Comecemos pelo início: o que é cripto?
Uma ou duas décadas atrás, a palavra costumava ser usada como abreviação de criptografia. Mas, nos últimos anos, ela tem sido mais associada às criptomoedas. Atualmente, “cripto” quase sempre se refere a todo o universo de tecnologias que envolvem blockchains, os sistemas de livro-razão descentralizados por trás de moedas digitais, como o Bitcoin, que também servem como base tecnológica para coisas como usos da web3, NFTs e protocolos de negociação DeFi.
Ah, claro, as blockchains. Será que você poderia me lembrar, sem entrar em muitos detalhes técnicos, o que elas são?
De forma bastante resumida, blockchains são bancos de dados compartilhados que armazenam e verificam informações com criptografia de modo seguro.
Você pode imaginar uma blockchain como uma planilha do Google, exceto que, em vez de estarem hospedadas nos servidores do Google, as blockchains são mantidas por uma rede de computadores em todo o mundo. Esses computadores (às vezes chamados de mineradores ou validadores) são responsáveis por armazenar suas próprias cópias do banco de dados, adicionando e verificando novos registros e protegendo o banco de dados dos hackers.
Então, blockchains são... planilhas sofisticadas do Google?
Mais ou menos, porém há pelo menos três diferenças conceituais importantes.
Primeiro, uma blockchain é descentralizada. Ela não precisa de uma empresa como o Google administrando-a. Todo esse trabalho é feito pelos computadores na rede, usando o que é chamado de consenso distribuído – um algoritmo complexo que permite chegar a um acordo sobre o que está em um banco de dados sem a necessidade de um árbitro neutro. Para os defensores das criptomoedas, isso torna as blockchains mais seguras que os sistemas tradicionais de manutenção de registros, já que ninguém ou qualquer empresa pode derrubar a blockchain ou alterar seu conteúdo, e qualquer um tentando hackear ou mudar os registros no livro-razão precisaria invadir muitos computadores simultaneamente.
A segunda principal característica das blockchains é que elas normalmente são públicas e de código aberto, ou seja, ao contrário de uma planilha do Google, qualquer pessoa pode examinar o código de uma blockchain pública ou ver o registro de qualquer transação. (Existem blockchains privadas, mas elas são menos importantes que as públicas.)
Em terceiro lugar, as blockchains costumam ser apenas anexadas e permanentes, quer dizer, ao contrário de uma planilha do Google, os dados adicionados a uma blockchain normalmente não podem ser excluídos ou alterados após serem inseridos.
Entendi. Então as blockchains são bancos de dados públicos e permanentes sem qualquer dono?
Exatamente.
Agora me ajude a lembrar: como as blockchains estão relacionadas às criptomoedas?
As blockchains não existiam de verdade até 2009, quando um programador com pseudônimo de Satoshi Nakamoto divulgou a documentação técnica do Bitcoin, a primeira criptomoeda.
O Bitcoin usou uma blockchain para monitorar as transações. Isso foi importante porque, pela primeira vez, a tecnologia permitiu que as pessoas enviassem e recebessem dinheiro pela internet sem a necessidade de envolver uma autoridade central, como um banco ou um aplicativo, como o PayPal ou o Venmo.
Muitas blockchains ainda processam transações com criptomoedas e hoje existem cerca de dez mil criptomoedas diferentes, de acordo com o site CoinMarketCap. No entanto, muitas blockchains também podem ser usadas para armazenar outros tipos de dados, inclusive NFTs, bits de código autoexecutável conhecidos como contratos inteligentes e aplicativos, sem a necessidade de uma autoridade central.
O pessoal da tecnologia não falava havia alguns anos que as criptomoedas eram uma forma nova e fascinante de dinheiro? Mas não conheço ninguém que pague o aluguel ou as compras no supermercado com Bitcoin. Quer dizer que essas pessoas estavam… claramente... equivocadas?
Boa pergunta. É verdade que hoje quase ninguém paga por coisas com criptomoedas. Em parte, isso ocorre porque a maioria dos comerciantes ainda não aceita pagamentos com elas, e as taxas de transação altas podem tornar impraticável gastar quantias pequenas de criptomoedas no dia a dia. Além disso, como o valor das criptomoedas mais populares, como o Bitcoin e o Ether, atingiu altas históricas, tornou-se um pouco arriscado usá-las para compras no mundo offline. (Os contraexemplos geralmente mencionam situações lamentáveis, como um cara que em 2010 comprou duas pizzas usando Bitcoin, cujo valor na época era de cerca de US$ 40, mas valeria mais ou menos US$ 400 milhões hoje.)
