.
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