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Nove fatores estão beneficiando o governo Lula na economia; veja quais

Lista de boas notícias sem relação com ações do governo vai da queda da inflação e do dólar à supersafra agrícola, do crescimento do PIB ao elevado nível dos reservatórios das hidrelétricas; saiba como elas favorecem o presidente

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Foto do author José Fucs
Atualização:

Nos primeiros seis meses de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não pode reclamar da sorte. Até agora, ele se beneficiou de vários fatores positivos na economia, que não têm relação direta com ações do governo e que ajudaram a conter os efeitos negativos dos juros altos, do elevado nível de endividamento das famílias e das dificuldades financeiras de setores do varejo e da indústria.

Além do quadro favorável na arena global, as boas notícias na economia interna se espalham por todos os lados: da queda da inflação e do dólar ao saldo comercial recorde e à supersafra agrícola, que puxa o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto); da geração de novas vagas de trabalho com carteira assinada ao elevado nível dos reservatórios das hidrelétricas.

O desempenho do agronegócio no primeiro semestre contribuiu para melhorar o ambiente econômico, com uma safra e um volume de exportações que bateram recordes  Foto: Dida Sampaio/Estadão

Confira a seguir nove fatores que estão melhorando o ambiente econômico do País e favorecendo Lula, independentemente do que ele fez até agora na Presidência (leia também a reportagem “Lula dá sorte com economia na largada, mas incertezas ainda pairam sobre percurso do governo”).

1. Recuo da inflação

Talvez nenhuma outra questão tenha beneficiado tanto Lula – sem que ele tenha dado qualquer contribuição para isso – quanto a queda da inflação. Graças, em boa medida, à autonomia do Banco Central (BC) e à política de juros altos praticada pela instituição, alvos permanentes de críticas do presidente, de seus ministros, do PT e de partidos aliados, a inflação vem cedendo de forma significativa e consistente desde o ano passado.

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De acordo com o IBGE, o IPCA, que mede a inflação oficial, acumulou uma variação de 3,94% nos 12 meses encerrados em maio, depois de ter atingido um pico de 12,1% em abril do ano passado. A estimativa para o “ano cheio” é um pouco mais alta, de 5,1%, de acordo com o Relatório Focus, do BC, e deverá ser puxada principalmente pela alta dos preços da gasolina, sobre os quais voltaram a incidir tributos cortados no governo Bolsonaro, dos medicamentos, da alimentação fora de casa e de artigos de vestuário.

Se tal previsão for confirmada, o IPCA ainda ficará acima do centro da meta, de 3,25%, e mesmo de sua banda superior, de 4,75%, que inclui um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual. Mesmo assim, ainda será uma taxa mais comportada que a de 2022, de 5,8%. Para 2024 e 2025, as estimativas também vêm caindo e estão hoje em 4% e 3,8%, respectivamente, segundo o Focus.

“Ninguém gosta de juro alto, mas a verdade é que funciona”, diz o economista e consultor Gesner Oliveira, sócio da GO Associados. “O Banco Central vem tendo um papel muito importante para organizar a economia neste início de governo. Isso não estaria acontecendo se sua autonomia não tivesse sido aprovada pelo Congresso”, afirma Pedro Jobim, economista-chefe da gestora de recursos Legacy Capital.

Além do papel decisivo desempenhado pela política monetária restritiva do BC, as quedas dos preços do petróleo e de commodities agrícolas, como soja, trigo e carnes de frango e bovina, no mercado internacional contribuíram para a desaceleração da inflação no País, assim como assim como a valorização do real em relação ao dólar e a safra recorde colhida no primeiro semestre.

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2. Crescimento do PIB

Como no caso da queda da inflação, o resultado do PIB no primeiro trimestre do ano teve pouco ou nada a ver com o que o governo Lula fez na economia nos primeiros seis meses de governo, embora o governo, o PT e seus aliados procurem se apropriar do resultado. Ainda que o atual governo tivesse implementado medidas de impacto para turbinar o PIB, nem daria tempo de elas terem reflexos significativos no nível de atividade econômica no período.

Embora tenha fechado 2022 com avanço de 2,9%, o PIB vinha perdendo força no fim do ano passado. No quarto trimestre, de acordo com o IBGE, o indicador apresentou uma queda de 0,1 % em relação ao trimestre anterior. Por isso, o avanço de 1,9% registrado pelo PIB no primeiro trimestre deste ano, puxado pelo agronegócio, que respondeu por quase 90% do índice, surpreendeu os analistas.