Também é verdade que o valor das criptomoedas cresceu enormemente desde os primeiros dias do Bitcoin, apesar de elas não serem a moeda usada nas despesas do cotidiano da maioria de nós.
Parte dessa valorização se deve à especulação, pessoas comprando criptoativos na esperança de vendê-los por valores maiores no futuro; já que os bancos de dados em blockchains, que surgiram desde a criação do Bitcoin, como a Ethereum e a Solana, ampliaram o que pode ser feito com essa tecnologia.
E alguns criptofãs acreditam que os preços das criptomoedas, como o Bitcoin, mais cedo ou mais tarde vão se estabilizar, o que poderia torná-las mais úteis como meio de pagamento.
Para que as criptomoedas são usadas atualmente, além da especulação financeira?
No momento, muitos dos usos bem-sucedidos para a tecnologia por trás das criptomoedas estão na área de finanças ou em setores relacionados. Por exemplo, as pessoas estão usando criptomoedas para enviar remessas de dinheiro a familiares no exterior e os bancos de Wall Street estão usando as blockchains para liquidar transações estrangeiras.
O boom das criptomoedas também levou a uma explosão de experimentos fora do setor financeiro. Existem clubes e associações de criptomoedas, videogames cripto, restaurantes cripto e até mesmo redes de Wi-Fi pagas com criptomoedas.
Esses usos não financeiros ainda são bastante limitados. Porém os fãs das criptomoedas costumam argumentar que a tecnologia ainda é jovem e que a internet levou décadas para se tornar o que é hoje. Os investidores estão injetando bilhões de dólares em startups de criptomoedas porque acreditam que, em algum momento, as blockchains serão usadas para todos os tipos de fins: armazenar históricos médicos, monitorar direitos autorais de músicas em plataformas de streaming, ou até mesmo hospedar novas plataformas de mídia social. E o ecossistema dos criptoativos está atraindo desenvolvedores aos montes, o que é um sinal auspicioso para qualquer nova tecnologia.
Já ouvi pessoas chamando as criptomoedas de esquema de pirâmide ou esquema Ponzi. O que elas querem dizer com isso?
Alguns críticos acreditam que os mercados de criptomoedas são basicamente fraudulentos, seja porque os primeiros investidores enriqueceram à custa dos investidores posteriores (um esquema de pirâmide), ou porque os projetos de criptomoedas atraem investidores ingênuos com promessas de retornos seguros e depois quebram quando o dinheiro novo deixa de entrar (um esquema Ponzi).
Existem muitos exemplos de esquemas de pirâmide e Ponzi dentro do mundo das criptomoedas. Entre eles estão a OneCoin, uma operação fraudulenta com criptomoedas que roubou US$ 4 bilhões de investidores de 2014 a 2019, e o Virgil Sigma Fund, um fundo de hedge de criptomoedas de US$ 90 milhões administrado por um investidor de 24 anos que se declarou culpado por fraude de valores mobiliários e foi condenado a sete anos e meio de prisão.
Mas os críticos não costumam se referir a esses casos quando falam disso. Eles geralmente argumentam que as criptomoedas por si sós são um esquema de exploração, sem qualquer valor no mundo real.
Eles estão corretos?
Bem, vamos tentar entender o argumento que eles defendem.
Ao contrário de quando você compra ações, digamos, da Apple, uma aquisição que (teoricamente, pelo menos) reflete a crença de que as atividades da Apple são prósperas, comprar uma criptomoeda é mais como apostar no sucesso de uma ideia, segundo essas pessoas. Se elas acreditam no Bitcoin, compram e os preços dele sobem. Se elas pararem de acreditar no Bitcoin, elas vão vendê-lo e os preços dele caem.
Os donos de criptomoedas têm, portanto, um incentivo racional para convencer outras pessoas a comprar criptoativos. E se você não acha que a tecnologia das criptomoedas tem um valor inerente, talvez conclua que a coisa toda se assemelha a um esquema de pirâmide, no qual você ganha dinheiro principalmente recrutando outros para participar dele.
Estou sentindo um “mas” chegando.
Mas... Embora existam golpes e fraudes dentro do mundo das criptomoedas e seus investidores sem dúvidas gostem de tentar recrutar outras pessoas para comprá-las, muitos deles dirão que estão entrando nisso de olhos bem abertos.
