Com 10 anos de existência, o Nubank é a terceira empresa financeira mais valiosa do País, com 46% dos brasileiros adultos como clientes. Ainda assim, acredita que tem desafios importantes para equacionar nos próximos anos.
A fintech quer aumentar a fatia das receitas que vem dos serviços, mas acredita que boa parte do crescimento virá do crédito, que será a chave para conquistar de vez clientes que ainda dividem a carteira entre o cartão roxinho e os de outros bancos.
“O crédito ainda tem muito a crescer (no Nubank), dois terços de todo o lucro do sistema financeiro na América Latina vêm de crédito”, disse ao Estadão/Broadcast o CEO do Nubank, David Vélez. “Não dá para construir uma empresa (do setor) sem crédito, e talvez esse seja o desafio de muitas fintechs e bancos digitais que começaram sem crédito.”
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O Nubank acredita ter dominado os mistérios de emprestar dinheiro em um País como o Brasil, em que a economia é volátil em espaços curtos de tempo. Para provar a tese, apresenta os indicadores de inadimplência: 5,5% no primeiro trimestre, pelo critério de atrasos acima de 90 dias, abaixo dos 6% dos mesmos produtos no restante do mercado.
A fintech concede limites inicialmente mais baixos, e os eleva conforme o cliente paga as faturas em dia. A estratégia ajuda a conter riscos, mas faz com que alguns bolsões de clientes não tenham o Nubank como banco principal. A fintech quer fechar essa brecha.
“O limite de crédito continua baixo e é menor que a média de mercado”, disse Vélez. “Vemos claramente que, no momento em que o limite passa de certo patamar, o consumidor passa a nos utilizar como banco principal.”
O Nubank estima que cerca de seis a cada dez clientes que estão na base há mais de um ano o utilizem como banco principal. É um índice alto, mas a fintech acredita que pode crescer entre clientes de maior renda, que pela qualidade de crédito mais alta se tornaram os queridinhos do setor financeiro no último ano.
Novos públicos
“O público de alta renda tem necessidades diferentes, consome mais produtos que muitas vezes o público de média renda não consome”, afirmou à reportagem a CEO do neobanco no Brasil, Cristina Junqueira, também responsável pelas políticas de crescimento. O consignado para servidores públicos, lançado neste ano, é um passo importante, adiciona, mas não o único.
A virada de chave do Nubank se estende à comunicação com o público. Nos dez primeiros anos de existência, a fintech ficou tão conhecida pelo cartão de crédito roxo quanto por ações provocativas, como a que transformou uma porta giratória de agência bancária em peça de museu.
Em evento com jornalistas, na quinta-feira, 18, para tratar do aniversário, Junqueira disse que o foco do Nubank foi de “ser contra” algo para o de construir. Ao mesmo tempo, o neobanco percebeu a necessidade de buscar novos canais, para além do boca a boca que levou a amplas filas de espera — e que ajuda a controlar o custo de aquisição de clientes.
Neste ano, o Nubank passará a patrocinar o Jornal Nacional, da TV Globo, como parte desse esforço. A entrada em um dos mais caros horários publicitários do País leva a marca a um espaço que os grandes bancos conhecem bem. “É um espaço em que aparecemos pouco, e que traz um olhar novo”, disse a executiva.
Além do Brasil
Uma das prioridades da fintech neste ano é conquistar novos clientes no México e na Colômbia através da conta digital, que acaba de chegar ao solo mexicano e já tem mais de 500 mil clientes. No Brasil, o Nubank lançou a NuConta em 2017, e o produto ajudou a alavancar a operação.
O Brasil ainda é o que gera lucro. Por aqui, o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) bateu em 43% no primeiro trimestre, segundo dados da empresa, o dobro dos índices de Itaú e Banco do Brasil, os mais lucrativos dos grandes bancos. O número causou discussões entre analistas, mas a fintech considera que é a prova de que o modelo com atendimento digital é mais rentável que o dos bancos tradicionais.
Vélez acredita que no futuro, os resultados fora do Brasil trarão retorno similar. “Os bancos incumbentes (tradicionais) desses mercados têm ROEs parecidos com os bancos brasileiros”, comentou.
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