Economistas ouvidos pelo Estadão estão divididos em relação à qualidade da equipe econômica do futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Na última quinta-feira, ele anunciou mais nomes que vão compor o seu secretariado.
O gabinete será formado pelos economistas Rogério Ceron (Tesouro Nacional), Robinson Barreirinhas (Receita Federal), Marcos Barbosa Pinto (Reformas Econômicas) e Guilherme Mello (Política Econômica). Anteriormente, o futuro ministro já havia anunciado Anelize Almeida para a Fazenda Nacional, Gabriel Galípolo como secretário-executivo e Bernard Appy como secretário de reforma tributária.
Para o ex-diretor do Banco Central, o economista Alexandre Schwartsman, é uma equipe com formação acadêmica ruim, constituída por pessoas que não estão à altura dos desafios que terão de enfrentar.
Segundo ele, em alguns postos-chave, como a secretaria executiva e a secretaria de política econômica, os escolhidos são despreparados. “Nem Galípolo nem Mello têm estofo para essas posições”, afirma.
O mais grave, neste caso, diz Schwartsman, é a “visão equivocada” que ambos têm sobre a economia e o endividamento do País. “Eles estão inseridos num contexto no qual se acredita que é necessário gastar mais.”
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Já a economista Carla Beni, professora de macroeconomia de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), diz que as escolhas de Haddad são boas e certas. Ela ressalta que todos os escolhidos têm formação acadêmica de primeira linha com experiência profissional na área.
Ela ressalta que os escolhidos têm trânsito importante pelo setor público e esse, na sua opinião, é um ponto relevante. “A equipe técnica da Fazenda precisa ter trânsito pelo setor público, que é completamente diferente do setor privado.”
Carla Beni ressalta que Marcos Barbosa, por exemplo, já trabalhou no BNDES e também foi da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). “O (Rogério) Ceron tem histórico acadêmico, mas é um servidor de carreira.” A professora da FGV ressalta que a equipe é muito jovem e ela considera esse um ponto positivo para trazer conceitos novos. “Depois da pandemia, é preciso renovar os conceitos de política econômica e pensar seriamente no social.”
O economista Fabio Silveira, sócio da MacroSector, é outro que considera positivas as escolhas de Haddad. “A equipe anunciada é formada por pessoas lúcidas.” Ele ressalta que são economistas preparados e com um perfil mais técnico. “O Haddad vai ter que ser realista e se curvar aos argumentos técnicos”, afirma.
Na avaliação de Silveira, essa equipe tem maior potencial do que as equipes anteriores dos governos Lula e Dilma. O ponto crucial, na sua opinião, é o futuro ministro da Fazenda ter a humildade e aceitar as recomendações dos seus secretários. “Ele acertou ao chamar profissionais com viés técnico forte, porque ele (Haddad) sabe que não tem esse viés.”
Professor de finanças do Insper, o economista Alexandre Chaia considera a equipe anunciada, no geral, boa, mas faz ressalvas. Um ponto positivo, na sua opinião, é que a maioria já trabalhou com o futuro ministro. No entanto, um foco de preocupação é o economista Guilherme Mello, ligado à Unicamp e com um formação econômica na linha desenvolvimentista.
“O Guilherme Mello é o menos desejado pelo mercado, porque segue uma linha desenvolvimentista, mais gastadora na qual o Estado tem de agir como indutor do crescimento, os outros são mais tarimbados”, afirma o professor do Insper.
Como ponto positivo, Chaia cita a escolha de Gabriel Galípolo como futuro secretário-executivo, que já presidiu o Banco Fator e sabe lidar com o mercado.
Caio Megale, economista-chefe da XP, avalia que a equipe de Haddad é “um time muito bom tecnicamente”. Ele destaca o novo secretário do Tesouro, Rogério Ceron, que foi secretário de finanças de São Paulo quando Haddad era prefeito. “O Ceron é um cara tecnicamente muito sólido. Fez uma gestão na prefeitura de São Paulo bastante austera, preocupado com controle de despesas ao longo do tempo”, diz. “Ele teve um papel muito grande no equilíbrio das finanças da cidade.”
Megale afirma que, mesmo que alguns dos secretários sejam mais inclinados a uma linha mais heterodoxa da Economia, como Guilherme Mello e mesmo Gabriel Galípolo, ele acredita que a equipe tem capacidade de fazer um bom trabalho no que será a prioridade da pasta no primeiro semestre: a proposição de uma nova regra fiscal para substituir o teto de gastos, que limita o crescimento das despesas do governo à variação da inflação.
“No geral, eles são mais na direção de um Estado mais indutor da economia. Vai ser interessante ver como eles vão reformular a regra que vai substituir o teto, dado que as despesas são altas e vão subir ainda mais com essa PEC (da Transição), que liberou mais do que era necessário para pagar o Bolsa Família. Mas, há crítica ali para se propor uma regra fiscal mais equilibrada para 2024″, diz.
Expectativas extremas
Para Schwartsman, o resultado do trabalho dessa nova equipe econômica será um “desastre”. Ele prevê o aumento do endividamento que deve levar à repetição dos erros de política econômica cometidos no passado, que resultaram na maior recessão dos últimos 40 anos.
Na opinião de Carla Beni, da FGV, a expectativa é que essa equipe consiga avançar com o projeto original de governo que ganhou eleição e que tem como objetivo reestruturar o setor público, com foco nas desigualdades sociais./COLABOROU ANNA CAROLINA PAPP
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