Eles acreditam que a tecnologia das criptomoedas tem um valor inerente e que a capacidade de armazenar informações e valor em um blockchain descentralizado será atraente para todos os tipos de pessoas e empresas no futuro. Eles diriam a você que estão apostando no produto criptomoedas, não na ideia das criptomoedas, o que, de certo modo, não é tão diferente de comprar ações da Apple porque você acha que o próximo iPhone será um sucesso.
Matt Huang, um conhecido investidor, falou em nome de muitos fãs das criptomoedas quando publicou no X (antigo Twitter): “As criptomoedas podem parecer um cassino especulativo do lado de fora. Mas isso tira o foco de muitos de uma verdade mais profunda: o cassino é um cavalo de Troia com um novo sistema financeiro escondido dentro dele”.
Você pode discordar desse posicionamento, porém os investidores em criptomoedas acreditam claramente que elas valem algo.
As criptomoedas são regulamentadas?
Levemente. Nos Estados Unidos, certas exchanges de criptomoedas centralizadas, como a Coinbase, são obrigadas a se registrar como serviços de transmissão de dinheiro e seguir leis como a do sigilo bancário, que exige pedir certas informações dos clientes. Alguns países aprovaram normas mais rigorosas, e outros, como a China, proibiram totalmente a negociação de criptomoedas.
Em comparação com o sistema financeiro tradicional, as criptomoedas são pouquíssimo regulamentadas. Existem poucas regras regendo criptoativos como as “stablecoins” – cujo valor está atrelado a moedas apoiadas pelo governo –, ou mesmo orientações claras da receita federal americana sobre como certos investimentos em criptomoedas devem ser tributados. E algumas áreas das criptomoedas, como as DeFi (finanças descentralizadas), praticamente não têm nenhuma regulamentação.
Em parte, isso se deve ao fato de tudo isso ser recente, criar novas regras leva tempo. Mas também é uma característica da própria tecnologia blockchain, projetada intencionalmente para dificultar o trabalho dos governos em controlá-la.
Esta pergunta vem da (aparentemente interessada no tema) rapper Cardi B: As criptomoedas vão substituir o dólar?
Desculpe, Cardi. O dólar é a moeda de reserva do mundo e acabar com ele seria uma tarefa gigantesca e cara que provavelmente não virará realidade tão cedo. (Para dar apenas uma pequena ideia do tamanho dessa missão: todo contrato financeiro denominado em dólares precisaria ser redenominado em Bitcoin ou Ether ou em alguma outra criptomoeda.)
Também existem obstáculos técnicos que as criptomoedas precisam superar caso queiram substituir a moeda emitida pelo governo americano. Hoje, as tecnologias blockchains mais populares – Bitcoin e Ethereum – são lentas e pouco eficientes quando comparadas com as redes de pagamento tradicionais.
E para uma criptomoeda como o Bitcoin substituir o dólar, você precisaria convencer bilhões de pessoas a usar uma moeda cujo valor oscila descontroladamente, não é apoiada por um governo e frequentemente não pode ser recuperada quando é roubada.
Quais pessoas estão investindo em criptomoedas? São todos “nerds e nazis”, como disse um personagem do seriado “Segura a Onda”?
É difícil dizer quem está investindo em criptomoedas, principalmente porque muitas dessas atividades são realizadas de forma anônima ou com pseudônimos. Mas algumas pesquisas e estudos sugerem que entre os donos de criptomoedas ainda predominam homens brancos ricos.
A Gemini, exchange de criptomoedas, calculou em um relatório recente que as mulheres representavam apenas 26% dos investidores em criptomoedas. De acordo com a empresa, em média, o dono de criptomoedas é homem, tem 38 anos e ganha aproximadamente US$ 111 mil por ano.
Contudo, isso parece estar mudando e os donos de criptomoedas estão se diversificando. Uma pesquisa do Centro de Pesquisa Pew de 2021 descobriu que adultos asiáticos, negros e latinos eram mais propensos a usar criptomoedas do que adultos brancos. A adoção das criptomoedas também está crescendo fora dos EUA, e alguns estudos sugerem que isso esteja acontecendo mais depressa em países como Vietnã, Índia e Paquistão.
Minha colega Tressie McMillan Cottom argumentou que as criptomoedas, por se basearem em registros permanentes e irrefutáveis de propriedade de bens e moedas digitais, são particularmente atraentes para pessoas de grupos marginalizados que podem ter tido patrimônio tirado injustamente delas no passado.