Com esse resultado inesperado, as estimativas dos economistas para o crescimento do PIB em 2023, que estavam em 1% em maio, deram um salto. Agora, a previsão é de uma alta de 2,2%, conforme o Relatório Focus, do Banco Central.

Na avaliação de um economista do mercado financeiro, o agronegócio, que cresceu 21,6% no primeiro trimestre em relação ao último trimestre de 2022 e continuou forte em abril, segundo o IBGE, deverá ter uma desaceleração nos próximos meses. Ela deverá ser compensada, porém, ao menos em parte, pelo melhoria do setor de serviços, que registrou retração em abril.

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Agora, na falta de boas notícias para 2024, as previsões dos economistas preveem para um crescimento do PIB de apenas 1,2% no ano que vem, o primeiro que deverá entrar na conta de Lula de fato, e de 1,8% em 2025. A percepção é de que o efeito do atual aperto monetário ainda vai levar a uma desaceleração da atividade econômica no ano que vem, ainda que os juros comecem a cair no segundo semestre de 2023, em razão da defasagem de tempo para que os movimentos do Banco Central tenham impacto sobre a economia real.

3. Déficit menor

Nas palavras de um economista do mercado, a previsão de déficit primário de R$ 230 bilhões prevista no Orçamento deste ano, equivalente a 2,3% do PIB, “é uma fábula”.

Primeiro, porque o Orçamento de 2023, elaborado pelo governo anterior, baseou-se numa estimativa de arrecadação para 2022 que estava subestimada em cerca de R$ 100 bilhões. Só isso já faria a previsão de déficit cair 43,4%, para R$ 130,2 bilhões ou 1,3% do PIB.

Segundo, porque o uso dos recursos pelo governo nos primeiros seis meses do ano não ocorreu na velocidade que se imaginava. Como a nova gestão ainda estava azeitando a máquina administrativa e ainda faltavam novos projetos para investir, boa parte do dinheiro ficou “empoçada”, como dizem os técnicos da Fazenda para se referir aos recursos disponíveis mas não executados pelo governo.

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Mesmo que a situação mude no segundo semestre, é improvável que o governo consiga gastar toda essa dinheirama autorizada pelo Congresso fora do teto até o fim do ano. Ou seja, com menos despesas e uma receita adicional herdada de 2022, o déficit primário neste ano já ficaria bem abaixo do previsto, na faixa de 0,7% a 1% do PIB, conforme projeções de economistas, independentemente das iniciativas da Fazenda para aumentar a arrecadação.

4. Tombo do dólar

Com a queda dos preços de várias commodities no mercado internacional, como a soja e o minério de ferro, menos dólares deveriam entrar no Brasil, puxando para cima a cotação da moeda americana em relação ao real. Lula, porém, parece ter tanta sorte que o dólar acabou caindo, porque a redução dos preços externos das commodities foi compensada pelo aumento do volume de exportações, principalmente as do agronegócio. Além disso, os valores gastos com importações registraram uma ligeira queda no período, reduzindo a demanda por dólar e favorecendo ainda mais a sua redução, para abaixo de R$ 5.

De acordo com analistas de mercado ouvidos pelo Estadão, a taxa de câmbio de R$ 5,15 a R$ 5,40 que vigorou no segundo semestre do ano passado, não parecia ter relação com a situação do País, marcada por saldos comerciais recordes, reservas altas em moeda forte, juros de 13,75% ao ano e uma inflação para 2023 que deve ficar em torno de 5%, segundo as projeções do Relatório Focus, do Banco Central.

A valorização do real, na avaliação do pessoal do mercado, está corrigindo uma “situação atípica” vivida pelo governo Bolsonaro, quando aconteceu o contrário do que está ocorrendo agora com Lula, seja por incertezas externas, risco político trazido pelas eleições de 2022 ou incertezas fiscais relacionadas a uma possível volta de Lula ao Planalto.

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Na época, com a disparada dos preços das commodities provocada pela guerra na Ucrânia, a tendência teria sido o dólar cair, mas em vez disso ele subiu. A combinação de dólar alto e preços de commodities elevados no mercado global acabou pegando Bolsonaro em cheio, ao afetar os preços dos alimentos, da gasolina e do diesel aqui no Brasil e alavancar a inflação.

5. Exportações turbinadas

Em linha com os demais fatores da lista, o comércio exterior também tem dado uma tremenda contribuição para a melhora do ambiente econômico do País, sem participação direta do governo no resultado.

