Novo Congresso aumenta o desafio das reformas, avaliam especialistas

Se vencer disputa, Lula deve ter dificuldade para aprovar projetos; no caso de reeleição de Bolsonaro, pauta econômica pode ficar na mão de parlamentares

PUBLICIDADE

Publicidade
Foto do author Luciana Dyniewicz
Por Luciana Dyniewicz e Luiz Guilherme Gerbelli

O andamento da agenda econômica no País a partir de 2023 deve mudar de ritmo devido à nova configuração do Congresso, que terá a direita bolsonarista fortalecida. Como essa mudança vai ocorrer, porém, ainda depende do resultado do segundo turno, segundo analistas. Se o ex-presidente Lula (PT) vencer no próximo dia 30, ele terá de enfrentar uma oposição dura no Senado e na Câmara dos Deputados, o que dificultará a aprovação de suas reformas. Caso o presidente Jair Bolsonaro (PL) seja reeleito, a tendência é que a pauta econômica fique nas mãos dos parlamentares – como já vem ocorrendo –, enquanto o Executivo foca na sua agenda de “costumes”, que envolve questões como o porte de armas.

A economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, vê o risco de uma “paralisia” na pauta caso Lula vença e Arthur Lira (PP-AL) se mantenha na presidência da Câmara. Isso porque, como oposicionista, o deputado poderia travar as votações dos projetos do governo, inclusive a de uma reforma tributária mais ampla – como o PT indica que gostaria de fazer. Ela diz também que seria mais difícil que Lula conseguisse reverter pontos de reformas que foram aprovadas nos últimos anos, como a trabalhista.

PUBLICIDADE

Para o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, considerando o cenário de o PT voltar ao Executivo e a composição do novo Congresso, Lula teria de trabalhar com uma pauta econômica mais de centro, o que inclui uma regra fiscal também mais dura do que seus assessores econômicos vêm sinalizado.

Já diante da hipótese de Bolsonaro se reeleger, Vale diz que há risco de a reforma tributária ser mais modesta. “O que o governo lançou nessa área até agora é bastante ruim”, destaca. O economista afirma também que o ministro da Economia, Paulo Guedes, entraria em seu quinto ano de mandato bastante enfraquecido e sem “ideias novas”. Isso deve resultar em uma agenda econômica sendo pautada pelo Congresso, acrescenta. Para Alessandra, no entanto, nesse caso, o alinhamento com os parlamentares poderia dar tração à privatização dos Correios. “Vejo a questão das privatizações andando mais que a tributária, mas não sei se a da Petrobras seria bancada.”

Candidatos do presidente Bolsonaro avançaram no Congresso e devem mudar ritmo de andamento da pauta econômica Foto: Wilton Junior/Estadão

Na visão do economista Bernard Appy, diretor do Centro de Cidadania Fiscal, há dúvidas se, mesmo reeleito e com o bolsonarismo mais forte entre os parlamentares, Bolsonaro conseguiria ter alguma independência do Centrão. “Se isso (o resultado da eleição no Congresso) muda a equação, fortalecendo o presidente na negociação com o Congresso o suficiente para ter autonomia? Não sei.”

Publicidade

Appy lembra que o Centrão também saiu reforçado dessa eleição e, na hipótese de Lula vencer, ele teria de conversar com os parlamentares que compõem essa ala. “Uma parte do Centrão é ideológica e dificilmente haverá espaço para uma negociação, mas uma parte é mais pragmática e talvez haja algum espaço”, acrescenta.

Nelson Marconi, economista que fez parte da equipe econômica do candidato Ciro Gomes, destaca que, ainda que o Congresso seja mais conservador, o presidente eleito costuma ter, no início do mandato, mais força para colocar na pauta projetos de seu interesse. “O presidente tem de aproveitar esse momento inicial”, diz.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.