“Se eu moro em uma comunidade onde a polícia recorre claramente à desapropriação para reivindicar minha propriedade privada e não posso fazer nada em relação a isso”, escreveu ela, “essa sensação de impotência cotidiana faria a promessa da blockchain parecer muito boa”.
No entanto, alguns estudos recentes também descobriram que um grupo pequeno de pessoas é dono da maior parte da fortuna das criptomoedas e, por isso, não é necessariamente um paraíso igualitário.
E quanto aos extremistas? Eles estão envolvidos com as criptomoedas?
Alguns, sim. Como você pode comprar e vender criptomoedas sem usar seu nome verdadeiro ou ter uma conta bancária, no início elas eram uma escolha natural para pessoas com motivos para evitar o sistema financeiro tradicional. O caso de criminosos, sonegadores de impostos e aqueles comprando e vendendo mercadorias ilícitas. Entraram também no grupo dos compradores dissidentes políticos e extremistas, alguns dos quais expulsos dos serviços de pagamento mais convencionais, como PayPal e Patreon.
Como consequência da entrada no mercado de criptomoedas num momento oportuno, alguns extremistas ficaram ricos. Uma investigação recente do Centro de Direito da Pobreza do Sul descobriu que inúmeros supremacistas brancos famosos ganharam centenas de milhares ou milhões de dólares investindo em criptomoedas.
Há milhões de donos de criptomoedas e a grande maioria deles não é de supremacistas brancos. Além disso, as mesmas características de anonimato e resistência à censura que tornam as criptomoedas úteis para os supremacistas brancos também podem torná-las interessantes para, digamos, cidadãos afegãos fugindo do Taleban. Portanto, rotular todo o movimento das criptomoedas como um grupo de extremistas seria um exagero. Independentemente disso, é seguro dizer que as criptomoedas se tornaram interessantes para todos os tipos de pessoas que preferem não negociar (ou não podem negociar legalmente) com um banco tradicional.
Outra crítica que já ouvi é que as criptomoedas são prejudiciais ao meio ambiente. Isso é verdade?
Este é um ponto bem mais complicado e uma das críticas mais frequentes às criptomoedas.
Vamos começar com o que sabemos com certeza. É verdade que a maior parte da atividade com as criptomoedas ocorre em bancos de dados blockchain que demandam quantidades enormes de energia para armazenar e verificar as transações. Essas redes usam o algoritmo de consenso distribuído “proof-of-work” (prova de trabalho), um processo que já foi comparado a um jogo de adivinhação global, jogado por computadores competindo entre si para solucionar enigmas criptográficos com o intuito de adicionar novas informações ao banco de dados e ganhar uma recompensa por isso. Resolver esses enigmas exige computadores poderosos, que por sua vez consomem muita energia.
A blockchain do Bitcoin, por exemplo, usa cerca de 200 terawatts-hora de energia por ano, de acordo com o Digiconomist, site que monitora o uso de energia pelas criptomoedas. Isso é equivalente ao consumo anual de energia da Tailândia.
E as emissões de carbono associadas ao Bitcoin foram estimadas em aproximadamente cem megatoneladas por ano, que é comparável à pegada de carbono da República Checa.
Caramba! Como os fãs das criptomoedas justificam esse tipo de impacto ambiental?
Os defensores das criptomoedas costumam contestar essas estatísticas. Eles também argumentam que:
– O nosso sistema financeiro atual também utiliza muita energia, com os milhões de agências bancárias e caixas eletrônicos que ficam inativos durante a maior parte do dia, com a mineração do ouro e com outras infraestruturas de alto consumo de energia.
– Muitos computadores usados na mineração das criptomoedas já funcionam com fontes de energia renováveis ou com energia que, de outra forma, seria desperdiçada.
— A maioria das blockchains mais recentes é construída usando consenso distribuído que consome bem menos energia do que o algoritmo “proof-of-work”.
Esses argumentos são válidos?
Em parte. É verdade que a maioria das redes em blockchains mais recentes foi projetada de uma forma que diminui consideravelmente o consumo de energia em relação à Bitcoin, e que a mudança programada da Ethereum para um novo tipo de consenso distribuído chamado “proof-of-stake” (prova de participação) reduzirá bastante sua pegada ecológica, se e quando isso acontecer.
Mas também é um pouco conveniente tirar o foco do Bitcoin, que ainda é a criptomoeda mais valiosa do mundo. Não há expectativa de o consumo de energia pela Bitcoin cair significativamente tão cedo. E mesmo que cada minerador de Bitcoin usasse somente energia renovável, ainda haveria um custo ambiental associado à manutenção da blockchain.