Segundo o Banco Central, as exportações recordes, puxadas principalmente pelo agronegócio, combinadas com uma ligeira retração nas importações, geraram um saldo comercial para o País de US$ 37,6 bilhões no primeiro semestre do ano, até 26 de junho, o maior valor em todos os tempos. Mesmo com a queda dos preços de algumas commodities no mercado internacional, esse desempenho se deu graças ao aumento no volume das exportações, em especial de produtos agrícolas.

Além de reforçar as divisas em moeda forte, o saldo comercial robusto ajuda a jogar o dólar para baixo, segurando a inflação e os preços dos produtos importados, inclusive para pessoas físicas. Apesar da queda de 20% registrada em abril, em relação ao mesmo período de 2022, as importações de pequeno valor, especialmente da China, ainda alcançaram R$ 701 milhões no mês, de acordo com um estudo realizado pelo Banco Santander com dados do Banco Central.

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6. Agronegócio a mil

Alvo de críticas pesadas de Lula, que já chamou o setor de “fascista” e diz não entender por que não o pessoal não gosta dele, o agronegócio tem sido uma fonte inesgotável de boas notícias para a economia.

Além de ter contribuído com quase 90% para o PIB do primeiro trimestre, com crescimento de 21,6%, o agronegócio foi fundamental para o saldo comercial registrado no primeiro semestre, respondendo por quase a metade das exportações do País, segundo Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária. De quebra, ainda tem batido recorde atrás de recorde de produção, aumentando a oferta de alimentos, e ajudado a manter o dólar sob controle, com as vendas crescentes realizadas no mercado global. “A supersafra não pode ser colocada na conta do Lula, mas caiu no colo dele”, diz um economista de uma corretora estrangeira que acompanha o agronegócio com lupa.

Apesar da redução dos preços de algumas commodities agrícolas no mercado internacional nos últimos meses, eles ainda continuam relativamente altos em termos históricos, garantindo a renda no campo. E o setor ainda procurou compensar o impacto negativo da queda do dólar no faturamento com o aumento das vendas ao exterior.

7. Recuo das commodities

A queda nos preços de algumas commodities exportadas pelo Brasil, como minério de ferro e soja, no mercado internacional pode não ser uma boa notícia para os produtores e para as contas externas do País. Mas certamente a redução dos preços de alguns produtos agrícolas lá fora têm impacto aqui dentro, por motivos que fogem completamente à ação de Lula. Isso tem dado uma contribuição para o Banco Central cumprir sua missão constitucional de controlar a inflação.

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Embora no atual governo o preço de paridade de exportação (PPI) tenha deixado de influenciar os preços da gasolina e do diesel, em um movimento cujos desdobramentos ainda estão por se revelar com mais clareza, não deixa de ser também uma boa notícia o recuo dos preços do petróleo no exterior.

8. Vagas abertas

Mesmo com a desaceleração do ritmo de criação de novas vagas com carteira assinada nos últimos meses, o saldo continua positivo, de acordo com os dados do Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), independentemente de ações do governo Lula na área.

Na verdade, até agora, o que o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, tem feito é defender a adoção de medidas controvertidas, que podem ter impacto negativo no mercado, como a revisão da reforma trabalhista, que flexibilizou as relações entre empregados e empregadores, o fim da terceirização para atividades-fim das empresas, a volta da contribuição assistencial obrigatória para os sindicatos e a regulamentação dos aplicativos, rechaçada por boa parte dos trabalhadores do setor, conforme pesquisas sobre a questão.

No trimestre encerrado em maio, segundo o IBGE, a taxa de desemprego ficou em 8,3%, o melhor resultado para o período desde 2015, enquanto a população ocupada em todo o Brasil alcançou 98,4 milhões, com crescimento de 0,9% no ano, um resultado relativamente próximo ao pico, de 101,2 milhões, registrado em junho de 2022.

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9. Reservatórios sem crise

Até São Pedro, que castigou o governo Bolsonaro em 2021, com uma estiagem que gerou a pior crise hídrica em 91 anos, deu uma mão para Lula no início do governo, com as chuvas abundantes que caíram entre o fim de 2022 e os primeiros meses de 2023 em quase todo o País.

Hoje, os reservatórios das hidrelétricas estão cheios, com mais de 80% da capacidade de armazenamento, permitindo a produção de energia por um custo menor do que por meio das termelétricas e favorecendo o agronegócio e a queda dos preços dos alimentos.

A volta do fenômeno El Niño, no entanto, pode afetar negativamente os reservatórios e a produção agrícola entre o segundo semestre do ano e o primeiro semestre de 2024, de acordo com o economista Gesner Oliveira, com impacto na inflação e na política monetária.

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