Nubank cai 5% na Bolsa de Nova York após dados do BC sobre qualidade de crédito

Números do Banco Central apontam que a fatia da carteira da fintech classificada com notas de menor qualidade de crédito subiu 0,5 ponto porcentual entre abril e maio

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Foto do author Matheus Piovesana

Em um dia nervoso nos mercados globais, os dados mensais do Banco Central fizeram as ações do Nubank caírem 5,03% na sessão desta quinta-feira, 1º, na Bolsa de Nova York. Para os investidores da fintech, a deterioração da qualidade dos ativos, que era esperada, se tornou o suficiente para penalizar a empresa financeira mais valiosa da América Latina.

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Os números do BC apontam que a fatia da carteira do Nubank classificada com notas entre E e H, as de menor qualidade de crédito, subiu 0,5 ponto porcentual entre abril e maio, para 10,2%. Entre os grandes bancos, houve estabilidade ou queda: no Itaú Unibanco, o índice ficou em 5%, enquanto no Santander Brasil, caiu 0,04 ponto, para 7,1%.

As notas são regulamentadas pelo BC, que determinam que as instituições financeiras classifiquem os empréstimos segundo o tempo de atraso nos pagamentos. Cada grau de atraso demanda que um porcentual do valor do crédito seja provisionado (reservado para que gastos previstos sejam honrados no futuro). Com isso, uma maior participação de notas menores na carteira sinaliza um provisionamento maior.

Em março, os atrasos da carteira do Nu eram de 6,3%, contra 5,5% um ano antes. O índice do Nubank tende a ser mais alto porque a carteira da fintech é concentrada em cartões de crédito e empréstimos pessoais, produtos mais arriscados, enquanto os números dos grandes bancos têm linhas como o consignado, em que a fintech ainda tem menor participação, e o crédito para grandes empresas. O que chamou atenção do mercado foi a tendência.

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BC apontou que qualidade dos ativos do Nubank está pior Foto: Tiago Queiroz / Estadão

“Acreditamos que os participantes de mercado vão monitorar muito de perto a evolução da qualidade dos ativos do Nubank, bem como de que forma o crescimento da carteira de crédito vai evoluir nos próximos meses e trimestres”, afirmou o analista Gustavo Schroden, do Bradesco BBI, em relatório a clientes.

Os dados mensais do BC não costumam fazer preço, porque mês a mês, há alta volatilidade, e porque o dado consolidado dos balanços trimestrais leva outros fatores em conta. No caso do Nubank, porém, ganharam um peso maior devido às altas expectativas do mercado para os resultados da fintech, além do nervosismo dos investidores com temores de desaceleração da economia dos Estados Unidos.

Estimativa do Goldman Sachs aponta que as ações do Nu negociam a 28,3 vezes o lucro esperado para este ano, um múltiplo superior aos de outros nomes do setor financeiro. Com isso, qualquer dado dissonante pode ser encarado pelo mercado como um escorregão no caminho rumo à “medalha de ouro” das avaliações em Bolsa.

“Embora os mercados estejam compreensivelmente nervosos devido aos altos múltiplos, a tese sempre foi sobre mais do que apenas os índices de atraso”, afirmou o analista Pedro Leduc, ao comentar os dados do BC. Em período de silêncio antes da divulgação do balanço trimestral, a fintech não se manifestou.

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O mais valioso

Com alta de 37% neste ano, o Nubank é a empresa financeira mais valiosa da América Latina, avaliada em R$ 312,3 bilhões. O Itaú, segundo colocado, vale R$ 303,4 bilhões. A valorização veio com os bons resultados da operação brasileira e as expectativas de crescimento no Brasil e nos mercados do México e da Colômbia.

O Nu vem sinalizando há alguns trimestres que a prioridade é aumentar a carteira de crédito, em especial na operação brasileira, que é a mais madura. “Não estamos em um negócio de minimizar indicadores de inadimplência, estamos em um negócio de maximizar a receita ajustada pelo risco”, disse o diretor Financeiro do banco digital, Guilherme Lago, na última divulgação.

Neste quesito, a fintech continua à frente dos competidores. Em maio, a carteira bateu em R$ 99,326 bilhões, um crescimento de 51,9% em um ano. Entre os bancos tradicionais, o crescimento mais forte foi o do Banco do Brasil, de 10,3%, para R$ 1,012 trilhão.

No primeiro trimestre, o Nubank teve lucro líquido de US$ 443 milhões, alta de 143% em 12 meses, e receita de US$ 2,736 bilhões, crescimento de 64% em um ano. O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) ficou em 27%, contra 14% um ano antes.

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