Dito tudo isso, é evidente que as criptomoedas como existem hoje têm um grande impacto ambiental, porém é difícil medir a dimensão dele. Muitas estatísticas citadas com frequência vêm de grupos do setor e é difícil encontrar dados e análises confiáveis de fontes independentes.
No entanto, poucos fãs das criptomoedas contestariam que as blockchains consomem muito mais energia do que um banco de dados tradicional e centralizado, da mesma forma como cem refrigeradores têm um consumo maior do que apenas um. Eles só argumentam que o impacto ambiental das criptomoedas diminuirá com o tempo e que os benefícios da descentralização compensam as desvantagens.
Entendi. E esses benefícios, de novo, são…
Alguns defensores das criptomoedas dirão que o maior benefício da descentralização é a capacidade de criar moedas, aplicativos e economias virtuais imunes à censura e ao controle de cima para baixo. “Imagine uma versão do Facebook na qual Mark Zuckerberg não poderia decidir unilateralmente expulsar as pessoas”, eles dirão a você.
Outros vão dizer que o maior benefício da descentralização é que ela permite aos artistas e criadores controlar seus destinos econômicos de forma mais direta, proporcionando a eles uma maneira de contornar os gatekeepers de plataformas como YouTube e Spotify, e vender obras digitais exclusivas diretamente aos fãs.
Entretanto, para outros, as criptomoedas são mais úteis para pessoas que não vivem em países com moedas estáveis, ou para grupos dissidentes vivendo sob regimes autoritários.
Há um milhão de outros benefícios hipotéticos da descentralização e das criptomoedas, alguns dos quais são realistas e outros, provavelmente, não.
Como começar a usar de fato as criptomoedas?
A maneira mais rápida de começar a usar criptomoedas é abrir uma conta numa exchange, como a Coinbase, na qual você pode vincular sua conta bancária e converter seus dólares americanos (ou outra moeda emitida pelo governo) em criptomoedas.
No entanto, muitas pessoas preferem criar suas próprias “carteiras”, em locais seguros onde armazenam as chaves criptográficas que desbloqueiam seus ativos digitais. Depois de colocar algumas criptomoedas na sua carteira, o processo é bem simples. Basta digitar o endereço da carteira cripto do destinatário, pagar uma taxa de transação (se for o caso) e aguardar o pagamento.
Ok, estou pronto para mergulhar de cabeça nas próximas explicações. Mas antes tenho uma última pergunta sobre a cultura das criptomoedas: por que ela é tão estranha e fechada?
Esta talvez seja a pergunta que mais me fazem. As pessoas veem seus amigos, colegas de trabalho e parentes entrando na toca do coelho das criptomoedas e saindo de lá dias ou semanas depois com uma nova obsessão, novos amigos na internet, além da aparente incapacidade de falar sobre qualquer outra coisa. (Existe até uma expressão para isso – ficar “criptopilhado”). As pessoas que apostam nas criptomoedas tendem realmente a acreditar nelas a ponto de parecerem mais pregadores de uma nova religião do que fãs de uma nova tecnologia.
Já cobri religião e não acho que a comparação seja totalmente descabida. Essa característica não é necessariamente uma coisa ruim. Muitas pessoas encontram propósito, comunidade e estímulo intelectual na religião. Para alguns, como o jornalista da Bloomberg Joe Weisenthal, as criptomoedas têm elementos semelhantes aos de uma nova religião: um fundador enigmático (o ainda anônimo Satoshi Nakamoto), textos sagrados (o “White Paper” do Bitcoin), além de ritos e rituais para ser identificado como um apoiador; como tuitar “gm” (bom dia em idioma cripto) para seus “companheiros de fé” ou colocar olhos com raio laser em sua foto de perfil.
É divertido rir das maneiras (muitas vezes constrangedoras) pelas quais os fãs das criptomoedas tentam entreter e motivar uns aos outros. Porém, focar demais o comportamento deles pode significar deixar escapar o que é genuinamente novo, empolgante ou perigoso na tecnologia em si. É por isso que, quando meus amigos me pedem conselhos sobre como abordar o tema com parentes que tomaram a pílula das criptomoedas, eu os aconselho a começar tentando entender o que despertou o entusiasmo deles.
Confira as demais matérias da série do “The New York Times”
Manual de criptoativos para iniciantes
Criptoativos para iniciantes: o que é a web3?
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